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Mineração

O otimista que busca jazidas

JC Cavalcanti esbanja tranqüilidade em meio à turbulência financeira que derruba a cotação dos produtos que prospecta. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
JC Cavalcanti esbanja tranqüilidade em meio à turbulência financeira que derruba a cotação dos produtos que prospecta. (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Rabiscando em uma folha de papel, o senhor de barba e cabelos brancos traça as letras da palavra "crise". Sobre a letra "s", escreve "a" e sobre o "e", coloca um "r", o que resulta em "criar". "Ser criativo e trabalhar. É isso o que precisamos fazer em épocas difíceis." A dica não é de qualquer um. Trata-se de um brasileiro que está entre os 20 mais ricos do país. João Carlos Cavalcanti, um geólogo de 60 anos, entrou para o seleto grupo de bilionários após seu sucesso como caçador de jazidas.

JC, como é conhecido, localizou quase uma dezena de jazidas de minério de ferro e níquel nos últimos anos, a maior parte na Bahia, sua terra natal, e também em Minas Gerais e Tocantins. Estima-se que, juntas, elas produzirão até 10 bilhões de toneladas de minério. A maior parte dos ativos, segundo revistas especializadas, foi vendida para um conglomerado siderúrgico, possivelmente o Grupo Arcelor Mittal, o maior do mundo. Ele não comenta nada, por conta de um contrato de confidencialidade. E também não fala sobre sua fortuna, estimada em cerca de US$ 1,2 bilhão.

Em meio à turbulência financeira, que derrubou as cotações das commodities mundo afora, JC dizia, na terça-feira passada, durante o 44º Congresso Brasileiro de Geologia, realizado em Curitiba, que não se preocupava com a crise. Para ele, a baixa de preços ficaria restrita a alguns minerais, como prata, cobre e níquel. Em vez de canos de cobre ou níquel, as pessoas podem optar por usar cano de plástico, mais barato, exemplifica. "Mas as pessoas vão continuar comendo, vão precisar de panela, de enxada, geladeira, vergalhão para construir, para erguer as construções, que são todas verticalizadas."

Simpático e um pouco vaidoso, JC gosta das coisas boas da vida – coisas caras, diga-se. É conhecido por ter um punhado de carros importados e obras de arte. Limpando, organizando e planejando tudo isso, está um contingente de 115 funcionários pessoais. Todos bem remunerados, bem tratados e respeitados. Isso, para o geólogo, é uma das várias trilhas essenciais para o sucesso, assim como a conduta sóbria que adota: não bebe, não come carne e não fuma.

Caça ao tesouro

Após cursar a faculdade – onde não era "um aluno brilhante, mas, certamente, o mais curioso" – JC trabalhou em empresas privadas e no poder público até 1986, quando decidiu partir para um vôo solo, utilizando suas economias. O modo de localizar as jazidas é bastante peculiar. Primeiro são feitos estudos dos mapas geológicos. Se ele enxergar potencial em alguma área, solicita ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) uma outorga para explorar o subsolo. Quando chega ao local, antes de fazer perfurações, reserva um tempo para meditar. "Eu trabalho muito mais com o que eu não vejo do que com o que eu vejo", diz o geólogo místico.

Não tinha hora para trabalhar. Geralmente, aproveitava feriados para fazer as incursões. Convidava amigos e colegas, que poderiam virar sócios em futuros empreendimentos. Mas ninguém ia junto. "Todo mundo quer ter o que você tem, quer ser o que você é, mas não quer fazer o que você faz." Entre as coisas que JC tem atualmente destacam-se as participações em três grandes grupos: Votorantim Novos Negócios, IRX, em parceria com Eike Batista, e GME4, em sociedade com o Banco Opportunity, de Daniel Dantas. Sobre esses dois empresários, que nos últimos meses foram alvos de operações da Polícia Federal, o baiano diz que convive com grandes homens e que eles, às vezes, se metem em conflitos políticos.

Com quase 40 anos de profissão, JC aprendeu a relevar opiniões alheias, nem que sejam da maioria. Seus colegas de classe, por exemplo, sempre o consideraram um tanto exótico. Mas, durante o congresso realizado em Curitiba, muitos o procuraram para trocar uma idéia e até tirar fotos. "Antes me zombavam. Hoje me reverenciam."

Três dias depois de JC conversar com a Gazeta do Povo, a Vale anunciou a redução da produção de minério de ferro, níquel e alumínio em 30 milhões de toneladas, um corte de 9,2%. O geólogo bilionário não deve ter ficado muito preocupado. Para ele, as boas oportunidades sempre existem.

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