Segurança aproxima-se de agência do Banco de Chipre, fechada devido a um feriado bancário| Foto: Yiannis Nissiotis/Reuters

O Parlamento do Chipre rejeitou ontem a proposta de um imposto sobre depósitos bancários como condição para o resgate europeu, colocando em xeque os esforços da zona do euro para ajudar a mais recente vítima da crise da dívida no bloco monetário. A rejeição, que ocorreu 36 votos contrários, 19 abstenções e um parlamentar ausente na votação, deixou a ilha do leste do Mediterrâneo, um dos menores Estados do continente, à beira do colapso financeiro.

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Além disso, a decisão representou forte golpe para a zona do euro, composta por 17 nações. Nos últimos três anos, legisladores na Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália vinham aceitando medidas impopulares de austeridade para assegurar ajuda da Europa. Mas a exigência europeia para que o Chipre quebrasse práticas anteriores e adotasse o imposto sobre as contas bancárias como parte do resgate de 10 bilhões de euros da União Europeia (UE) deixou os cipriotas furiosos e agitou os mercados financeiros.

Após a votação, o Banco Central Europeu (BCE) reforçou seu compromisso de prover liquidez na medida do necessário e dentro das regras. Uma multidão em festa fora do Parlamento aplaudiu o resultado da votação.

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O presidente recém-eleito, Nicos Anastasiades, afirmou a repórteres mais cedo que esperava que os parlamentares rejeitassem o imposto sobre depósitos bancários, "porque eles sentem e acham que é injusto e contra os interesses do Chipre". O texto inicial previa a cobrança de 6,7% sobre todos os depósitos até 100 mil euros (R$ 260 mil), e de 9,9% para valores superiores. Diante da reação negativa dos cipriotas e dos mercados, a proposta foi alterada, isentando do novo imposto os depósitos abaixo de 20 mil euros (R$ 56 mil). Mesmo assim, a taxação foi rejeitada pelos parlamentares. A medida afetaria depositantes cujos depósitos vinham com uma garantia estatal.

Contexto

A proposição do imposto chegou ao Parlamento depois que a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) exigiram que o Chipre levantasse 5,8 bilhões de euros para garantir socorro a seu setor financeiro. O governo chegou a decretar feriado bancário até quinta-feira, para impedir os saques em massa. Havia o temor de que a corrida aos bancos se espalhasse para outros países em crise na região. O ministro da Economia espanhol, Luís de Guindos, veio a público para dizer que, em seu país, os depósitos abaixo de 100 mil euros "são sagrados".

€ 10 bilhões é o valor do empréstimo que o Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia dariam ao governo de Chipre. Em troca, eles exigiam uma contrapartida de 5,8 bilhões de euros, que seriam garantidos por meio do imposto sobre o saldo bancário. A proposta foi interpretada como um confisco pelos correntistas cipriotas, que se opuseram à ideia. Ontem, o Parlamento da ilha derrubou a proposta, por uma maioria esmagadora.