Dilma Rousseff: insegurança na política econômica; Guido Mantega: em luta com a inflação persistente| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters e Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Soltando as amarras

Em sentido oposto ao combate ao "tsunami monetário" de 2010, o governo começou neste mês a soltar as amarras que impôs à entrada de dinheiro estrangeiro no país

• 4 de junho – Mantega anuncia a redução do IOF para a aplicações estrangeiras em renda fixa, de 6% para 0. A medida tem potencial para atrair mais dinheiro para o mercado brasileiro e barrar a alta recente da moeda americana.

• 12 de junho - o ministro da Fazenda comunica a redução a zero do IOF incidente sobre posições líquidas vendidas no mercado futuro de dólar, antes em 1%, para combater a alta do dólar. Ainda ontem, a moeda recuou 0,96%.

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A bolsa brasileira acumula queda de 17,29% neste ano e não empolga faz tempo, mas o movimento dos últimos dias, que têm suscitado intervenções diárias e outras medidas do Banco Central para conter a alta do dólar, tem agravado a sensação de insegurança sobre a política econômica do governo de Dilma Rousseff.

INFOGRÁFICO: Cotação do dólar não vai abaixo de R$ 2 desde o fim de abril

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A atual valorização da moeda norte-americana se deve à recuperação, ainda que lenta, da economia dos Estados Unidos. Um fato esperado, mais cedo ou mais tarde. A questão, segundo analistas, é que o país não está preparado para ele e nem para lidar com o cenário pessimista que ajudou a construir para este e o próximo ano.

Inflação alta e persistente (6,5% pelo IPCA de 12 meses); reduções nas perspectivas do resultado primário; crescimento no déficit em conta corrente (3% do PIB em 12 meses); atrasos nos cronogramas dos pacotes de concessões de infraestrutura; fraca recuperação da indústria... e por aí vai. "Dado esse cenário, o aconselhável seria tentar melhorar os fundamentos da economia para que o crescimento seja retomado em bases mais sustentáveis nos próximos anos – mas no meio do caminho há uma eleição. Se o governo ficar muito preocupado e adotar novas medidas com o foco no curto-prazo, corre-se o risco de piorar ainda mais o cenário para o médio prazo", avaliou o economista Mansueto de Almeida, em seu blog, ainda no fim de maio.

Para ele , o governo federal agiu de forma ativa demais para barrar os efeitos da crise externa, causando desequilíbrios difíceis de sanar.

Um exemplo está no crescimento dos gastos públicos. Ao invés de adotar uma política fiscal mais dura, que ajude a controlar a inflação e melhorar a imagem do Brasil no mercado, o governo tem usado e abusado dos bancos públicos e estatais para ampliar seus gastos.

O exemplo mais recente está no aporte de R$ 8 bilhões que o Tesouro Nacional fará na Caixa para bancar o programa Minha Casa Melhor, anunciado na quarta-feira por Dilma. Mais uma vez, a estratégia será emitir títulos públicos que impactarão o elevado estoque da dívida bruta do governo para que uma instituição pública dê crédito no mercado e estimule o consumo.

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Neste ano, o Tesouro já foi autorizado a emitir R$ 45 bilhões às estatais – R$ 15 bilhões somente para capitalizar o BNDES, que elevou muito o seu volume de empréstimos (quase 60% até abril). Outros R$ 15 bilhões para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que banca a redução das contas de luz. Além disso, haverá uma emissão de mais R$ 15 bilhões para que a Valec possa garantir compromissos assumidos com os vencedores dos leilões de concessão que vão ocorrer nos próximos meses.

Com isso, a dívida bruta da União, que fechou o ano passado em 58,69% do Produto Interno Bruto (PIB), tende a continuar crescendo.

Para o ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, o maior problema não está no fato de a dívida bruta brasileira ser elevada, mas no fato de o Tesouro vir sendo utilizado em diversas frentes. "Não se trata de apoiar a política de concessões ou não. O mais sério é a proliferação dessas operações que ainda por cima são difíceis de entender. Falta clareza sobre a dinâmica da política fiscal."

Dólar recua 0,45% após manobra no IOF

Folhapress

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Com a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incidia sobre posições vendidas líquidas em derivativos cambiais, anunciada na noite de quarta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a moeda americana fechou ontem em queda. O dólar à vista – referência para as negociações no mercado financeiro- teve desvalorização de 0,45%, cotado em R$ 2,140 na venda. Já o dólar comercial – utilizado no comércio exterior – caiu 0,97%, para R$ 2,133. Com a medida, o governo pretende atrair mais investidores para o mercado futuro de dólar, aumentando a oferta da moeda americana no país e forçando a queda de sua cotação. "A decisão do governo brasileiro evidencia o comprometimento do governo em controlar o câmbio. Esperamos que a política cambial brasileira dê mais suporte à estabilidade do real em relação aos seus pares no curto prazo", avaliam Clyde Wardle e Marjorie Hernandez, economistas do HSBC, em relatório.

De acordo com Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora, a queda do dólar não foi tão acentuada hoje porque o fato de o governo cortar IOF não ofusca a deterioração das contas públicas e a falta de confiança dos investidores estrangeiros sobre a eficácia das medidas que têm sido tomadas para conter a inflação. "O mercado ainda segue em alerta", observou.

Orçamento

Fazenda cogita bloquear emendas para cumprir primário em 2013

Reuters

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O governo federal conta com a possibilidade de bloquear R$ 7,1 bilhões de emendas parlamentares para fazer um superávit primário equivalente a 2,3% do PIB, disseram duas fontes da equipe econômica que pediram anonimato. É com esse número que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se comprometeu nesta semana. De um total de R$ 22,7 bilhões em emendas parlamentares ao Orçamento de 2013, o governo já contingenciou R$ 15,6 bilhões.

O aumento desse contingenciamento serviria para aplacar as críticas de descontrole fiscal do governo, que tem reduzido a confiança dos investidores no país. O governo também avalia a necessidade de cortar outras despesas, como investimentos não prioritários, e adiar a nomeação de servidores públicos que passaram em concurso para melhorar o desempenho fiscal, disse uma das fontes, que falou sob condição de anonimato.