Cinco meses após deletar perfil no Facebook, colunista do NYT reflete sobre o que mudou em sua vida. (Glenn Harvey/The New York Times).| Foto: NYT

Quando o Facebook e sua família de aplicativos ficaram um dia inteiro sem funcionar em março, milhões de pessoas puderam ver como seria a vida se a rede social fosse extinta para sempre. Posso aprofundar isso: há cinco meses, deletei permanentemente minha conta no Facebook. E quais foram as consequências disso?

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A missão, amplamente divulgada, da rede social tem sido conectar pessoas para que possamos viver em um mundo mais aberto. Porém, estando fora do Facebook desde outubro, não me senti menos conectado e minha vida social não sofreu, apesar de não estar mais acompanhando as atualizações de status nem as fotos no meu feed de notícias. Meus amigos e eu continuamos a fazer planos via e-mail e aplicativos de mensagens. Assim como minha família. Nada mudou.

Houve algumas diferenças, contudo – incluindo algumas experiências estranhas com anúncios on-line. Já faz muito tempo que o Facebook tem usado as informações que coleta dos usuários para sugerir anúncios mais relevantes. Então, após alguns meses sem a rede social, comecei a receber anúncios aleatórios em sites como o Instagram (que pertence ao Facebook). Entre eles: propaganda de lâminas para depilação feminina, bolsas, maiôs e biquínis.

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O Instagram deve ter começado a pensar que sou uma mulher, mas minha carteira agradeceu. Percebi que estava gastando consideravelmente menos dinheiro nas usuais e frívolas compras on-line de roupas e artigos de cozinha por não estar mais recebendo anúncios do Facebook que incitavam meus gastos extravagantes. Nos últimos cinco meses, minhas compras on-line caíram aproximadamente 43 por cento.

Mas e o FOMO, sigla em inglês que designa o medo que a pessoa sente de perder oportunidades, tipicamente induzido pelas redes sociais? Ele é frequentemente uma das razões pelas quais as pessoas têm medo de sair do Facebook. E se não virem aquele post sobre um passeio com um amigo distante? Ou se perderem o convite para uma festa compartilhado na rede social? Para mim, no fim das contas, sem o Facebook não perdi muita coisa – a não ser os anúncios direcionados.

A seguir, um pouco mais do que aprendi.

Não sinto falta dos meus 'amigos'

Nos 14 anos em que usei o Facebook, contabilizei cerca de 500 amigos. A maioria era de antigos colegas de turma com os quais tinha perdido contato. Na vida real, tenho aproximadamente 20 amigos com quem falo regularmente. Por isso, quando finalmente deletei minha conta, a diferença de número foi assustadora. Esses mesmos amigos mantiveram contato por iMessage, Signal ou e-mail. Ainda jantamos ou vamos ao cinema juntos.

Consigo pensar em apenas um com quem falava exclusivamente pelo Facebook Messenger – agora, mandamos e-mails e conversamos menos do que costumávamos, mas, quando nos encontramos pessoalmente, somos tão próximos como sempre fomos. Além disso, não consigo me lembrar da última vez que fui a um evento cujo convite recebi via Facebook; logo, nunca sofri de FOMO.

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Também posso dizer do que eu absolutamente não sinto falta em relação ao Facebook: pessoas postando frequentemente jogos on-line, notícias sobre política ou opiniões sobre eventos do dia a dia. Ocasionalmente, apareciam posts engraçados ou interessantes, mas no geral eram um desperdício de tempo.

Recentemente, também comecei a ler mais livros. Poderia ser porque não estou mais gastando minha energia lendo o Facebook?

Anunciantes pararam de me seguir

Faz tempo que as marcas conseguem direcionar anúncios por meio das ferramentas do Facebook. É provável que você veja um anúncio de um relógio, por exemplo, no Facebook porque a empresa usou as ferramentas para carregar seu endereço de e-mail e tirar vantagem de outros dados seus que a rede social possui – como idade ou o fato de você seguir a página da Timex no Facebook.

Quando você navega em sites fora do Facebook, a empresa ainda é capaz de acompanhar suas atividades para ajudar marcas a sugerir anúncios relevantes a você. Após entrar em um site para ver, vamos supor, um par de sapatos, é possível que você veja o anúncio desse produto – ou similares – quando entrar em outro site.

