O mercado está sendo invadido por telefones touchscreen e não restam dúvidas sobre a razão disso: as vendas do iPhone surpreenderam até mesmo os maiores admiradores do produto. Em contrapartida, o mercado de computadores desktop já começa a dar indícios de estar disposto a adotar a mesma tecnologia. Os próximos sistemas operacionais da Apple, assim como a próxima versão do Windows irão possuir "ganchos" para a tecnologia touchscreen, se instalada em hardware apropriado.
A divulgação desta notícia gerou rumores que põem em dúvida o futuro do mouse e do teclado. "Já possuímos tecnologia touch (toque) integrada em produtos eletrônicos, desde os aparelhos multitouch da Apple (iPhone, MacBook Pro e o novo sistema operacional Mac), até consoles de vídeo games (Nintendo DS), PCs e laptops", declarou o porta-voz da HP, empresa que lançou recentemente (inclusive no Brasil) o TouchSmart, um sistema desktop com interface de toque.
Em julho passado, a Dell lançou um módulo para tornar seus laptops Latitude XT em verdadeiros sistemas operacionais touchscreen. Os lançamentos conferem peso aos comentários do respeitado instituto de pesquisas Gartner, que declarou que os dias de periféricos como o mouse e o teclado estariam contados. Em entrevista ao website britânico de notícias BBC News, a organização declarou que o mouse teria, no máximo, de três a cinco anos de vida e deverá ser substituído por tecnologia de computação baseada em gestos e outras tecnologias de reconhecimento gestual, tais como as que estão emergindo do mercado de entretenimento doméstico. O futuro, portanto, estaria no Wii.
Existem atualmente mais produtos de reconhecimento gestual utilizados para entretenimento doméstico do que os que serão lançados para a computação. Richard MacKinnon, um psicólogo organizacional que presta assessoria para a empresa de avaliação pessoal Talent Q, possui pós-graduação em ergonomia e não acredita que aparelhos touchscreen venham a ser utilizados ou desenvolvidos para o uso por períodos prolongados. Segundo ele, tais dispositivos promovem, de forma não intencional, a má-postura, menor velocidade na digitação e, conseqüentemente, produtividade mais baixa. "Os aparelhos touchscreen podem ter grande valia no mundo do entretenimento, mas não acredito no mesmo sucesso dentro de um escritório". Outros acadêmicos divergem. "Tudo depende da facilidade para o uso da tecnologia, se ela atende ao propósito a que se destina e o sucesso com que ela consegue mapear e se adaptar ao modelo mental das tarefas das pessoas", disse Chris Clegg, professor de psicologia organizacional e diretor-assistente do Centro de Estratégia Organizacional, Aprendizado e Mudanças da Leeds University Business School, no norte da Inglaterra.
As gerações futuras provavelmente terão mais facilidade de adaptação às novas tecnologias para a inserção de dados do que os atuais "catadores de milho". Especialistas fora do elmo da psicologia têm suas ressalvas. Pete Bennett, chefe-executivo do provedor britânico de serviços de treinamento Learning Resources International, possui dúvidas sobre a qualidade da informação disponibilizada a "não-tecladistas" ou dados inseridos por eles. "Ninguém quer bancar o vanguardista e é óbvio que muitas mudanças ainda estão por vir, mas eu simplesmente não consigo imaginar nada além do que funções básicas. Temos experiência no desenvolvimento de materiais de aprendizado, mas, para os usuários que utilizam apenas um dos dedos, não existe o mesmo tanto de ações envolvidas".
De acordo com o executivo, o dedo atuando como um mouse é uma nova realidade, mas devemos lembrar que mouses não servem para digitar. "Sem intenção de ofender, acho tudo isto muito estúpido. Pode ser que esta nova tecnologia seja ótima para se fazer compras ou qualquer outra tarefa que envolva listas, mas qualquer outra atividade que exija um pouco mais do raciocínio ou de mais interatividade estará fadada ao fracasso", comenta.
Um usuário do HP Touchsmart, que é o primeiro computador "normal" a ser lançado com tecnologia touchscreen, já revelou um misto de entusiasmo e receios com o produto. "É um aparelho fantástico, com DTV integrado e muito fácil de usar. Porém, eu não usei o touchscreen. Em parte devido à falta de costume, mas principalmente por que o computador fica todo cheio de marcas de dedo após o uso. Acho que o computador devia vir com uma caixa de lenços", revela.
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