Quando o assunto é a produção de vinhos, muitas pessoas pensam em grandes vinhedos, barris de carvalho e adegas enormes. Mas aqui na Virgen de las Viñas, na maior região produtora de vinhos da Espanha, o vinho é armazenado em enormes barris de aço com mangueiras que levam a bebida para caminhões-pipa. Os funcionários se revezam em três turnos para manter os trabalhos 24 horas por dia.
“Não elaboramos o vinho aqui – nós produzimos o vinho. Isso aqui é antes de tudo uma fábrica”, afirmou Isidro Rodríguez, diretor técnico da empresa.
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Esse é o lado menos romântico da produção de vinho na região de Castilla-La Mancha, que é responsável por metade do vinho produzido na Espanha. A maior parte do vinho é vendida a granel e transportada para o exterior, onde pode ser misturado com outros vinhos e até mesmo exportado novamente.
Embora os produtores da Espanha tenham feito enormes quantidades de vinho, alguns começam a repensar se aumentar o volume é a melhor estratégia, já que a superprodução acabou com os preços e com a reputação dos vinhos do país.
“Castilla-La Mancha é a típica região agrícola de produção intensiva, mas que nem sempre faz vinhos de grande qualidade”, afirmou Miguel Ángel Benito, sommelier e diretor técnico de um museu do vinho em Peñafiel, em Castela e Leão, outra região produtora de vinhos.
“A Espanha tem se especializado no mercado atacadista, já que existem milhões de pessoas que adoram vinho, mas não têm dinheiro para comprar garrafas muito caras.”
Ainda assim, alguns dos grandes produtores de Castilla-La Mancha estão percebendo o lado ruim dos excessos.
“Aumentamos consideravelmente nossa exportação, mas acho que fizemos isso rápido demais e agora estamos com uma pirâmide de preços toda errada, com muitos vinhos vendidos abaixo do valor correto”, afirmou Rafael del Rey, diretor do Observatório Espanhol do Mercado de Vinho, um instituto que pesquisa e promove os vinhos do país.
Nos últimos anos, a França e a Itália se tornaram as maiores nações produtoras de vinho do mundo, com a Espanha em terceiro lugar, muito à frente de países como Estados Unidos, Chile e Austrália.
Os produtores atacadistas de Castilla-La Mancha têm ótimas razões para sentir orgulho de suas técnicas de irrigação, da colheita mecanizada e dos sistemas de armazenamento que criaram com a ajuda de subsídios da União Europeia. Aliado a uma mão de obra relativamente barata, a infraestrutura nacional permitiu que eles baixassem o preço do vinho à metade do valor cobrado pelos vinhos franceses.
Contudo, del Rey faz uma comparação reveladora entre Espanha e Itália. No ano 2000, ambos os países exportavam o vinho a uma média de valor similar, 1,41 euros por litro. Em 2014, a Itália estava vendendo seus vinhos por 2,5 euros o litro, ao passo que a Espanha vendia o seu a 1,17 euro por litro em média.
Nesse período, as exportações italianas aumentaram 15 por cento em volume e a da Espanha 154 por cento. Porém, o faturamento espanhol com as exportações foi de apenas 2,6 bilhões de euros, ou cerca de metade do faturamento italiano.
O vinho vendido a granel pela Espanha superou o Italiano no mercado europeu, especialmente na França. Atualmente, a Espanha vende 500 milhões de litros para a França, 90 por cento dos quais no atacado, a um valor médio de 40 centavos de euro por litro.
A França exporta atualmente cerca de 250 milhões de litros de vinho a granel, a uma média de 1,24 euro, ou três vezes o valor médio do vinho espanhol, afirmou del Rey.
“Não estou dizendo que o mesmo vinho que saiu da Espanha foi exportado novamente na França, mas é inegável que uma parte do vinho espanhol passa a integrar as exportações francesas, com muito valor agregado.”
Cesáreo Cabrera del Prado, presidente da El Progreso, uma grande produtora em Castilla-La Mancha, afirmou que entende que alguns agricultores franceses estejam irritados, “mas cada país tem suas vantagens”.
Enquanto a Espanha tem obtido custos de produção de vinho mais baixos que os da França, afirmou, “os produtores de laticínios da França fizeram o mesmo em relação ao leite espanhol”.
A El Progreso engarrafa apenas 5% do vinho que produz, o mais caro dos quais é vendido por cerca de 6 euros a garrafa. A maior parte do vinho da empresa é colocado em caminhões-pipa e alguns são colocados em sacos plásticos. Os sacos de até 20 litros são acondicionados em caixas de papelão que muitas vezes já vêm com rótulos estrangeiros.
Em um dos cantos do armazém da El Progreso, por exemplo, existem caixas com marcas norte-americanas, embora elas contem com um selo de origem que diz: “Produzido na Espanha”.
Entretanto, algumas regiões produtoras de vinho na Espanha mudaram de tática.
Há duas décadas, as autoridades de La Rioja, no norte da Espanha, criaram leis que exigem que os produtores engarrafem o próprio vinho. Essa medida foi questionada e chegou a ser julgada no Tribunal de Justiça Europeu, que no ano 2000 rejeitou um processo aberto por um produtor que gostaria de exportar vinho a granel de La Rioja.
Será que Castilla-La Mancha poderia seguir os passos de La Rioja? “Parece bom, mas seria impraticável”, principalmente por conta do tamanho dos vinhedos de Castilla-La Mancha, afirmou Javier de la Fuente, gerente geral do conselho regulatório de La Rioja.
Quando La Rioja criou a lei, o vinho a granel correspondia a apenas 5 por cento da produção do estado, ao passo que em Castilla-La Mancha, “muitos dos grandes produtores dependem da venda por atacado e de suas economias de escala”.
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