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Varejo

O jeito paranaense de ir às compras

O farmacêutico entra na padaria depois de um dia de trabalho e pede um litro de leite. A atendente logo dispara: "integral, desnatado ou semi?" Vamos lá, a vida é feita de escolhas. "Manda o desnatado." "Elegê, Frimesa ou Parmalat?" "Não tem Batavo?" "Tem só o semi-desnatado." "Pode ser." Seu Luiz escolheu por costume. "O senhor só compra produtos paranaenses?", pergunta logo a repórter. "Não, nem sabia que era daqui."

A história reflete um pouco do que o consultor em marketing Elói Zanetti chama de "autofagia paranaense". Segundo ele, o desinteresse pelo sucesso das empresas e pessoas do estado é uma marca registrada. "Até mesmo os bichos do Paraná que fizeram a propaganda do Bamerindus eram pessoas que fizeram sucesso fora do Paraná", conta. A isso ele atribui o desperdício das nossas marcas, como ocorreu com as geladeiras Prosdócimo, que foram renomeadas após a aquisição pela Electrolux. Também credita o fato de o consumidor aceitar as grandes redes de supermercados, mesmo que a maior parte dos produtos venha, por exemplo, de São Paulo.

A rede Pão de Açúcar adotou plaquinhas que acompanham os produtos nativos e informam: "Produto do Paraná". Mas há um detalhe: todas as compras da rede são centralizadas em São Paulo, mesmo do café Damasco ou do chá Matte Leão. Os produtos vão para o centro de compras e depois voltam. Apenas perecíveis são comprados aqui.

Já as redes tradicionais que sobreviveram às aquisições por grandes redes devem permanecer no mercado. Na análise do professor da Unifae Gilmar Lourenço, bandeiras como Mufatto e Condor adotaram um padrão de gestão internacional e ficaram muito parecidas com as maiores. "Elas operam hoje com logística rápida, produtos baratos e qualidade garantida", diz. Ou seja: as lojas hoje são muito semelhantes, independentemente do tamanho. A líder do setor, a americana Wal-Mart, adquiriu recentemente da portuguesa Sonae toda a rede Mercadorama, em Curitiba. "Se forem inteligentes, manterão a marca, com a qual o consumidor tem história", aconselha Zanetti.

O porte das lojas, menor do que o dos hipermercados que a rede já tinha na cidade, indica outra tendência: a grande rede que se "disfarça" de pequena para oferecer maior aconchego ao cliente. "Isso ocorre muito no setor de frutas e verduras, que imita uma feira, com barraquinhas", compara o consultor Moacir Moura. (HC)

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