Com a Petrobras perdendo 60% de seu valor de mercado em quatro meses, as redes sociais especularam se Eike Batista não estaria certo ao prever, anos atrás, que um dia a OGX valeria tanto quanto a maior petroleira do país. Por ora, um exagero: as ações da Petrobras começaram 2015 abaixo de R$ 10 e as da OGX, valendo menos de 10 centavos. A sério, o que os investidores se perguntam é se as ações da estatal já atingiram o fundo do poço e se é hora de comprá-las para se beneficiar de futuras valorizações.
A resposta da maioria dos analistas é: talvez não. Há muita incerteza no campo dos fundamentos e sinais desanimadores vindos da análise gráfica, técnica que busca prever o rumo das ações com base no histórico de movimentações dos papéis. Ou seja, embora as cotações tenham caído aos piores níveis em quase uma década, é possível que caiam mais.
A petroleira tem a seu favor alguns bons fundamentos. Produz 2,1 milhões de barris de óleo por dia, fatura mais de R$ 300 bilhões por ano e tem um patrimônio gigantesco: 16 bilhões de barris em reservas provadas mais 15 bilhões cedidos pelo governo, e ativos totais de mais de R$ 800 bilhões. O problema é que o verdadeiro estado de sua saúde financeira é desconhecido. "Hoje não dispomos de uma série de informações relevantes sobre a Petrobras. É difícil dizer se os papéis estão baratos ou não", diz Wagner Salaverry, diretor da gestora de recursos Quantitas.
Sem balanço
Nem a companhia sabe quanto perdeu no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, o que a impede de publicar um balanço auditado. Mesmo a divulgação do relatório não revisado é sucessivamente adiada. Assim, é impossível estimar o quanto cairá o patrimônio e o lucro da empresa quando as baixas forem contabilizadas, e que condições ela terá de lidar com sua dívida a maior do mundo entre as empresas não financeiras. "Dependendo da revisão dos valores dos ativos, o preço das ações ainda pode cair muito", alerta Marcos Vidoto, assessor de investimentos da Praisce Capital.
Por não ter publicado os resultados do terceiro trimestre, a Petrobras corre o risco de entrar em "default técnico", o que permitiria a seus credores cobrar antecipadamente dívidas de dezenas de bilhões de dólares. A empresa pode até ter caixa para quitá-las, mas ela precisa desse mesmo caixa para custear o dia a dia e bancar investimentos ainda mais agora que, sem um balanço auditado, não consegue pegar empréstimos. Além disso, menos investimento significa menos receita no futuro.
Há outras ameaças, diz Salaverry: "A imagem da empresa no exterior foi muito afetada. Ela vai enfrentar processos judiciais e pode ter de pagar multas relevantes lá fora. Tem o preço do petróleo, que, nos níveis em que está, prejudica o retorno dos investimentos. E pode haver novas repercussões da Lava Jato".
Nota ameaçada
Como se não bastasse, a empresa ainda corre o risco de perder a classificação de grau de investimento, o que afastaria ainda mais os investidores. "O cenário segue bastante nebuloso para as ações da Petrobras. Nossa visão de que a companhia pode ter o rating rebaixado em breve pelas agências de risco se mantém", afirmou, em relatório, o analista Lenon Borges, da Ativa Investimentos.
Tendência é de baixa, dizem especialistas em análise gráfica
Especialistas em análise gráfica, que se baseiam nas movimentações anteriores de uma ação para tentar antecipar sua direção, dizem que a tendência para os papéis da Petrobras ainda é de baixa. "Tentar uma compra de Petrobras com base no cenário atual seria como tentar segurar com as mãos uma faca que está caindo. É melhor esperar que ela atinja o piso", compara Tiago de Souza, assessor da Toro Investimentos.
Danilo de Julio, analista da corretora Concórdia, lembra que, nas ocasiões em que a ação conseguiu subir nos últimos pregões, teve dificuldade de romper médias móveis importantes um sinal de que não conseguiu reverter a tendência de queda. "Não há como formar um cenário otimista neste momento", diz.
Para Souza, da Toro, uma ocasião "interessante" para voltar a comprar papéis da empresa pode aparecer após uma sequência de vários pregões de alta, com elevado volume de negociações. "Se, nessas condições, a ação voltar a ficar acima de R$ 12 ou R$ 12,50, pode ser um sinal de fundo de que a tendência de queda foi revertida", diz. Uma virada dessas, explica o analista, dependeria da ocorrência de notícias positivas para a empresa, algo raro nos últimos tempos.