A Columbia Sportswear passou anos criando jaquetas de esqui e botas para caminhada que resistem às intempéries: vento, chuva, neve e, cada vez mais, tarifas.
Localizada em uma área ampla adornada com caiaques pendurados no teto, a loja de 80 anos há tempos protege suas roupas para atividades ao ar livre dos caprichos de Washington, utilizando o que a empresa chama de “engenharia tarifária” – ajustar seus produtos para diminuir os impostos de importação sobre materiais vindos de fora dos Estados Unidos, como solas de borracha, zíperes e nylon impermeável.
Mas, agora, a Columbia está preocupada com a possibilidade de que seus métodos estejam ameaçados por um presidente cuja estratégia comercial deixa pouco espaço para as empresas americanas que produzem e vendem globalmente.
O uso que Trump faz das tarifas – um modo brusco de revitalizar a indústria nos Estados Unidos – vem exigindo mudanças em grandes empresas multinacionais, embora nem sempre sejam as mudanças que o presidente espera. A Harley-Davidson e a Micron estão transferindo sua produção para fábricas na Europa ou partes da Ásia, enquanto outras adiam planos de expansão em meio à incerteza comercial.
Na Columbia, a resposta é utilizar ainda mais a longa experiência da empresa em enfrentar o emaranhado de restrições comerciais nos Estados Unidos e no exterior. Cada colete de lã e luva impermeável com o logotipo da marca é fabricado no exterior, e a empresa depende de um sistema de acompanhamento de seus estilistas por sua equipe de especialistas em comércio, que recomendam soluções que podem ajudar uma peça de roupa a contornar tarifas.
Em uma sala de conferências cheia de amostras, Jeffrey W. Tooze, vice-presidente de comércio global da Columbia, mostrou como uma pequena mudança no design pode significar um grande lucro com um determinado produto.
A adição de uma bainha superfina de tecido à sola de uma bota ou de um sapato ajuda a contornar uma tarifa de 37,5 por cento nas solas de borracha importadas pelos EUA. A sola de tecido é tributada em 12,5 por cento. (Os clientes percebem que o tecido se desgasta em alguns dias, revelando a sola de borracha por baixo.)
Uma jaqueta impermeável gera uma tarifa de 7,1 por cento, enquanto uma que não foi impermeabilizada tem uma tarifa de 27,7 por cento. Um casaco com pelo menos 10 por cento de pluma de ganso, em peso, tem uma tarifa de apenas 4,4 por cento.
Essas distinções não se relacionam à segurança nacional ou às preocupações econômicas – são o resultado de longas campanhas de lobby destinadas a proteger determinados fabricantes. Conhecê-las e utilizá-las tornou-se parte da cultura corporativa da Columbia desde que Tooze se juntou à empresa em 2001.
“Faz parte de um processo de pensamento, parte do pensamento criativo, parte do DNA”, disse ele.
O que a Columbia não está fazendo, em grande parte, é trazer empregos de produção para os Estados Unidos, como Trump gostaria.
Tim Boyle, o executivo-chefe, disse em uma entrevista recente que não havia nada que o presidente pudesse fazer para trazer sua produção para os Estados Unidos, onde os custos seriam mais elevados e as habilidades de fabricação de vestuário diminuíram após décadas de terceirização.
“Não tem jeito. Zero. Nada”, disse Boyle.
Peter J. Bragdon, conselheiro geral da Columbia, concorda com a declaração. “Já temos tarifas enormes sobre os produtos”, disse ele.
A Columbia costumava fazer todos os seus produtos em Portland. Mas, conforme a empresa crescia, indo de US$ 1 milhão em vendas anuais para US$ 25 bilhões, foi buscar trabalho mais barato no exterior para produzir seus gorros, luvas, jaquetas de inverno, botas de caminhada, calças de camping e equipamentos de esqui.
Boyle disse que a empresa se inspirou em outra empresa do Oregon, a Nike, adotando a abordagem de “projetar e comercializar a mercadoria a partir de uma localização central – EUA, Portland, ou qualquer outra –, produzi-la onde deve ser produzida no mundo, e vendê-la em todos os lugares”.