A rede social usa uma variedade de abordagens para coletar informações sobre os usuários da web. Uma envolve o Facebook pixel, um rastreador invisível que as marcas podem incorporar ao site delas. Quando você carrega o site de uma marca, o Facebook pixel envia de volta à companhia a informação sobre o dispositivo e as atividades de navegação. A rede social pode então usar essa informação para ajudar as marcas a achar você.

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Quando saí do Facebook, queria que todos aqueles anúncios sugeridos desaparecessem. Então, além de encerrar minha conta, instalei bloqueadores de rastreamento no navegador do computador e dos aparelhos móveis para evitar que anunciantes usassem cookies e pixels rastreadores invisíveis como o do Facebook. As medidas extras funcionaram. A ofensiva on-line de anúncios sugeridos cessou.

"Se você possuir o bloqueador de rastreamento e já deletou a conta do Facebook, está fora do radar", declarou Gabriel Weinberg, executivo-chefe da DuckDuckGo, que oferece ferramentas para obtenção de privacidade na internet, incluindo um navegador que bloqueia rastreadores.

O Facebook nega montar perfis de pessoas que não estejam na rede social e sugerir a elas anúncios. "Sites e aplicativos nos enviam informações sobre quem os visita, independentemente de terem uma página na rede social. Se você não é um usuário do Facebook, não sabemos quem é você nem temos algum tipo de dossiê a seu respeito", anunciou a empresa em uma declaração.

Os anunciantes têm outras estratégias, além do Facebook, para me perseguir, mas existem razões econômicas que os fazem desistir. Com as ferramentas da rede social, era relativamente acessível e prático que me seguissem e marcassem. Sem elas, fica muito mais caro. "Pode ser custoso demais para uma empresa ir atrás de você", argumentou Michael Priem, executivo-chefe da Modern Impact, uma agência de publicidade de Minneapolis.

Meus gastos diminuíram. Muito.

O Facebook frequentemente defende anúncios direcionados, argumentando que propagandas irrelevantes incomodam os usuários. Discordo. Sim, os anúncios que vejo hoje não têm nada a ver comigo – mas o lado bom foi ver meus gastos despencarem.

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Eu me lembro, há cerca de um ano, de ter visitado o site da Taylor Stitch, uma loja de roupas masculinas. Olhei um casaco e fechei a janela após decidir não comprar. Nas semanas seguintes, um anúncio do mesmo casaco apareceu no Facebook, no Instagram e em outros sites. Adivinha o que aconteceu? Comprei.

Após sair do Facebook, tenho desistido de compras on-line com mais frequência ao me colocar a seguinte pergunta: preciso de outra camisa xadrez, frigideira ou coqueteleira? A resposta sempre foi não. E, como agora não há nada que me faça mudar de ideia, mantenho o cartão de crédito na carteira.

Abri o Mint, a ferramenta que controla orçamentos, para ter uma ideia mais clara de quanto estava economizando. De outubro até a metade de março, gastei aproximadamente 341 dólares (1.300 reais) em roupas e 1.100 dólares (mais de 4.000 reais) na Amazon. Uma queda significativa desde a época das orgias das compras on-line antes de deixar o Facebook. De outubro de 2017 à metade de março de 2018, gastei 1.008 dólares em roupas e 1.542 dólares (quase 6.000 reais) na Amazon. Uau.

O Instagram acha que sou uma mulher

Durante anos, minha conta pessoal no Instagram trazia anúncios de botas, pastas e videogames para homens. Agora, recebo anúncios para produtos como lâminas de depilar femininas e sutiãs.

Tenho uma teoria do motivo da mudança, que o Facebook não contestou: não ter uma conta no Facebook significa que o Instagram está perdendo informações significativas sobre quem sou e do que gosto, por isso pode estar perdendo as dicas necessárias para me sugerir os anúncios corretos.

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E, como minha noiva e eu gerenciamos juntos a conta do nosso cachorro no Instagram e mexemos nela a partir das contas pessoais e aparelhos particulares, algumas informações podem ter se cruzado e, agora, o Instagram acha que sou do sexo feminino. (O Instagram não exige que a pessoa informe o gênero ao criar uma conta.)

É um pouco estranho, mas não me incomoda. Pelo contrário, pelo menos me dá ideias para futuros presentes.