As projeções de crescimento da economia para 2013 começaram a se deteriorar antes mesmo de o ano começar. Ao contrário do que se esperava, a economia não deve começar embalada o suficiente para garantir uma retomada mais robusta já no primeiro trimestre. O fraco desempenho em 2012 deve contaminar 2013, mas mesmo assim o ano que está começando deve ser melhor que o anterior, puxado por uma melhora relativa do cenário externo.
Embora a presidente Dilma Rousseff tenha dito que espera "um pibão grandão para 2013", a maioria dos economistas não prevê um resultado para soltar "rojões". Será um ano de desafios, com inflação ainda forte e retomada devagar de investimentos. As estimativas de mercado para o crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) variam de 1,8% a 3,5%, diante da alta de 1% estimada para 2012.
Na tentativa de garantir um avanço de pelo menos 4% em 2013, o governo anunciou créditos extraordinários de R$ 42,5 bilhões do Orçamento da União e prorrogou a redução do IPI para automóveis e eletrodomésticos de linha branca. O governo também espera que um câmbio mais "real" ajude a reanimar os investimentos. Do lado dos economistas, porém, há dúvidas sobre a sustentação dessa estratégia em um momento em que o consumo dá sinais de esgotamento e as famílias estão mais endividadas. Também pairam incertezas sobre a intenção do governo de manter o tripé formado por câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário no médio prazo. Alguns acreditam que a tolerância do governo com dois anos seguidos de inflação acima do centro da meta, de 4,5%, e as recentes intervenções no câmbio começam a gerar desconfiança por parte dos investidores. Acompanhe o que os analistas preveem para 2013:
PIB
A economia vai crescer, mas o avanço deve ficar abaixo dos 4% projetados pelo governo. Não há nenhum sinal de mudança significativa nem no cenário interno e nem no externo que garanta um desempenho mais robusto do PIB para 2013, na avaliação do professor de Economia da UFPR Marcelo Curado. Na média, o mercado estima um crescimento próximo de 3,3% para 2013, mas há algumas projeções ainda mais conservadoras. "Acredito que o PIB deva crescer em torno de 1,8%", diz Luciano D´Agostini, economista do grupo de pesquisa macroeconomia estruturalista do desenvolvimento.
Segundo ele, o endividamento das famílias já vem comprometendo o consumo, que, sustentado pelo crédito, foi uma das grandes molas do avanço da economia nos últimos anos. Somente um crescimento mais vigoroso da renda poderia dar novo fôlego para o consumo e, por tabela, do PIB. Os investimentos privados, que são a grande aposta do governo para 2013, por sua vez, devem ter uma retomada lenta, à espera ainda dos resultados dos planos de concessão e de sinais mais claros sobre a condução da política econômica nos próximos meses.
Inflação
É consenso entre os economistas que a inflação continuará pressionada pelos preços dos serviços, que devem continuar a subir acima da média geral. "O reajuste dos preços de serviços deve continuar forte, contribuindo para uma inflação de 5,5% a 6% para 2013", projeta Fábio Tadeu Araújo, professor da PUCPR. Os analistas, no entanto, descartam a possibilidade de estouro do teto, de 6,5%.
Se as previsões se confirmarem, será o terceiro ano seguido em que os preços sobem acima do centro da meta estipulada pelo governo. Em 2011, a inflação medida pelo IPCA ficou em 6,5% e, em 2012, chegou a 5,84%. Na avaliação de Marcelo Curado, da UFPR, o governo dá sinais de que abandonou o centro da meta como objetivo a ser alcançado. "O objetivo passou a ser não ultrapassar o teto da meta, de 6,5%. Tanto que o governo não pretende subir os juros a menos que o indicador supere o teto", diz ele.
Juros e Câmbio
Os juros devem continuar mais baixos, com ligeira tendência de queda, principalmente se a economia não esboçar sinais de retomada no segundo semestre, prevê Cláudio Gonçalves, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios. A previsão da maioria dos economistas é que a taxa Selic se mantenha em 7,25%, com possibilidade de chegar a 7% ao longo do ano.
Do lado do câmbio, o governo deve continuar a atuar no mercado para segurar o dólar em níveis mais elevados, algo considerado importante para aumentar a competitividade da indústria. "Está claro que o governo não deseja um dólar entre R$ 1,50 e R$ 1,60", diz o economista Luciano DAgostini. Embora diga que o câmbio é flutuante, o governo tem feito intervenções no mercado para sustentar a moeda norte-americana na casa dos R$ 2, o que se caracteriza, no jargão dos economistas, como um câmbio flutuante "sujo". Os analistas preveem um câmbio de R$ 1,80 a R$ 2,10 em 2013.
Investimentos
A retomada será lenta, preveem os economistas. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador técnico que serve para medir o ritmo de investimentos, hoje em 19% do PIB, deve avançar pouco, para 19,5% no próximo ano mesmo com as obras previstas pela Copa do Mundo. O porcentual está aquém da necessidade de investimento no Brasil, que estaria, segundo boa parte dos economistas, em 26% do PIB. Apesar dos juros e do câmbio mais favoráveis, o investimento deve demorar para deslanchar porque ainda pairam incertezas sobre a crise na Europa e a retomada nos Estados Unidos e, no mercado interno, desconfiança em relação às intervenções recentes do governo na economia, como para segurar o câmbio e preço da gasolina e reduzir o preço da energia, segundo Marcelo Curado, da UFPR. "A soma desses fatores contribui para que os investimentos tenham um desempenho ainda fraco", diz.
Exportações
O dólar mais alto favorece as exportações, mas a demanda internacional continua aquém do necessário. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as vendas externas do país devem cair 1,1% em 2013 em relação a 2012, totalizando US$ 239,69 bilhões. As importações, por sua vez, devem registrar estabilidade, ficando próximas de US$ 225,07 bilhões. Para os economistas da entidade, em 2013 persistirá o quadro de incerteza e volatilidade no comércio exterior, influenciado principalmente pela crise europeia, mercado de destino de 20% das exportações brasileiras e que concentra 37% do comércio mundial.
Mesmo com o dólar mais caro, as importações se mantêm também porque os preços em moeda estrangeira têm caído. Os preços dos produtos importados recuaram em média 3% em 2012.
Emprego
O bom ritmo de geração de vagas no mercado de trabalho promete ser, mais uma vez, o destaque positivo do ano. Em que pese o fraco desempenho da economia em 2012, o desemprego está em níveis historicamente baixos (5,5%.) Em 2003, a taxa de desocupação, medida pelo IBGE, estava em 12,4%. Para os economistas, com um crescimento da economia próximo de 3% ainda há espaço para redução da taxa de desemprego em 2013, mesmo que em um ritmo menor que o verificado nos últimos anos. As estimativas de mercado são de que a taxa de desemprego possa recuar para 5,2% no próximo ano.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast