Bancos, corretoras e consultorias esperam que a economia brasileira cresça perto de 1,2% em 2017, após encolher 3,2% neste ano. Essas são as projeções medianas das instituições consultadas semanalmente pelo Banco Central. Mas um pequeno grupo de analistas espera bem mais para o PIB do ano que vem.
“Bem mais” em termos relativos, é claro. Os departamentos econômicos mais otimistas do mercado preveem um crescimento de 2%, número que há alguns anos seria desprezado mas que hoje, em meio à pior recessão de que se tem notícia, parece miragem. É mais até que a previsão do governo, que recentemente revisou sua estimativa de 1,2% para 1,6%.
Para justificar suas apostas, a consultoria MB Associados e os bancos Santander, Fibra e BNP Paribas citam a melhora dos indicadores de confiança, queda dos juros, aprovação do ajuste fiscal, reação da indústria e retomada dos investimentos. Alguns desses movimentos já ocorrem, timidamente. Outros ainda estão no campo da esperança – e aí reside, segundo os céticos, a fragilidade de projeções mais audaciosas.
O economista-chefe da MB, Sérgio Vale, considera que sua avaliação não tem nada de otimista. “Sei que o mercado espera menos, mas 2% é nada. Depois de o PIB ter caído tanto e com a melhora que vimos nos últimos dados, essa é uma projeção realista”, diz. Ele cita como pontos positivos o ajuste fiscal com foco em corte de despesas – e não aumento de impostos – e a expectativa de uma retomada das concessões de infraestrutura.
Embora alguns colegas acreditem que o presidente interino Michel Temer está cedendo a demandas que vão na contramão da austeridade, Vale observa que a ideia de impor um teto aos gastos públicos “é uma mudança radical em relação ao que sempre se fez em política fiscal”.
“Acreditamos que a regra será aprovada. Não podemos esquecer que esse é um presidente que tem experiência em lidar com o Congresso”, diz. Para o economista, o teto tende a ser aprovado ainda neste ano e a reforma da Previdência – bem mais delicada –, no ano que vem.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, prevê uma expansão de 2,1% do PIB em 2017, “com viés de alta”. Ele destaca o avanço dos índices de confiança de empresários e consumidores. “Eles têm um ótimo desempenho preditivo em relação ao que deve ocorrer na economia 12, 18, 24 meses à frente”, diz. Oliveira também espera uma queda importante na taxa básica de juros (Selic), dos atuais 14,25% para 9,75% ou 9,5% até o fim do ano que vem.
No cenário desenhado pelo Santander, a recuperação será ditada pela indústria e pelo investimento produtivo. “A produção física de bens de capital cresceu 6,6% no segundo trimestre, em relação ao primeiro. E houve aumento expressivo na importação de máquinas e equipamentos. São indicativos interessantes para os investimentos”, diz o economista Rodolfo Margato.
Além dos fabricantes de maquinário, segmentos industriais impulsionados pelo setor externo – como alimentos, bebidas, têxteis, couro e celulose – também devem puxar o crescimento, tanto pelo aumento das exportações quanto pela substituição de importações aqui no Brasil, avalia Margato.