Um sonho que começou a ganhar forma há seis anos nas mãos do luthier (fabricante de instrumentos musicais) Wendell de Freitas ao fazer um violino com eucalipto plantado pela Klabin a maior fabricante de papéis do país ganha novos contornos. Através de uma parceria com a Universidade Livre da Cultura (Unicultura), de Curitiba, e do Instituto Federal do Paraná (IFPR), no câmpus de Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, será criado um curso de lutheria, com início em 2013.
Para o sonho ficar completo, o luthier e os demais envolvidos no projeto querem implantar uma cooperativa de fabricação de instrumentos musicais para aquecer o mercado de música na região e ainda gerar renda para famílias carentes. O pontapé inicial é um prêmio concedido em novembro pelo Ministério da Cultura. O reconhecimento, aliado à aprovação do projeto na Lei Rouanet, é uma ponte para a obtenção de recursos para a iniciativa.
O prêmio foi concedido pela Secretaria de Economia Criativa, do Ministério da Cultura, que reconhece propostas ligadas à geração de renda na área cultural. O projeto Oficina Escola de Lutheria já estava aprovado pela Lei Rouanet desde 2011 e foi inscrito no edital do Ministério, aberto em fevereiro deste ano. Das 383 propostas finalistas, 150 foram selecionadas e vão receber, juntas, R$ 3,6 milhões.
O único projeto paranaense selecionado foi o da oficina de lutheria e recebeu R$ 26 mil como incentivo inicial para a sua implantação. O projeto também já recebeu R$ 245 mil de cerca de R$ 1 milhão que pretende captar através da Lei Rouanet. "Um projeto premiado amplia o repertório no currículo e tem mais chance de receber apoio pela lei", comenta a coordenadora-geral de Ações Empreendedoras da Secretaria de Economia Criativa, Suzete Nunes.
Pavilhão
Para receber a primeira turma de futuros luthieres, o câmpus do IFPR em Telêmaco Borba já está finalizando o pavilhão que sediará a oficina de lutheria. Segundo o diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão, Ronaldo Mendes Evaristo, a compra de instrumentos e maquinários está em andamento.
A intenção é iniciar as aulas no primeiro semestre de 2013. O coordenador do curso e professor de música, Rafael Augusto Michelato, explica que a primeira turma terá entre 25 e 30 alunos e o curso terá duração de um ano e meio, dividido em três módulos.
Na fase inicial, serão fabricados xilofones e marimbas, que são instrumentos de percussão, mas os alunos sairão do curso aprendendo a fazer ainda violão e violino. O curso será gratuito e a matéria-prima será o eucalipto vendido pela Klabin. É o segundo curso de lutheria no Paraná o primeiro é o ofertado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
ProduçãoMatéria-prima para os instrumentos é abundante na região
A unidade da Klabin já alimenta a cadeia produtiva da madeira com o fornecimento da matéria-prima para a fabricação de móveis e outros subprodutos da madeira reflorestada. Com a proposta da Unicultura, será usado, inicialmente, eucalipto para a produção de instrumentos musicais. O coordenador técnico do projeto, Wendell de Freitas, lembra que o interessante é que o eucalipto é certificado e, portanto, com a comprovação de que não vem de área desmatada.
"Um eucalipto, com corte de 20 anos, pode produzir até 300 instrumentos musicais", diz o diretor da Unicultura, Ricardo Trento. Ele é um entusiasta do projeto. "O projeto surge da necessidade de atender uma demanda reprimida, porque agora a lei exige a oferta de música nas escolas, e de promover o resgate social das famílias de baixa renda", diz.
Convencionalmente, são usadas madeiras europeias na fabricação de instrumentos musicais. Com a alternativa na produção nacional, os instrumentos podem ficar mais baratos. Desde o início deste ano está em vigor a lei nacional 11.769, que prevê a oferta do ensino de música nas escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio.
Como o projeto pretende criar uma cooperativa, através da captação de recursos da Lei Rouanet, haveria produção em escala para atender aos estabelecimentos de ensino. A proposta, lembra Trento, é selecionar os futuros cooperados através dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) ligados à prefeitura. Trento explica que não é preciso ter experiência com música para fabricar um instrumento musical. "O luthier não precisa ser um grande músico, não precisa ser um instrumentista, ele vai aos poucos conhecer a técnica de fabricar um instrumento", complementa.