Empresas que têm urgência em crescer voltaram a ver na oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) uma alternativa viável para arrecadar recursos. Nos próximos três anos, sete empresas paranaenses pretendem abrir capital com o lançamento de ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). E outras cinco estudam fazer o mesmo em até cinco anos, embora apontem a necessidade de mais informações para a tomada de decisão definitiva.
Os dados fazem parte da pesquisa "O Processo de Construção de Valor para sua Empresa", resultado de uma parceria entre a Câmara Americana de Comércio (Amcham-Brasil), juntamente com a consultoria Ernst & Young Terco e a BM&FBovespa. O levantamento ouviu 106 organizações brasileiras de diversos setores, das quais 16 paranaenses, com faturamento entre R$ 101 milhões a R$ 400 milhões. O objetivo era conhecer o grau de preparação das empresas para acessar o mercado de capitais e investidores diversos.
"Os níveis de crescimento que os empresários projetam para os próximos anos são de ritmo chinês. Com isso, as empresas estão mais abertas na busca de fontes de financiamento para fazer frente a essa necessidade de capital", avalia o sócio líder da área de IPO da Ernst & Young Terco, Paulo Sérgio Dortas. Para ele, esse movimento tende a trazer um maior nível de maturidade para a economia paranaense. "Existem empresas catalizadoras da economia do estado que poderiam desaparecer. Com a abertura de capital essas empresas ficam mais fortes para investir no crescimento."
O executivo explica que o tempo de maturação do processo gira em torno de três anos, do momento em que a empresa decide pela abertura de capital até o IPO. É com esse horizonte que trabalha o grupo paranaense Hübner, que atua nas indústrias siderúrgica e de autopeças. Atualmente, os grandes investimentos do conglomerado são financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou através de seus agentes financeiros.
"A vantagem desta modalidade é a taxa de juros de 5,5% ano. É um recurso baratíssimo, se comparado com outras modalidades de empréstimo", explica o diretor financeiro do grupo Hübner, Edson Mileke. O problema, diz ele, é que esse processo é lento e burocrático. "A liberação de recurso para a compra de um equipamento no valor de R$ 1 milhão pode levar cerca de 60 dias, depois de tudo autorizado. Dependendo do projeto, o processo pode se arrastar por seis meses."
Para Mileke, a necessidade de expansão da empresa torna a abertura de capital quase compulsória. "Competimos diretamente com Guerra e Randon [ambas com capital aberto], e também queremos ir por este caminho. Se não dependo de empréstimos diretos, fica mais fácil trabalhar", considera. "Até hoje o grupo Hübner cresceu reinvestindo recursos do próprio grupo e demorou 30 anos para chegar aonde está. Podemos fazer os próximos 30 anos em 5. O objetivo do grupo é se fortalecer e crescer, e não ter 100% de controle sobre o capital", justifica.
Há dois anos, a rede paranaense de estacionamentos Estapar planejava abrir capital em 2010, mas os planos foram abortados em função do estouro da crise econômica. Para financiar a expansão, a empresa optou por uma operação com o banco de investimentos BTG Pactual, que comprou 50% do controle da Estapar por meio de um fundo de private equity.
"Essa associação, além de ter colocado a Estapar num patamar de sofisticação financeira, preparou a empresa para crescer em um ritmo alucinante. Hoje não faltam recursos", diz o presidente do conselho da Estapar, Hélio Cerqueira Junior. Segundo ele, a empresa fechará 2010 com investimentos de R$ 220 milhões na aquisição de imóveis e de outras empresas neste ano, a Estapar assumiu o controle de cinco companhias do setor.
Segundo Cerqueira Junior, a empresa continua se estruturando para abrir capital, movimento que deve se concretizar nos próximos três anos. "Em algum momento vamos ao mercado. Não tem como não fazer isso", afirma.
Investidores não vão faltar, diz consultor
Se as 16 empresas paranaenses ouvidas pela pesquisa da Amcham e Ernst & Young Terco decidirem abrir capital nos próximos cinco anos, não faltará dinheiro nem investidores interessados. É o que garante o sócio líder da área de IPO da Ernst & Young Terco, Paulo Sérgio Dortas. "Um estudo global feito com os principais fundos que compram IPOs indica que cerca de 15% dos recursos investidos no mundo todo vêm para o Brasil. O país fica atrás apenas da China e da Índia como destino dos investidores."
Segundo ele, esses investidores buscam empresas em setores com grande potencial de crescimento, com destaque para as áreas de laboratórios farmacêuticos, prestação de serviços na esteira da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 e operações que envolvam a exploração do pré-sal.
Maturidade
Curitiba apresenta o segundo maior porcentual de respostas em relação à necessidade de mais informações para a abertura de capital (50%), atrás apenas de Goiânia (55%). Para Dortas, isso revela um nível de maturidade menor dos empresários paranaenses em relação a outras praças. "Talvez o empresário ainda fique olhando para o próprio umbigo e não se interesse no que está acontecendo a sua volta. Agora, com a necessidade de crescimento, as empresas estão mais abertas e dispostas", avalia.
Das 16 empresas paranaenses consultadas pela pesquisa, mais da metade cresceram acima de 10% ao ano nos últimos cinco anos, sendo que 20% delas tiveram expansão entre 25% e 50%.
Em relação ao futuro, essas empresas, consideradas de "alto impacto", estão otimistas. A grande maioria (81%) projeta incrementar sua receita bruta em mais de 10% ao ano nos próximos cinco anos, 13% estimam avançar entre 25% e 50% e 6% esperam crescimento superior a 50%. As 19% restantes dizem que a taxa de expansão ficará entre 5% e 10% ao ano.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast