O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pensa em outra coisa desde que se reelegeu: quer encontrar uma forma de "destravar" a economia brasileira e fazê-la crescer 5% ao ano, começando já por 2007. Mas, para a grande maioria dos economistas, as declarações do presidente nas últimas semanas sinalizam que as medidas que ele pretende adotar vão na contramão do chamado "crescimento sustentável" aquele que ocorre sem aumento do endividamento público e sem prejuízos ao controle da inflação.
A idéia do presidente é primeiro garantir um crescimento vigoroso da economia, que aumentaria naturalmente a arrecadação. Com isso, o governo administraria mais facilmente questões como o crescente déficit da Previdência Social e o aumento descontrolado dos gastos públicos. O caminho sonhado pelo presidente é exatamente o oposto do que sugeriram quase todos os especialistas que se reuniram com ele desde a reeleição e que o fizeram questionar se foram todos formados pela mesma escola, tamanha a semelhança das opiniões.
A convicção quase generalizada é que, primeiro, o governo precisa reduzir os seus gastos. Assim, teria mais dinheiro para investir em infra-estrutura e ainda poderia reduzir impostos, aliviando uma carga tributária que hoje abocanha quase 38% das riquezas geradas pelo país. Pagando menos tributos, os empresários também poderiam elevar os seus investimentos e, assim, produzir mais sem pressionar a inflação. Calcula-se que, para a economia avançar 5%, a taxa de investimento dos setores público e privado teria de subir dos atuais 20% para pelo menos 25% do Produto Interno Bruto (PIB).
O detalhe é que, quando planeja investir, o empresário não olha apenas para o bolso. Ele também avalia até que ponto vale a pena gastar suas economias em um projeto que, mais adiante, pode ser interrompido por questões jurídicas e ambientais, ou mesmo por atitudes intempestivas de governantes. Por isso, a insegurança jurídica e a precariedade dos marcos regulatórios também são apontados como inimigos do crescimento.
Sem atuar em todas essas frentes, o país dificilmente crescerá 5% ao ano. Por sinal, as previsões de corretoras e consultorias econômicas estão bem longe disso (veja quadro nesta página), o que demonstra um certo ceticismo em relação à capacidade, e à vontade, do governo de fazer tudo isso a tempo. "O que vemos no momento são apenas proposições, e contraditórias. O governo diz que vai manter as concessões sociais [aumentando salários sem mexer nas aposentadorias], cumprir a Lei de Responsabilidade Social e ainda fazer o país crescer 5%. Essa conta simplesmente não fecha", diz a economista Virene Roxo Matesco, professora do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Crescer 5%, só com mágica", diz o economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados. Ele lembra que em 2004, quando o país cresceu 4,9%, existia uma conjuntura internacional muito favorável o dólar valia mais, os preços das commodities estavam em alta, e o setor externo foi o motor do crescimento brasileiro. "Hoje, só nos resta o mercado interno, principalmente a construção civil, que está indo muito bem após cinco anos de queda. Mas não adianta esperar apenas por um setor. Em 2005 e 2006, o crescimento foi ancorado basicamente em dois setores, mineração e petróleo, e ainda assim foi muito baixo."