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O novo sai mais barato que o conserto

Ianuzzi preferiu comprar uma impressora nova a consertar a antiga | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Ianuzzi preferiu comprar uma impressora nova a consertar a antiga (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)
Antes de comprar calçado novo, Tatiana já calcula custo do ajuste |

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Antes de comprar calçado novo, Tatiana já calcula custo do ajuste

A disparada dos preços dos serviços provoca distorções entre o valor do produto e de seu conserto. Muitas vezes compensa mais comprar um refrigerador novo do que levar para a assistência técnica o antigo que está com defeito. Levar um vestido à costureira ou um calçado à sapataria equivale a tirar do bolso quase o mesmo valor desembolsado pela peça. Mesmo em bens duráveis de maior valor, o serviço pode causar dor de cabeça: levar o carro na oficina ficou em média 9,56% mais caro nos últimos 12 meses, enquanto os preços dos veículos tiveram queda de até 6,3%.

Sustentados principalmente pelo aumento da demanda e dos custos com mão de obra, os preços dos serviços sobem com força desde 2010. No período de 12 meses encerrado em março, eles subiram 8,71%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é medido pelo IBGE e serve de referência para o regime de metas de inflação. O índice geral de inflação ficou em 5,24% na mesma comparação.

A diferença de preços entre produtos e serviços cai também porque alguns bens têm registrado deflação, ou seja, estão ficando mais baratos – caso dos eletroeletrônicos e eletrodomésticos. No último ano, o preço de um refrigerador novo caiu em média 3,72%, enquanto que o custo do conserto subiu 9,12%. Um televisor está em média 17,38% mais barato, ao passo que o conserto está 7,52% mais caro.

Nova demanda

Para Daniel Lima, analista da Rosenberg Consultores Associados, o aumento do número de pessoas na classe C gerou uma nova demanda para o setor de serviços. "Como são atividades que não são monitoradas, elas refletem mais a pressão da demanda sobre a oferta. E mais pessoas estão consumindo serviços", diz.

A inflação de serviços deu sinais de arrefecimento mais recentemente: seu avanço caiu de 1,25% em fevereiro para 0,52% em março. Desde janeiro o ritmo de alta vem diminuindo, mas a projeção dos analistas é que ela deve voltar a ganhar velocidade nos próximos meses, embalada pelo baixo nível de desemprego e pelo aumento do salário mínimo. "Mesmo com o aumento de preços, o emprego em alta e a renda ainda fazem com que as pessoas tenham confiança e continuem a consumir", diz Lima. A Rosenberg estima que a inflação de serviços fique em 8,6% em 2012, para um IPCA cheio de 5,2%.

Lucas Dezordi, economista-chefe da Inva Capital, estima que, por pelo menos mais dois anos, o Brasil vai conviver com a inflação dos serviços superior à média geral. O crescimento da economia e do crédito a partir de 2009, juntamente com o baixo nível de desemprego, colocaram o país em um outro patamar de consumo. "A inflação dos serviços é um fenômeno comum aos países em desenvolvimento" afirma.

Menos fôlego

O setor de serviços tem como característica uma facilidade maior para repassar ao consumidor a alta dos custos de mão de obra, já que não enfrenta a concorrência com importados, como é o caso da indústria. Segundo Dezordi, porém, a pressão dessas despesas tende a perder fôlego. "Os salários subiram a um ritmo de 10% ao ano. Mas acredito que essa taxa deva cair para 5%", diz.

Por isso, na avaliação do economista, a inflação do setor de serviços deve perder um pouco o fôlego até o próximo ano, apesar de ainda estar acima da média. "Acredito que em um ano, mantidas as condições atuais de demanda e emprego, ela deva convergir para algo próximo de 6%", diz.

Preço alto faz consumidor mudar hábitos

A alta dos preços dos serviços faz com que muitos consumidores mudem hábitos de consumo e prefiram descartar o produto com defeito e comprar um novo.

Foi o que fez o comerciante Francesco Iannuzzi. Sua impressora doméstica tinha parado de puxar papel e ele procurou uma oficina para consertar o produto. "O orçamento do serviço era de R$ 95. A minha sorte foi que, a caminho da assistência técnica, passei por uma loja e vi novos modelos sendo vendidos a R$ 105", lembra. Além de custar quase o mesmo preço do reparo, o novo modelo é mais moderno e ocupa menos espaço. "O cálculo que estou habituado a fazer é que, se o serviço custa mais do que 60% do valor do produto, não vale a pena fazer o conserto", explica Iannuzzi.

Algo semelhante ocorre com peças de roupa e calçados. A psicóloga Tatiana Kugler conta que já pagou o valor integral de alguns produtos só para ajustá-los. "Sou muito magra e sempre que compro botas preciso remodelar o cano do calçado", explica. Ela já chegou a gastar R$ 80 com o ajuste de um sapato novo, mais que os R$ 70 que pagou pelo produto.

Tatiana conta que, sempre que se interessa por alguma peça, calcula o valor do serviço para ver se vale a pena fechar a compra. Ela já pensou em comprar uma máquina de costura para fazer reparos mais simples. "Tenho o mesmo problema com calças, e cada dia está mais caro arrumá-las."

Colaborou Pedro Brodbeck, especial para a Gazeta do Povo

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