A diretoria da Petrobras aprovou nesta quinta-feira (6) o uso de um mecanismo de proteção de preços adicional à sua política de preços, que permitirá à empresa manter o preço da gasolina estável por até 15 dias em cenários de volatilidade excessiva do preço, como variação cambial e ocorrências climáticas.
“Sem abrir mão da paridade dos preços internacionais, o mecanismo de hedge permitirá à empresa obter um resultado financeiro equivalente ao que alcança com a prática de reajustes diários”, explicou a estatal em comunicado enviado ao mercado.
Para evitar impactos nos resultados, a empresa comprará contratos futuros de gasolina e dólar pra gerar os mesmos resultados financeiros que teria com o reajuste diário do preço.
LEIA TAMBÉM: IPCA cai e registra menor taxa para o mês de agosto desde 1998
Gabriel Francisco, analista de petróleo e elétricas da área de Research da XP Investimentos, explica que o uso do hedge complementar vai garantir “maior flexibilidade na precificação da gasolina”, considerando que a Petrobras tem liberdade para definir e reajustar diariamente o preço do combustível para repassar as variações de câmbio e petróleo.
“Em momentos que ela acha que os preços de petróleo e câmbio [considerados no cálculo do preço da gasolina] estão sendo pressionados, ela terá mais cautela e, ao invés de reajustar os preços todos os dias, manterá o preço inalterado por até 15 dias”, explicou.
Também no comunicado, a Petrobras explicou que o instrumento é adicional à sua política de preços e, portanto, o preço continuará sujeito a mudanças até diárias. A Petrobras também não abrirá mão da paridade com os preços internacionais com o mecanismo, tal como estabelece sua política de preços.
Ela explica: “tal estratégia permitirá maior flexibilidade na frequência de reajustes, mas não alterará o resultado final das variações do preço da gasolina decorrentes dos movimentos de elevação ou de queda na cotação internacional e na taxa de câmbio, ao final de cada período - seja por intervalos de tempo mais longos (até 15 dias) ou diários”.
E para o consumidor
O preço da gasolina estabelecido pela Petrobras não é o mesmo que o consumidor paga em postos de combustível: ele se refere ao produto vendido da refinaria para as distribuidoras – que então repassarão para os consumidores o seu preço.
“Esse preço representa cerca de um terço do valor do combustível vendido nos postos ao consumidor final”, explicou a Petrobras. Ainda são considerados o custo do etanol, os tributos e as margens de distribuidoras e revendedores para chegar ao preço dos postos.
O impacto no preço do consumidor, portanto, se existir, deve ser pequeno. Em relatório, o BTG Pactual comenta que o mecanismo é uma tentativa de “melhorar o relacionamento” com os consumidores. Na visão do BTG, ela também não deve impactar as distribuidoras, mas não se sabe se elas repassarão a estabilidade para os consumidores.
LEIA TAMBÉM: Benefícios fiscais: um problema para o próximo presidente
E para o investidor
Antes do anúncio, a empresa não tinha nenhum estatuto formal que permitisse o uso de mecanismos de hedge em relação aos preços de combustível no mercado doméstico. Assumindo que a estratégia seja efetivamente empregada, os analistas do Itaú BBA veem a notícia como neutra e ressaltam que isso reduziria a volatilidade dos preços da gasolina para o consumidor final, que havia sido uma das principais fontes de insatisfação social e política.
“A principal incerteza é sobre como essa estratégia será empregada, já que provavelmente não sabemos a estrutura das posições de hedge enquanto os preços estão congelados”, ponderam os analistas.
Já o analista da XP tem uma avaliação “ligeiramente negativa” do anúncio dada a menor visibilidade da política de preços de combustíveis da empresa. Ele acredita que a Petrobras deve continuar a entregar bons resultados até o fim deste ano, com uma sólida geração de caixa que permitirá à companhia atingir a sua meta de redução de endividamento sem necessidade de vender mais ativos.
No entanto, a partir de 2019 a principal dúvida se refere à qual a será a política de preços de combustíveis a ser adotada pela companhia, fator diretamente relacionado ao resultado das eleições presidenciais.
“Estamos preocupados que a nova política de hedge possa aumentar os riscos relacionados aos preços da gasolina e do diesel no futuro”, avalia Regis Cardoso, analista do Credit Suisse.