Economista que criou o termo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) em 2001, Jim ONeill afirma que problemas de emergentes são específicos e que o Brasil deve observar o México e "redescobrir as reformas". "O Brasil usa muito o Estado para garantir o crescimento da economia. O Estado precisa sair do caminho", diz ele, que defende reformas para incentivar o setor privado a investir.
Como vê a atual turbulência nos países emergentes?
Não está muito claro porque os mercados ficaram tão instáveis. E o mais importante: muito do que tem sido escrito não está correto. No momento em que falamos, dois dos melhores mercados no mundo, Jacarta, na Indonésia, e Shenzhen, na China, estão subindo. Não sei porque alguns falam de uma crise nos emergentes: é uma coisa muito específica de alguns lugares.
Como divide hoje os emergentes?
Não acredito que se pode falar de todos os emergentes como um só. É por isso que criei a expressão Bric. A China é hoje maior que a Alemanha, França e Itália combinadas. Como se pode falar dos emergentes como uma coisa só? O Brasil tem suas questões, mas na minha opinião o México está mostrando alguns aspectos promissores. A Nigéria terá seu PIB recalculado em uma ou duas semanas e o crescimento será 6% maior. Há problemas na América Latina, com algumas políticas loucas na Argentina. Tivemos problemas na Índia, mas acho que já foram ultrapassados. Temos problemas na Turquia e na Ucrânia. Mas também temos problemas na França e na Itália.
O senhor tem falado do potencial do Mints (México, Indonésia, Nigéria e Turquia). O que vê?
Estou particularmente otimista a curto prazo com o México e a Nigéria. Com o aumento dos salários na China, o México se tornou o local com custo mais baixo de produção dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico] e passa por sérias reformas estruturais. Na Nigéria, veremos revisão nos dados do PIB que apontarão que já é a maior economia da África. A Turquia e a Indonésia são os países com os quais estou animado a médio e longo prazo, embora haja questões de curto prazo. Ambos têm déficit em contas correntes muito elevados, especialmente a Turquia, que também precisa resolver questões políticas.
O México parece ter ofuscado o Brasil em Davos. Como vê o Brasil hoje?
Não me preocuparia com Davos, mas é claro que é uma reflexão precisa do clima dos investidores. O Brasil deve pensar sobre o que o México está fazendo, o Brasil tem que redescobrir as reformas. O país tem estado muito distraído com a organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. O Brasil usa muito o Estado para garantir o crescimento da economia. O Estado precisa sair do caminho. São muitos gastos e muito uso do BNDES. É preciso incentivar o setor privado a investir.
E como fazer isso?
São necessárias reformas e redução de taxas de juros. É preciso tornar o Brasil mais competitivo. Para acelerar o crescimento, o Brasil precisa investimento mais forte do setor privado.