Marcos Haaland, há menos de um mês como presidente da Abril, afirma que seu plano para o grupo “pode ou não incluir a venda de alguns itens, de algumas áreas de negócio da Abril”.
O plano será apresentado aos credores daqui a dois meses, como resultado do pedido de recuperação judicial aceito nesta quinta-feira (16) pela Justiça. O grupo deve R$ 1,6 bilhão.
Sócio da consultoria Alvarez & Marsal, contratada pela família controladora da Abril, Haaland diz que fez o pedido porque “sentiu que tinha o risco de fornecedores e outros começarem a buscar ativos da companhia”.
Confira a entrevista de Haaland à Folha de S.Paulo:
Foi um problema imediato com os credores que levou à decisão?
Não é segredo que a Abril vem passando por dificuldade. Os resultados financeiros têm mostrado queda de receita e aumento do prejuízo. Houve outros esforços de redução de custo, ao longo do tempo, mas ela ainda não chegou... Não tinha chegado a um ponto de equilíbrio, de “break even”. Continuava precisando de capital de giro para sustentar o déficit. Isso chegou a um ponto em que fornecedores começaram a ficar insatisfeitos, irrequietos. A gente tem crédito com alguns fornecedores, principalmente para a gráfica, que são os insumos principais. Enfim, a gente sentiu que tinha o risco de esse grupo, fornecedores e outros, começar a buscar alguns ativos da companhia e pôr em risco a continuidade operacional. Então a gente pediu o instituto da proteção judicial para poder negociar com esses credores sem a ameaça de parada das operações.
A distribuidora de revistas não serve só aos títulos da Abril. Há risco para as outras?
A gente está até em contato com outras editoras que a gente distribui. A operação de distribuição continua. O que a gente está é reformulando a operação para ela deixar de ser deficitária. Esse é o foco.
É uma das operações mais custosas. Haverá um esforço específico em distribuição? É um esforço em todas as frentes. As três áreas de negócio, publicação, gráfica e distribuição, serão focos nossos para reestruturação, em todas com a mesma intensidade. A distribuição tem sido um problema porque é um negócio de volume, e o volume de mídia impressa se reduziu. Por isso precisa redesenhar o negócio.
Quais títulos permanecerão impressos?
Superinteressante, Veja, Exame, Saúde, Claudia, Quatro Rodas. Todos os títulos em que a empresa é líder nos seus segmentos.
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Guia do Estudante também?
O Guia continua, inclusive tem um evento grande em setembro. Está confirmado. A gente tem uma série de eventos confirmados, até o fim do ano. O Guia não é uma publicação regular. A forma de produção pode mudar, mas ele continua ativo.
O sr. estava no evento Maiores & Melhores, da Exame?
Estava, foi um sucesso, em prestígio: dos 21 prêmios, 19 foram recebidos pelos CEOs das empresas. É extremamente relevante e vai continuar.
Quais são os títulos em que está apostando mais, em publicidade?
Os títulos principais nossos, de foco, são Veja, Exame, Claudia, Quatro Rodas, Saúde e Superinteressante. De relevância, de circulação, de presença não só impressa como online. Temos 41 milhões de usuários no Facebook, 7 milhões na Veja, 4 milhões na Exame. Nos sites, 600 milhões de “unique visitors”. Cresceram mais de 30% com relação ao ano passado. Os títulos estão fortes, com alta aceitação. Nós temos um conteúdo de qualidade. O problema da Abril não está nos produtos. Está na estrutura de capital, que é o que a gente está aqui para trabalhar. E no equilíbrio econômico e financeiro, que a redução de títulos já endereçou.
Há possibilidade de venda do grupo como um todo ou de parte dele?
Olha, isso tudo vai estar refletido no plano de recuperação que a gente tem que apresentar em 60 dias. Esse plano vai colocar a forma de pagamento que a gente vai fazer aos credores, que pode ou não incluir a venda de alguns itens, de algumas áreas de negócio da Abril. Hoje não temos nada na mesa. Essa informação que circulou... Não existe nenhuma proposta na mesa. Se existisse não precisaria da recuperação, a gente estaria negociando com o comprador.
O sr. já participou de processos semelhantes em diferentes empresas. É a primeira de mídia?
O know how da operação a gente tem parcialmente, mas toda a experiência acumulada está dentro da própria empresa. A gente faz um complemento dos “skills”, da capacidade que a empresa tem, com a nossa capacidade de gerir uma crise, principalmente financeira. É o que a gente agrega ao cliente.
É a primeira vez com mídia?
Não, a Alvarez & Marsal tem experiência com mídia, mundialmente, em diversos casos. Não é a primeira vez, não.
Qual é a análise que o sr. faz do setor de mídia, não só no Brasil?
O mundo está mudando, a maneira de consumir a informação está mudando. O que a gente tem que endereçar é como monetizar e gerar valor na produção e distribuição de informação. Esse é o desafio, não só nosso como das outras empresas. A gente está analisando casos mundialmente, casos de sucesso, casos de fracasso, para desenhar o novo modelo da Abril.
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