Hoje, pouco menos de 40 por cento dos negócios da Columbia estão fora dos Estados Unidos, e todos os seus produtos são feitos no exterior. Suas maiores vendas são na Ásia, na Europa e no Canadá. Há uma joint venture na China, que a empresa está em via de comprar de sua parceira chinesa. O Vietnã é seu maior fornecedor. Um quarto de seus calçados vem da China.
Cada etapa da cadeia de suprimentos enfrenta tarifas.
Para importar os produtos acabados para lojas nos Estados Unidos, a Columbia precisa dominar uma antiga lei comercial, a lei Smoot-Hawley de Tarifas. Essa lei de 1930 aumentou tarifas na tentativa de proteger as empresas americanas, mas, posteriormente, os economistas acabaram apontando-a como uma das causas principais da Grande Depressão. Muitas de suas medidas foram excluídas, mas algumas permanecem, particularmente aquelas que afetam o setor de vestuário.
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Além das imposições ao aço e ao alumínio importados, a administração de Trump impôs tarifas a artigos chineses no equivalente a US$ 250 bilhões, com a possibilidade de tributar todas as importações da China. Outros países retaliaram – a China, a Europa, o Canadá e o México –, tributando produtos feitos nos EUA que entram em seus países, incluindo vestuário.
Até agora, a Columbia não sofreu muito, em parte porque a rodada inicial das tarifas chinesas basicamente evita seu segmento. Mas a empresa se preparou para a segunda etapa, que provavelmente afetaria muitas de suas importações, particularmente os calçados chineses.
A Columbia está se preparando para cada contingência. Entre as questões que contempla estão: É possível transportar os produtos de suas fábricas para as lojas com rapidez, antes que as novas tarifas comecem a vigorar? É possível alterar o modo de fabricação de seus produtos – digamos, aumentando a produção no Vietnã e diminuindo na China?
“Acho que fizemos umas duas reuniões por dia para falar sobre isso, todos os dias, nos últimos dois meses”, disse Emily Vedaa, gerente de comércio global da Columbia. “Como podemos suavizar o golpe?”
Trump justifica sua abordagem argumentando que qualquer perda econômica de curto prazo levará ao crescimento em longo prazo. Ele também falou com empresas como a Apple, dizendo-lhes que mudem suas fábricas caso não gostem de seu plano.
“Faça seus produtos nos Estados Unidos em vez da China. Comece a construir novas fábricas agora. Que emocionante!”,Trump disse em um tuíte em setembro.
Mas empresas como a Columbia dizem que não podem ajustar a forma como fazem negócios de uma hora para a outra para lidar com mudanças políticas, especialmente quando elas não estão definidas. Por exemplo, Trump ameaçou a China com tarifas adicionais ao mesmo tempo que dizia que um acordo poderia ser feito.
Thomas B. Cusick, diretor de operações da Columbia, disse que a empresa já recebeu toda sua remessa de outono, bem como o estoque extra de mercadoria para a temporada de Natal. Além disso, já comprou todos os produtos para a próxima estação e reservou capacidade na fábrica para a linha do outono de 2019. Todas as mudanças feitas em resposta às atitudes de Washington só iriam entrar em vigor em 2020 – e isso significa grandes investimentos que a empresa faria apenas se estivesse certa de que compensariam em longo prazo.
Quase todos os grandes varejistas americanos estão em uma situação semelhante: 98 por cento dos calçados comprados no país são feitos no exterior e 97 por cento das roupas vendidas nos Estados Unidos são produzidas em outros países.
“Essa migração para a Ásia acontece desde os anos 60. E assim todo mundo que fez investimentos em máquinas para fazer tecido ou algo mais extremo, tipo plástico para fazer nylon ou qualquer tipo de produto têxtil – todos esses investimentos foram feitos na Ásia. Toda a tecnologia”, disse Boyle.
Além das fábricas, a técnica de fabricação também foi para fora.
“Desenhar essa camisa que você está usando é uma coisa. Você faz o esboço em um pedaço de papel. Mas, para ter certeza de que ela vai cair bem em alguém, é preciso experiência técnica em alfaiataria, que não existe mais aqui. Você poderia criar umas coisas que ninguém conseguiria usar”, disse Boyle.
Ele admitiu que, se Trump de fato impuser mais tarifas à China, a Columbia não terá escolha além de cobrar mais, apesar da longa experiência da empresa de se ajustar aos ventos comerciais.
“Os preços vão subir e vamos repassar os custos. Não temos outra opção”, disse ele.
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