O que o PT dizia sobre a alta do dólar durante o governo Bolsonaro

Após a moeda norte-americana atingir o maior valor nominal de fechamento da história, chegando a R$ 6,267 na quarta-feira (18), o valor do dólar hoje apresentou queda, chegando a R$ 6,18 ao meio-dia desta quinta-feira (19). A cotação fechou a R$ 6,12. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), antes mesmo da moeda atingir R$ 5, políticos petistas não pouparam críticas ao ex-mandatário e ao ex-ministro da Economia Paulo Guedes, responsabilizando-os pela situação.

Em maio de 2019, a conta oficial do PT afirmou em seu perfil no X que “quem achou que poderia ir para Disney com o novo governo se enganou. Com Bolsonaro, Real afunda em relação ao dólar, que chega a R$ 4,11. Estagnação política do país e risco para investimentos externos fizeram moeda estadunidense disparar”.

Agora, diante do dólar que chegou a bater na marca recorde de R$6,267, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca fatores externos para justificar problemas de sua gestão, ao culpar a especulação e as fake news pela alta da moeda norte-americana.

Ainda na quarta-feira (18), a conta oficial do Partido dos Trabalhadores no X afirmou que "a reação irresponsável do mercado financeiro ao pacote de medidas fiscais anunciadas pelo governo Lula trará consequências indesejáveis à economia do país".

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT-RS), publicou um vídeo em seu perfil no X no qual atribui a alta do dólar a publicações com declarações falsas do indicado de Lula para assumir a presidência do Banco Central em 2025, Gabriel Galípolo.

Pimenta afirmou que a “indústria das fake news está trabalhando, mais uma vez, contra o Brasil”, e que “através da desinformação, eles [os especuladores] tiveram o resultado que queriam: o dólar chegou a R$ 6,20”. Uma das declarações falsas atribuídas à Galípolo dizia que a “moeda do Brics nos salvaguardaria da extrema influência que o dólar exerce no nosso mercado”.

Em novembro de 2019, no entanto, Pimenta responsabilizou o então ministro da Economia pela alta do dólar. Também em seu perfil no X, ele chegou a afirmar que “o verdadeiro AI-5 do Paulo Guedes é o dólar chegando a 5 reais”.

A Advocacia-Geral da União (AGU) acionou a Polícia Federal para investigar a divulgação das notícias falsas contra o futuro presidente do BC. O órgão argumentou que as fake news comprometeram as ações do governo para conter a alta do dólar e geraram “impactos negativos na cotação”.

Antes disso, na noite da quinta-feira (12), o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) usou de estratégia semelhante e protocolou um pedido para que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) investigue um ataque especulativo por parte do mercado financeiro, ou a Faria Lima, como ele próprio chamou, contra o real. Para ele, a estratégia seria uma reação exagerada e coordenada dos agentes financeiros para desvalorizar o real frente ao dólar.

No entanto, em 2020, o filho de José Dirceu (PT-SP) afirmou em vídeo que circulou nas redes sociais que a “incompetência, o equívoco, a má fé da política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes, faz [sic] com que, semana a semana, o dólar e o euro bata [sic] recordes negativos na sua cotação. Ou seja, o real está valendo cada vez menos”. O deputado ainda dizia ser “mentira” vincular a alta da moeda norte-americana à pandemia.

Psol ironizou cotação do dólar durante governo Bolsonaro

Aliados do PT também criticaram a alta do dólar na gestão Bolsonaro. A deputada Erika Hilton (Psol-SP), em novembro de 2019, afirmou em sua conta no X que os “bolsominions têm explicação pro dólar chegar a R$ 4,21, MAIOR COTAÇÃO DA HISTÓRIA: é pq o Lula tá solto. Se Lula estivesse na cadeia o dólar já estaria menos de 3. Se impeachar [sic] Gilmar, então, o dólar cai pra R$2. Na real, é só gritar “Fora Dilma” e o dólar fica menos de R$1”.

No entanto, desde que o dólar passou de R$ 6, no fim de novembro, após o anúncio do pacote de corte de gastos do governo federal, que gerou pessimismo no mercado, a deputada não voltou a comentar sobre a alta da moeda norte-americana.

A conta oficial do Psol, partido ao qual Hilton é filiada, publicou em março de 2020 que o dólar seguia disparado, chegando a R$ 4,61.

“- Ou Paulo Guedes e sua equipe de rentistas são extremamente incompetentes e não conseguem reter a hipervalorização do dólar.

- Ou estão ganhando muito dinheiro com isso às custas da destruição da economia brasileira”, disse em postagem do seu perfil oficial no X.

Assim como no perfil de Hilton, na conta oficial do Psol no Instagram há praticamente nenhuma menção à alta do dólar desde o início de dezembro. A única exceção é um vídeo publicado no início do mês, dia 3, no qual Guilherme Boulos, que concorreu à prefeitura de São Paulo pelo partido, também terceirizou a alta do dólar, vinculando-a à alta dos juros pelo Banco Central.

Boulos afirmou que entrou com uma ação na Justiça Federal para investigar conflito de interesses econômicos e políticos do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. De acordo com o psolista, o presidente do BC seria vinculado ao "bolsonarismo".

Em março de 2020, Boulos responsabilizou Guedes pela alta na moeda norte-americana. "Dólar superou os R$5 pela 1° vez. Isso significa inflação, com aumento do preço dos produtos que tem insumos cotados em dólar. E a política de Guedes achata a massa salarial. Poderemos voltar a ter a "estagflação": economia no buraco e alta do custo de vida. A conta vai pro povo", avaliou em seu perfil no X à época.

Randolfe, Gleisi e Tebet também criticaram cotação do dólar

O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), atual líder do governo no Congresso, também ironizou a alta do dólar durante a gestão anterior. “Bolsonaro bateu outro recorde! Dólar a 4,20 não é nem para poucos, é só para o atual presidente da República! É a maior cotação da HISTÓRIA do real. Que proeza! Parabéns aos envolvidos!”, publicou em seu perfil oficial do X, em novembro de 2019.

Desde o fim de novembro, também em seu perfil do X, o senador celebrou a queda no desemprego, anunciou a alta do PIB, afirmou que Lula é insubstituível, comemorou a aprovação da reforma tributária pelo Congresso, mas não fez nenhuma publicação em relação à alta do dólar.

Em março de 2020, a atual presidente do PT e deputada pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, disse que “prometeram que bastava tirar o PT pro dólar cair. Hoje, chegou a R$ 4,61 operando em alta pela 12ª sessão consecutiva. Em casas de câmbio, o dólar já é negociado acima de R$ 5,05. Onde estão os críticos do PT nessa hora? Vivem cobrando autocrítica do PT, farão eles autocrítica?”, questionou em seu perfil no X.

No dia 15 de dezembro, no entanto, Gleisi culpou o mercado e a mídia pela alta do dólar hoje. “Os agourentos do mercado e seus porta-vozes na mídia continuam apostando contra o país, especulando com o dólar e programando uma recessão via alta ainda maior dos juros. E ainda querem culpar o presidente Lula por tudo de ruim que eles desejam e planejam”, disse a presidente do PT, que ainda afirmou que “apostar contra o Brasil nunca deu certo com Lula no comando”.

Já a atual ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), em junho de 2022, quando era candidata à Presidência da República, afirmou em seu perfil no X que “o dólar passa de 5 reais hoje por quê? Porque nós temos uma instabilidade política e jurídica. É um governo que não garante segurança jurídica para os investidores”. Tebet também não comentou sobre a alta do dólar hoje em seu perfil no X.