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Companhias aéreas

O setor que vai seguir refém do coronavírus por mais de 3 anos

Aviões parados em aeroporto de Paris: economia espera reabertura. (Foto: Thomas SAMSON / AFP)

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O setor aéreo, um dos mais afetados pela crise causada pela pandemia da covid-19, deve sofrer impactos negativos em sua cadeia pelo menos até o fim de 2023, segundo a consultoria Bain & Company. Hoje, a maior parte da frota global de aviões está parada por causa do fechamento de fronteiras e das medidas de distanciamento social.

Segundo o estudo da Bain, fabricantes de aeronaves devem registrar uma queda significativa em suas produções nos próximos cinco anos. No caso das companhias aéreas, a demanda global só deve voltar ao patamar pré-coronavírus em meados de 2022, isso considerando que a crise seja moderada.

Para as fabricantes, a consultoria prevê uma situação mais difícil no segmento de aeronaves de grande porte (com dois corredores), que deve retomar o nível pré-crise em dezembro de 2023. Entre os aviões menores (de um único corredor), a projeção é de recuperação a partir de novembro de 2021.

Até agora, a Airbus, por exemplo, reduziu sua produção em um terço. Segundo a companhia, não é possível afirmar quando o nível pré-covid-19 será retomado. A empresa reconhece que o segmento de aviões de grande porte sofrerá mais, mas lembra que modelos de um corredor e com alcance internacional, segmento em que é líder, devem se recuperar mais rápido.

O estudo da consultoria aponta também que, com a crise, 35% da frota global de aeronaves ainda deverá estar parada no fim deste ano, e que o cancelamento de encomendas de aviões pode chegar a 20% mesmo com os governos ajudando as aéreas. A Gol, por exemplo anunciou na semana passada que, em meio a uma negociação com a Boeing para ser compensada pelo atraso na entrega de aviões 737 MAX, reduziu suas encomendas de 129 jatos para 95.

A Bain & Company indica ainda que o novo cenário econômico favorecerá a manutenção de aeronaves antigas no mercado, prejudicando empresas como Embraer, Boeing e Airbus. A fabricante brasileira de aviões é uma das que lançou recentemente uma nova família de jatos, cuja principal vantagem é gastar menos combustível. O problema, segundo a Bain, é que aeronaves mais econômicas deixam de ser tão atraentes para as empresas aéreas quando o preço do petróleo está em baixa, como acontece agora.

Outro fator que não favorece as fabricantes no momento é que deve crescer o número de aviões disponíveis no mercado secundário. Isso fará com que os preços dos jatos usados sejam mais vantajosos quando comparados com os novos.

Menos pessimista que a Bain, o banco UBS prevê neste ano uma queda de 16% na produção da Boeing e da Airbus. A americana deve fabricar 490 unidades, enquanto a europeia, 860, aponta relatório do banco. O UBS, porém, prevê que as antigas estimativas de produção que tinha para o setor sejam atingidas apenas em 2023.

Demanda por voo

Para as companhias aéreas, a Bain projeta um cenário tão complexo quanto para as fabricantes. A queda na demanda global por voos deve atingir 70% em junho e ficar entre 40% e 55% neste ano. O número está em linha com estimativas da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata), que prevê recuo de 55% na receita com passageiros.

No caso das empresas aéreas que operam na América Latina, a Bain espera que a demanda por voos domésticos retorne ao nível que se tinha antes da crise apenas no início do segundo semestre de 2022. Para voos internacionais, isso não ocorrerá antes de junho de 2024.

Segundo André Castellini, sócio da consultoria, além dos impactos da crise econômica e do fechamento de fronteiras, mudanças nos hábitos do consumidor devem reduzir a procura por voos no futuro. "O segmento corporativo deve ficar mais restritivo para viagens após experimentar um uso maior das videoconferências", explica.

O consultor dá a própria empresa como exemplo. Hoje, quando profissionais são recrutados no exterior, um funcionário vai até o local para fazer a seleção. "Isso deve mudar. Talvez, a primeira fase passe a ser por vídeo."

Esse cenário de recuperação a partir do segundo semestre de 2022 considera que a crise vai ser moderada. Caso ela se prolongue e as mudanças no hábito do consumidor sejam muito profundas, a retomada se daria ainda mais tarde.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, diz, no entanto, não ser possível prever quando a recuperação deve ocorrer, dado que dólar e combustível estão muito voláteis. Ele afirma também não ser possível saber qual será o comportamento das pessoas quando o pior da crise passar. "Só posso dizer que o setor vai se recuperar, como e em quanto tempo são especulações."

Até agora, a demanda doméstica no Brasil recuou 90%, enquanto a internacional, perto de 100%.

Cenário dificulta venda de Embraer para Boeing

O cenário para as fabricantes de aviões é tão delicado que, segundo fontes do setor, pode atrapalhar a conclusão da venda da Embraer para a Boeing. "A prioridade da Boeing deixou de ser o acordo e passou a ser a própria sobrevivência", disse uma fonte do mercado. A americana já indicou que a indústria aeroespacial precisará de US$ 60 bilhões do governo americano para sobreviver a crise.Entre os entraves apontados por analistas está a capacidade de a empresa pagar os US$ 4,2 bilhões pelos quais o acordo foi fechado. Além da redução da demanda por jatos prevista para os próximos anos, os dois acidentes com os aviões 737 MAX, que mataram 346 pessoas e levaram o modelo a parar de operar, já haviam prejudicado a situação de caixa da companhia.Outro problema é o valor do contrato, que foi fechado entre as duas empresas em julho de 2018. Um dia antes do negócio ser anunciado, a empresa valia R$ 19,8 bilhões no mercado. Hoje, esse número é de R$ 7,3 bilhões, um recuo de 63%.Analistas apontam que uma possibilidade agora é que a Boeing retarde a conclusão do negócio. Mas, caso o acordo não seja fechado, a brasileira pode precisar de ajuda do governo para atravessar o período. Também seria possível buscar um acordo de venda com a China, que quer crescer no setor com a estatal Comac. Desde o ano passado, o acordo entre as empresas vinha sofrendo dificuldade para conseguir aval das autoridades reguladoras da União Europeia, o que atrasou a conclusão do negócio. A previsão inicial era que a americana assumisse os 80% da divisão de jatos comerciais da brasileira no fim do ano passado. Procurada, a Boeing afirmou não comentar "discussões entre as partes ou especulações do mercado". "Estamos trabalhando no processo de aprovações regulatórias e em condições ainda pendentes para a conclusão do negócio." A Embraer, por sua vez, informou que continua "tomando todas as medidas necessárias para a conclusão do acordo".

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