Muitos fatores influenciam as escolhas alimentares das crianças: onde elas comem; o que os amigos e irmãos comem; o que os pais comem, bebem e trazem para casa; o que é servido na escola; e, é claro, o que elas gostam.
Mas, se você é pai ou mãe, gostaria que as escolhas alimentares de seu filho fossem determinadas por empresas produtoras cujo primeiro objetivo é lucrar, ao atraí-las para produtos de valor nutricional questionável?
No mês passado, o Center for Science in the Public Interest (Centro de Ciência do Interesse Público), grupo baseado em Washington, deu a pior nota para 95 de 128 empresas de alimentos e entretenimento por suas políticas ou falta delas em relação à comercialização para crianças. Isso apesar de a Iniciativa de Publicidade de Alimentos e Bebidas para Crianças pelo Better Business Bureau, no qual 16 grandes empresas de alimentos e restaurantes, representando cerca de 80% dos gastos com publicidade de alimentos na televisão, ter anunciado que não comercializaria alimentos para crianças abaixo dos 12 anos se esses produtos não alcançassem os próprios padrões nutricionais das empresas.
Infelizmente, esse justamente é o problema. O que uma empresa como a Kelloggs considera uma quantidade aceitável de açúcar numa porção de cereal matinal pode não ser o que um pai ou mãe com conhecimentos nutricionais escolheriam. "Apesar do sistema auto-regulatório da indústria, a grande maioria das empresas de alimentos e entretenimento não tem proteções para crianças", disse Margo G. Wootan, diretor de política de nutrição do centro.
Num estudo divulgado em março de 2007, a Henry J. Kaiser Family Foundation observou que crianças entre 2 e 7 anos de idade veem uma média de 12 anúncios de comida na televisão por dia, ou 4.400 por ano. Crianças entre 8 e 12 anos veem uma média de 21 por dia mais de 7.600 por ano. Para adolescentes, os números são 17 por dia, ou mais de 6 mil por ano.
Vários estudos demonstraram que esses anúncios de televisão realmente possuem um efeito não um efeito bom sobre o que as crianças comem, e quanto comem. Num estudo com 548 alunos de cinco escolas públicas próximas de Boston, publicado em 2006, pesquisadores descobriram que, para cada hora adicional de televisão, as crianças consumiam um adicional de 167 calorias, especialmente alimentos altamente calóricos e pobres em nutrientes, frequentemente anunciados na TV.
Filmes
Agora, como sugere um novo estudo, é hora de prestar atenção a promoções sutis de alimentos, bebidas e estabelecimentos questionáveis, que aparecem em filmes populares entre crianças e adolescentes. "Os filmes", como afirmam os autores, "são uma fonte potente de publicidade para crianças, que tem sido amplamente ignorada". O estudo, publicado em março no jornal Pediatrics, analisou o posicionamento de marcas de alimento, bebidas e restaurantes retratados nos 20 maiores sucessos de bilheteria em cada ano, de 1996 a 2005. "Descobrimos que uma proporção surpreendente dos filmes era direcionada a crianças e adolescentes continha publicidade de marcas", escreveram os autores.
Embora a Coca-Cola e a Pepsi tenham compromisso de não anunciar seus produtos em programas de TV para crianças, os pesquisadores descobriram que "produtos de bebidas com açúcar dessas empresas apareceram regularmente em filmes, especialmente aqueles indicados para crianças e adolescentes". Das 1.180 inserções de marca identificadas, 26% foram para doces e similares e 21% para lanches salgados; 76% das bebidas eram adicionadas de açúcar, e dois terços dos restaurantes eram de fast food. Os pesquisadores descobriram que "refrigerantes, batatas e marcas de fast food dominam os filmes com classificação até 13 anos".