Para muitas pessoas, o início da era digital ou pelo menos o primeiro sinal de seu advento provavelmente não se deu com instruções em cartões perfurados alertando para não dobrar, amassar ou rasgar, nem com os primeiros computadores.Não, deve ter sido uma caixinha que repousa ao lado das camas nos acalmando para dormir à noite e nos acordando de maneira eletrizante pelas manhãs: o rádio-relógio digital. Em vez de ponteiros, ali foram instalados números, simples e claros, que viravam com o passar dos minutos números iluminados só foram lançados após algum tempo para nos dizer que uma nova era no consumo de eletrônicos havia chegado. Nos Estados Unidos, essa era chegou em 1968. E o rádio-relógio Sony Dream Machine, modelo 8FC-59, deu um upgrade repentino no criado-mudo. Existiam outros rádio-relógio digitais, mas esse era o modelo mais cobiçado. Em algum momento, o rádio-relógio da gigante japonesa estava em um terço dos lares norte-americanos, de acordo com a própria Sony. Os anos se passaram e o apelo pela invenção perdeu sua força. Nas décadas de 1980 e 1990, ganhar um rádio-relógio era a mesma coisa que ganhar um par de meias ou um jogo pega-varetas.
Tal cenário mudou nos últimos anos graças ao advento de players de música digital, sendo o iPod o mais famoso deles. As mudanças deram uma nova vida à combinação de rádio e relógio e a tornaram novamente em um presente interessante. Há quem diga que o rádio-relógio revivido pode acabar sendo desbancado de vários criados-mudos por seu primo, o smartphone que além de tocar músicas, pode se conectar a internet. Mas novas e sofisticadas versões do rádio-relógio podem ser conectadas à rede e isso significa que ainda é cedo para sair emitindo sua certidão de óbito.
Para uma invenção-combinação tão bem sucedida, a origem do rádio-relógio original está envolta em mistério. Muitos websites atribuem a invenção a James F. Reynolds e Paul L. Schroth Sr. na década de 1940, mas ninguém confirma evidências. De fato, Thomas Churm, americano que mora em Berlim, se determinou a desvendar este mistério em seu blog, OnlineClock.net. "Tivemos uma enorme dificuldade em rastrear quem inventou o rádio-relógio", disse. Ele nunca encontrou o inventor, e o escritório de patentes dos EUA não possui nenhum registro tampouco. (Churm, entretanto, alega ter inventado o primeiro despertador digital em 2006 e o primeiro rádio-relógio em um browser em 2008).
A Associação de Eletrônicos para Consumo também não deu muita atenção ao rádio-relógio. Ela nunca monitorou as vendas de aparelhos rádio-relógio, apenas rádios e relógios separadamente, até 2007. Todavia, mesmo apesar dos pobres registros, ficou evidente que, a partir do momento que os fabricantes incluíram docks para MP3 players, sendo a maioria para iPod, as vendas da categoria explodiram. Foi a "explosão do MP3", de acordo com Chris Ely, gerente de análise industrial para a ala comercial da associação. Em 2009, as vendas registradas somaram 12,8 milhões de dólares, um aumento de 40% se comparados aos números do ano anterior. Repentinamente, ele tornou-se valioso novamente.
Renovação total
Para atingir tal êxito, entretanto, ele teve de ser totalmente remodelado. Se o rádio-relógio não tiver um slot para iPod, iPhone ou um leitor de mp3 qualquer, ele provavelmente irá ficar encalhado na prateleira. A Associação de Eletrônicos para Consumo estima que as vendas totais de rádio-relógio tradicionais diminuirão cerca de 25% nos próximos quatro anos, enquanto que as vendas dos modelos com dock subirão cerca de 30%. A indústria de eletrônicos espera rever através da internet o mesmo sucesso que o iPod trouxe para os aparelhos rádio-relógio há quatro ou cinco anos.
O Chumby, introduzido em 2007, foi o primeiro rádio-relógio conectado à internet. O aparelho é um pouco estranho: parece uma pequena bolsa conectada a uma tela LCD. Após o aparelho ser conectado a uma rede doméstica sem-fio, sua tela pode exibir a hora, como um relógio normal, ou notícias, previsões do tempo e preços de ações. Ele também pode tocar músicas de serviços de streaming musical como os oferecidos pelo Pandora. Suas vendas foram modestas, principalmente porque dependiam de propaganda boca a boca, e não de uma campanha publicitária brilhante. Todavia, outras empresas aproveitaram a idéia.
Tradução: Thiago Ferreira