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Setor elétrico

O que a energia solar pode fazer pelo abastecimento do país nos próximos anos

Energia solar
Usina Fotovoltaica Coremas III, na Paraíba: a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a geração de energia solar deve dobrar até 2025. (Foto: Alan Santos/PR)

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Menos risco de uma nova crise energética por falta de chuva, mais segurança para o sistema, contas de luz mais baixas. Os três pontos podem ser alcançados pelo país com a presença de mais sol na matriz elétrica do país. A participação da energia solar na produção total ainda é reduzida, mas o crescimento dessa fonte passa dos 200% em anos recentes, com promessas de avanços acompanhados por outras renováveis.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), hoje existem 4.621 empreendimentos de energia solar em operação no país, com potência de quase 4,6 gigawatts (GW), o equivalente a 2,5% da capacidade total de geração de eletricidade do país.

Com a diversificação de fontes de energia, a perspectiva é de que o país fique cada vez menos dependente da geração hidrelétrica e, ao mesmo tempo, tenha à disposição opções mais baratas que as termelétricas para fazer frente à demanda em momentos de crise como o atual.

Conforme avaliação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a fonte solar pode se consolidar como uma das mais competitivas para a expansão da matriz energética brasileira. Este potencial aparece no Plano Decenal de Expansão de Energia 2026, que prevê as perspectivas de expansão do setor de energia a partir de 2016 e pretende a "evolução mais distribuída da capacidade instalada das fontes, notadamente das opções eólica, fotovoltaica e biomassa".

Para o desenvolvimento da oferta solar fotovoltaica centralizada – que compreende grandes projetos – foi estabelecida uma expansão mínima de 1 GW ao ano a partir de 2021, num cenário chamado de "expansão dirigida", que levaria a capacidade instalada da geração solar a dobrar de tamanho até 2025. Segundo a Aneel, a energia solar deve alcançar 2,9% da matriz elétrica brasileira até o fim deste ano.

O avanço de 1 GW ao ano é considerado tímido pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Marcio Trannin. Ele avalia haver espaço para um crescimento mais agressivo, até três vezes maior no período, e que terá papel importante para romper com a dependência hídrica. A geração das hidrelétricas, entretanto, seguirá fundamental, uma vez que ainda representa ampla faixa da nossa geração, cerca de 65%.

Geração de energia solar ajuda a manter água nos reservatórios

"Quando você está gerando solar, você está segurando água; quando você está gerando eólica, você está segurando água no reservatório. Então, diversificação da matriz significa menos risco de problemas de abastecimento. Contar com 2% de solar na matriz não é suficiente, não é uma matriz equilibrada ainda", avalia Trannin.

Os benefícios mais perceptíveis da solar no modelo atual, segundo o representante da Absolar, estariam em trazer mais segurança para o sistema: primeiro, deixando fatia maior da geração por conta das fontes intermitentes e, segundo, fazendo as usinas movidas pela água entrarem em cena nos momentos sem sol ou vento. O desafio, nesse caso, é mitigar a impossibilidade de armazenamento do "combustível".

"Normalmente os operadores de sistema gostam de um cenário com mais fontes flexíveis, onde ele possa dizer quem vai parar, quando vai parar, a qualquer tempo. 'Coloca mais ou menos diesel, mais ou menos gás'. Quando você entra com eólica e solar você está botando um 'problema' na equação, deixando um pouco mais complexa", admite Trannin. Apesar disso, o receio da inserção é "infundado", acredita.

Em comparação com o cenário de crise hídrica de 2021, com amplo acionamento das térmicas, engenheiro eletricista Roberto Pereira D'Araújo, diretor do Instituto Ilumina, concorda que uma matriz mais equilibrada nos daria "a combinação perfeita de sol, vento e água". A leitura é de que mais geração solar e eólica poderia fazer frente à demanda brasileira, com a geração das hidrelétricas assumindo o fornecimento quando não houver produção suficiente por parte das demais.

"O sistema brasileiro é totalmente distinto dos outros por causa dessa caixa d’água que nós temos. Quando nós ligamos essas térmicas caríssimas nós estamos estocando água, porque elas geram no lugar [das hidrelétricas]. Se, por exemplo, você tem muitas solares para geração e uma parte não está mais alimentando [o sistema], quem pode substituir o sol? As hidráulicas. Elas têm essa velocidade. Ligar uma térmica demora, é como se fosse uma panela de pressão; uma hidráulica é uma torneira", compara Araújo.

Competição e mercado "mais livre" devem baixar custo da energia solar

Além da possibilidade de contas de luz mais baixas graças ao apelo menor à geração térmica, a redução no custo da energia deve aparecer com mais força – quando se trata da solar – conforme o mercado se torne "mais livre".

A avaliação é de que um aumento de competitividade e de opções ao consumidor vão permitir preços mais baixos e outras escolhas, como a compra de energia a partir de fontes limpas ou renováveis.

"O cliente, no final, vai ter três alternativas: ou ele compra da distribuidora, como normalmente faz [no mercado cativo], ou instala ou aluga uma planta solar e utiliza via geração distribuída, ou compra energia de grandes plantas de geração centralizada, que vão chegar a preços muito mais em conta", afirma o vice-presidente da Absolar.

Para o setor, a maior penetração da energia solar deve ser natural a partir de uma maior liberalização do mercado. A expansão do mercado livre está contida em projetos de um novo marco do setor elétrico, em tramitação na Câmara dos Deputados.

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