A base de usuários ativos do Facebook cresceu apenas 1,7 % em maio. Isso significa mais ou menos a metade de seu índice normal de crescimento e veio após um crescimento parecido em abril. De acordo com o Inside Facebook, blog e empresa de pesquisa que monitora o tráfego do site, grande parte do crescimento do site agora está vindo de países em desenvolvimento. Embora Brasil, Índia e México representem grandes aumentos, o Facebook chegou a perder usuários em mercados estabelecidos. Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Noruega e Rússia, todos apresentaram declínios recentes. Os números nos Estados Unidos são particularmente surpreendentes. O Facebook tinha 155 milhões de usuários ativos no país no começo de maio e apenas 149 milhões no fim do mês (o Facebook define um usuário como 'ativo' quando ele faz o login no site pelo menos uma vez no mês). Em outras palavras, 6 milhões de americanos decidiram, no mês passado, que tinham coisa melhor para fazer do que checar o Facebook.
Perigo
Isso parece uma má notícia para a rede social gigante. Podemos até dizer que parece uma notícia terrível, considerando que o Facebook supostamente está planejando uma oferta em bolsa que avaliaria a empresa em US$ 100 bilhões.
Empresas da Web, especialmente aquelas que pretendem enriquecer com publicidade, vivem e morrem por tráfego. Se o crescimento de um site se estabiliza ou parece declinar, isso sugere que algo realmente sério está acontecendo com o negocio. A história parece ser duplamente ruim para o caso do Facebook. Por anos, desafiadores do Facebook preveem que o fim da rede social esta proximo. Afinal, os usuários sempre são rápidos em ameaçar deixar o site sempre que o Facebook altera seu design ou afrouxa suas configurações de privacidade. Claro, essas ameaças parecem vazias mas será que foram apenas prematuras?
A nuvem da história das redes sociais também paira sobre o Facebook. O MySpace antes iria dominar o mundo. Será que o Facebook também vai mostrar que é apenas uma moda passageira? Não aposte nisso. Não existem sinais de que essa queda foi deflagrada por qualquer mudança recente no site. Não houve grandes redesenhos, e os únicos protestos quanto à privacidade uma agitação envolvendo o plano de opção de exclusão para seu novo sistema de reconhecimento de rosto ocorreram em junho, depois de um período coberto pelos números mais recentes. Tampouco existe qualquer sinal de que o Facebook esteja sendo ofuscado por alguma nova rede social. Claro, existe o Twitter, mas ele ja existe há algum tempo e jamais ameaçou o crescimento do Facebook. Além disso, os dois sites funcionam de forma tão diferente que é difícil imaginar que as pessoas deixariam um para entrar no outro.
Razões
Se não é a questão da privacidade, nem um novo rival, por que o Facebook está perdendo clientes nos Estados Unidos? Porque já não existe mais a quem atingir. Como aponta Eric Eldon, do Inside Facebook, o crescimento do site sempre se estabiliza quando atinge 50% da penetração de mercado dentro de um país. O Facebook agora está passando por algo sem precedentes na curta história das redes sociais ele capturou todos os usuários plausíveis em diversos países e as únicas pessoas de fora são aquelas sem acesso à internet; pessoas que têm acesso, mas não passam muito de seu tempo livre on-line; e os poucos solitários durões que juram que nunca vão entrar no site, não importa o quanto se insista.
Isso sugere que devemos alterar nossa ideia do que é uma rede social de sucesso. Sempre consideramos que o crescimento deveria ser uma forma principal para decidir se uma propriedade on-line é quente ou não. Claro, o Facebook ainda está crescendo: à medida que angaria novos membros na América do Sul e na Ásia no proximo ano, o site provavelmente ultrapassará a marca de 1 bilhão de usuários no mundo todo. No entanto, depois disso chegamos a uma rua sem saída. Existem apenas cerca de 2 bilhões de usuários de internet no mundo todo e o número de pessoas sem conexão de banda larga que querem usar a internet para gerenciar suas vidas sociais é um subconjunto desse número. Alem disso, cerca de um quinto da população mundial com acesso à internet 420 milhões de pessoas está na China, que bloqueou o Facebook.
Perto do limite
O Facebook, portanto, está rapidamente alcançando seu tamanho total de mercado possível, um momento em que seu crescimento naturalmente comecará a diminuir. Às vezes, em alguns lugares, ele pode até declinar à medida que as pessoas ficam doentes, morrem, tiram férias, perdem o emprego ou reduzem de outra forma o tempo que passam on-line. A base de usuários do Facebook pode atingir um pico em um mês e cair no seguinte.
Mas tudo bem. Uma vez comparei o Facebook a um estado imperialista como os maiores conquistadores da história, sua ascensão foi marcada por uma expansão incansável com protestos de milhares de pessoas. Mas o que um imperialista faz quando conquista tudo que há para ser conquistado? Agora que as pessoas se submeteram, o Facebook deverá entrar numa outra fase: governança. Isso significa criar mais ferramentas que tornem o site indispensável. O Facebook reconhece este imperativo. Nos últimos anos, ele expandiu com maestria os serviços além de seu próprio site com todos aqueles botões de "Curtir" e módulos de comentários proliferando em quase toda página da Web, o Facebook está se tornando um tipo de login universal.
O Facebook também prospera com os efeitos de uma rede. Conforme atinge a saturação num lugar qualquer, sua utilidade aumenta quando todos estão no Facebook, ele se torna o lugar mais conveniente para compartilhar fotos ou planejar eventos. Mesmo que o site não continue crescendo, seu rastro gigantesco já significa que ele não vai desaparecer.
Novos conceitos
Então, em vez de crescer, o que devemos considerar agora é o que os nerds de estatística da Web chamam de "engagement" (ou envolvimento) quanto tempo as pessoas passam no Facebook e como elas usam o site. Eldon, do Inside Facebook, aponta que este é um número difícil para pesquisadores coletarem (o próprio Facebook só diz que metade de seus usuários faz o login no site pelo menos uma vez por dia). No entanto, ele suspeita que em mercados estabelecidos como os Estados Unidos o envolvimento não esteja diminuindo. "Todo mundo tem um motivo para voltar para o Facebook com frequência", ele diz.
Mesmo assim, esta não será uma história empolgante. Se eu lhe disser que apenas 600 mil pessoas entraram no Facebook ontem o que aconteceu durante o pico do site , parece que estou descrevendo uma força imbatível. Mas, em vez disso, se eu lhe disser que o Facebook teve 200 mil registros de usuarios ontem e 150 mil deserções bem, parece apenas mais um dia qualquer na Web. Para o Facebook, a empolgação inicial chegou e já foi embora. "Não é ruim conquistar o mundo inteiro e não ter outro lugar para conquistar", aponta Eldon. Mesmo assim, pode ser um pouco enfadonho. Ele acrescenta: "Tenho certeza de que Júlio César sentiu uma pontada quando conquistou a Gália e viu que era só aquilo mesmo".
Essa matéria foi escrita por Farhad Manjoo, colunista de tecnologia da Slate, onde este artigo foi originalmente publicado. Manjoo é autor de True Enough: Learning To Live in a Post-Fact Society.
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