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O que esperar de uma OMC à brasileira

Azevêdo, o eleito: desafio será reativar as discussões da Rodada Doha, para “destravar” as barreiras do comércio internacional | Luke MacGregor/Reuters
Azevêdo, o eleito: desafio será reativar as discussões da Rodada Doha, para “destravar” as barreiras do comércio internacional (Foto: Luke MacGregor/Reuters)

O diplomata brasileiro Roberto Azevêdo vai suceder o francês Pascal Lamy e se tornará em setembro o primeiro latino-americano a ocupar a direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Sua escolha reforça uma divisão latente na entidade, entre as economias em crise do mundo desenvolvido e o desejo de crescimento dos emergentes.

A disputa foi polarizada. O mexicano Hermínio Blanco contou com o apoio de nomes como União Europeia e Estados Unidos. O candidato do Brasil foi apoiado pelo grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e demais países emergentes. Para a professora de economia internacional do Isae/FGV Nora Zygielszyper, a divisão foi previsível. "O discurso do mexicano era mais liberal e alinhado a países conservadores como a Inglaterra, ao passo que a postura do brasileiro era mais parecida com a dos outros países em desenvolvimento", explica.

Repercussão

Depois da divulgação do resultado, a presidente Dilma Rousseff agradeceu, em nota, o apoio dos governos do mundo. "Essa não é uma vitória do Brasil nem de um grupo de países, mas da OMC", comentou. O chanceler Antônio Patriota também se manifestou. Para ele, a vitória de Azevêdo reflete uma ordem internacional em transformação. "É um resultado importante que se insere numa realidade em que países emergentes demonstram capacidade de liderança", afirmou, em coletiva de imprensa.

Desafios

De acordo com Nora, do Isae/FGV, a eleição e a subsequente visibilidade conquistada pelo Brasil vão exigir uma adaptação da postura do país diante do comércio internacional. "Nossas decisões vêm sendo bastante protecionistas e um líder brasileiro exige, de certa forma, uma mudança. Não faz sentido o país do diretor-geral não incentivar o livre comércio", explica.

Ela ainda salienta a necessidade de Azevêdo exercitar suas habilidades de negociação. "O grande desafio será ressuscitar a Rodada Doha. Por mais que ninguém queira negociar por causa das pressões internas, essa é a saída para o comércio internacional", analisa. Uma alternativa, na opinião do professor da Universidade Positivo (UP) Rodolfo Coelho Prates, é a fragmentação da pauta de discussões de Doha. "Em vez de tentar discutir tudo de uma vez, ele poderia tentar negociações progressivas", recomenda.

Perfil

Há trinta anos na diplomacia

Roberto Azevêdo nasceu em Salvador e tem 55 anos. Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Brasília (UnB), é diplomata e está no Itamaraty desde 1983. Em 2001, participou da criação da Coordenação-Geral de Contenciosos (CGC), unidade do Ministério das Relações Exteriores responsável por coordenar a participação do Brasil no Sistema de Solução de Controvérsias da OMC – este é o fórum para resolver disputas entre países – e a presidiu por mais de quatro anos. De 2008 para cá, foi o representante brasileiro na OMC, na qual vinha atuando como "negociador-chave".

Rodadas

As "rodadas" são o principal fórum de discussão da Organização Mundial do Comércio. São, na verdade, um mecanismo herdado de seu antecessor, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt, na sigla em inglês), e são organizadas desde 1947. Elas buscam debater temas diferentes e não têm tempo de duração determinado. A do Uruguai, por exemplo, começou em 1986 e só foi concluída em 1994, justamente com a criação da OMC. A última delas é a Rodada Doha, que começou em novembro de 2001 com o objetivo de discutir a liberalização comercial e o crescimento econômico, abordando temas como a agricultura e a diminuição de tarifas. A falta de consenso e de disposição dos países em negociar acabou fazendo com que essa reunião ficasse estagnada até hoje.

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