Refinaria da Petrobras em Araucária: revisão do valor dos ativos deve reduzir lucro da estatal| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

R$ 9,36 foi a cotação de fechamento das ações preferenciais da Petrobras na última sexta-feira. Elas caíram 6,58% no pregão, pressionadas pela notícia de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai apurar responsabilidades da administração nos casos de corrupção na estatal. O valor dos papéis já esteve mais baixo que isso no passado recente: há três semanas, eles chegaram a ser negociados por R$ 8,56.

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Aposta

Se quiser arriscar, invista no máximo 20% de seu dinheiro

Por mais que ainda haja espaço para novas quedas nas ações da Petrobras, o atual patamar pode representar uma boa oportunidade de compra, diz Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin). "O risco de perder dinheiro existe, mas quem quiser apostar pode aplicar uns 10% ou 20% de suas economias na empresa. Mas não mais que isso. É um dinheiro que, se você perder, não vai arruinar sua vida financeira. E, se a companhia se recuperar, os ganhos podem ser interessantes", avalia. "Mas é muito importante contar com a orientação de uma corretora", diz.

Com a Petrobras perdendo 60% de seu valor de mercado em quatro meses, as redes sociais especularam se Eike Batista não estaria certo ao prever, anos atrás, que um dia a OGX valeria tanto quanto a maior petroleira do país. Por ora, um exagero: as ações da Petrobras começaram 2015 abaixo de R$ 10 e as da OGX, valendo menos de 10 centavos. A sério, o que os investidores se perguntam é se as ações da estatal já atingiram o fundo do poço e se é hora de comprá-las para se beneficiar de futuras valorizações.

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INFOGRÁFICO: Veja como ficaram as ações da Petrobras durante o ano de 2014

A resposta da maioria dos analistas é: talvez não. Há muita incerteza no campo dos fundamentos e sinais desanimadores vindos da análise gráfica, técnica que busca prever o rumo das ações com base no histórico de movimentações dos papéis. Ou seja, embora as cotações tenham caído aos piores níveis em quase uma década, é possível que caiam mais.

A petroleira tem a seu favor alguns bons fundamentos. Produz 2,1 milhões de barris de óleo por dia, fatura mais de R$ 300 bilhões por ano e tem um patrimônio gigantesco: 16 bilhões de barris em reservas provadas mais 15 bilhões cedidos pelo governo, e ativos totais de mais de R$ 800 bilhões. O problema é que o verdadeiro estado de sua saúde financeira é desconhecido. "Hoje não dispomos de uma série de informações relevantes sobre a Petrobras. É difícil dizer se os papéis estão baratos ou não", diz Wagner Salaverry, diretor da gestora de recursos Quantitas.

Sem balanço

Nem a companhia sabe quanto perdeu no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, o que a impede de publicar um balanço auditado. Mesmo a divulgação do relatório não revisado é sucessivamente adiada. Assim, é impossível estimar o quanto cairá o patrimônio e o lucro da empresa quando as baixas forem contabilizadas, e que condições ela terá de lidar com sua dívida – a maior do mundo entre as empresas não financeiras. "Dependendo da revisão dos valores dos ativos, o preço das ações ainda pode cair muito", alerta Marcos Vidoto, assessor de investimentos da Praisce Capital.

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Por não ter publicado os resultados do terceiro trimestre, a Petrobras corre o risco de entrar em "default técnico", o que permitiria a seus credores cobrar antecipadamente dívidas de dezenas de bilhões de dólares. A empresa pode até ter caixa para quitá-las, mas ela precisa desse mesmo caixa para custear o dia a dia e bancar investimentos – ainda mais agora que, sem um balanço auditado, não consegue pegar empréstimos. Além disso, menos investimento significa menos receita no futuro.

Há outras ameaças, diz Salaverry: "A imagem da empresa no exterior foi muito afetada. Ela vai enfrentar processos judiciais e pode ter de pagar multas relevantes lá fora. Tem o preço do petróleo, que, nos níveis em que está, prejudica o retorno dos investimentos. E pode haver novas repercussões da Lava Jato".

Nota ameaçada

Como se não bastasse, a empresa ainda corre o risco de perder a classificação de grau de investimento, o que afastaria ainda mais os investidores. "O cenário segue bastante nebuloso para as ações da Petrobras. Nossa visão de que a companhia pode ter o rating rebaixado em breve pelas agências de risco se mantém", afirmou, em relatório, o analista Lenon Borges, da Ativa Investimentos.

Tendência é de baixa, dizem especialistas em análise gráfica

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Especialistas em análise gráfica, que se baseiam nas movimentações anteriores de uma ação para tentar antecipar sua direção, dizem que a tendência para os papéis da Petrobras ainda é de baixa. "Tentar uma compra de Petrobras com base no cenário atual seria como tentar segurar com as mãos uma faca que está caindo. É melhor esperar que ela atinja o piso", compara Tiago de Souza, assessor da Toro Investimentos.

Danilo de Julio, analista da corretora Concórdia, lembra que, nas ocasiões em que a ação conseguiu subir nos últimos pregões, teve dificuldade de romper médias móveis importantes – um sinal de que não conseguiu reverter a tendência de queda. "Não há como formar um cenário otimista neste momento", diz.

Para Souza, da Toro, uma ocasião "interessante" para voltar a comprar papéis da empresa pode aparecer após uma sequência de vários pregões de alta, com elevado volume de negociações. "Se, nessas condições, a ação voltar a ficar acima de R$ 12 ou R$ 12,50, pode ser um sinal de fundo de que a tendência de queda foi revertida", diz. Uma virada dessas, explica o analista, dependeria da ocorrência de notícias positivas para a empresa, algo raro nos últimos tempos.