A primeira pessoa que conheci que tinha seu próprio site foi um jornalista de Washington. Naquela época, as pessoas ainda estavam tendo os primeiros contatos com o e-mail, mas o endereço do meu colega circulou rapidamente pela cidade e pelo mundo. Por quê? Bem, ficamos todos impressionados com o experimento tecnológico. Mas também estávamos absolutamente apavorados com a auto-indulgência daquele ambiente virtual. O que teria acontecido com o Joe? Ele era um cara discreto, modesto e agradável, no entanto a webpage dele o retratava como um monstro egocêntrico. Ou pelo menos era o que parecia na época, pois os elementos que nos pareciam arrogantes há oito anos agora já são considerados normais.
Pode-se dizer que esses elementos são essenciais a qualquer um que escreva em sites pessoais. No endereço da página, é claro, constava o nome dele: Joejournalist. com. É difícil lembrar por que este nome parecia pretensioso, mas parecia. Depois tinha também a lista um tanto cara-de-pau dos livros que ele havia escrito e prêmios que havia recebido, além de frases de outros jornalistas sobre como ele era maravilhoso. Tudo parecia fora de lugar e prepotente. Coitado do Joe! Será que a internet tinha deixado ele doido? Se foi isso, agora estamos todos loucos. Existe alguma coisa na web que desperta um ego descomunal nas pessoas. Quando você escreve na rede, você se expõe em níveis inimagináveis até há pouco tempo. Talvez por isso, pela inveja, pela discordância ou por pura implicância, alguns passam a lhe desejar coisas terríveis. Mesmo em momentos de quietude, os internautas não param de emitir opiniões questionáveis nem de ressaltar quão interessante eles e suas vidas são. Tudo é tão estranho...
Aprendemos que o anonimato é a qualidade e a marca registrada da internet. Como já disse aquele cão, personagem de uma tira da revista New Yorker: "Na internet ninguém sabe que você é um cachorro." A web é o lugar em que você pode interagir com outras pessoas e ter total controle sobre o volume de informação que elas possuem sobre você. No entanto, o anonimato parece que já não interessa muito aos devotos da web. Os sites de maior sucesso parecem ser aqueles onde a timidez é abandonada e todas as fichas são apostadas nas características únicas e exclusivas de cada indivíduo. Os sites de redes sociais, como o MySpace (pelo qual o magnata das comunicações Rupert Murdoch pagou US$ 580 milhões no ano passado) e o Orkut, estão repletos dessas "celebridades".
"Me interesso por música, garotas, esportes, roupas, carros e, ah, já mencionei?, garotas," escreve Lex no MySpace. Encantador, ainda que decepcionante quando se vê que o tal Lex tem 23 anos e inclui no seu perfil uma foto da sua esposa. Ou será que a bela loira na foto não é sua esposa? É possível viver uma vida de fantasia na web, mas a grande maioria dos internautas parece revelar informações pessoais da forma mais honesta possível. Mas há um certo sarcasmo que torna o fenômeno suportável... Ou não? Difícil dizer.
Navegando outro dia, encontrei o whatsDougdoing.com (ou oqueDougestafazendo.com, em inglês), que se descreve como "o melhor site para saber o que o Doug está fazendo"! O próprio Doug escreve: "Vocês devem estar pensando que eu nunca atualizo meu endereço". Parece que ele está pedindo desculpas por não nos manter informados, minuto a minuto, sobre a sua vida. Realmente, estou muito preocupado com a faculdade e os dois cursos de História da Música que Doug está fazendo e com sua falta de tempo. Lembre-se de suas prioridades, Doug, e não deixe que seus estudos atrapalhem a atualização do seu site!
O cúmulo desta tendência está no twitter.com, onde você deve responder à seguinte pergunta: "O que você está fazendo?". Às 7h47 de uma segunda-feira, por exemplo, Lynda buscou um copo de água gelada. O fato gera algumas dúvidas: A água estava gelada o suficiente? Lynda matou sua sede? Infelizmente, nós não vamos conhecer as respostas até que alguém invente outro site, desta vez sobre o que você estava fazendo antes de fazer o que faz agora. Ou um site sobre o que fará depois de terminar o que está fazendo. As opções são múltiplas... As pessoas poderiam votar nos participantes...
Alguém ligue para o Google! Estamos ricos!
Michael Kinsley é colunista do The Washington Post e editor-chefe do The Guardian nos Estados Unidos
Tradução: João Paulo Pimentel
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