A intensificação dos conflitos comerciais criou um momento de espiral descendente para a economia mundial, à semelhança do que aconteceu durante a crise financeira de 2008, e os governos não estão fazendo o bastante para prevenir os danos a longo prazo. A avaliação é da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em seu mais recente relatório, divulgado nesta quinta-feira (19).
A organização com sede em Paris reduziu praticamente todas as projeções de crescimento que havia feito há quatro meses, num cenário em que as políticas protecionistas prejudicam a confiança dos investidores e os riscos se avolumam nos mercados financeiros. A OCDE projeta que a economia mundial irá crescer apenas 2,9% neste ano.
“Nosso medo é de que estejamos entrando numa fase em que o crescimento ficará em níveis muito baixos”, disse o economista-chefe da instituição, Laurence Boone. “Os governos precisam aproveitar as baixas taxas de juros atuais e investir pensando no futuro, para evitar que esse ritmo arrastado seja o novo padrão da realidade mundial”.
A OCDE é a mais recente instituição a soar o alarme quanto à situação da economia do globo. Nas duas últimas semanas, o Federal Reserve (banco central americano), o European Central Bank, o Banco do Povo da China e vários outros reduziram os juros para sustentar o consumo, e pediram medidas de estímulo fiscal dos governos, para que seus esforços não sejam em vão.
Peso sobre trabalho, renda e consumo
A indústria sofreu o golpe mais duro da crise econômica resultante dos embates comerciais entre os EUA e a China. O setor de serviços tem demonstrado uma resiliência pouco comum nessas circunstâncias, mas o dirigente da OCDE advertiu que “a fraqueza persistente” na indústria vai pesar sobre o mercado de trabalho, a renda e o consumo das famílias.
Segundo o relatório, somam-se ao quadro riscos adicionais da rápida desaceleração na China e de um Brexit sem acordo, que poderá empurrar o Reino Unido para a recessão e reduzir consideravelmente o crescimento da Europa.
A OCDE disse que “um esforço coletivo é urgente” e que a eficácia das políticas monetárias pode ser melhorada por um “forte apoio de políticas fiscais e estruturantes”.
É um apelo que os bancos centrais vêm fazendo há meses, e cada vez com mais intensidade. Depois da última medida de incentivo monetário, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, sublinhou que “está mais do que na hora” de serem tomadas medidas fiscais, dando a entender que sobrou pouca coisa para o BCE fazer.
“O objetivo da zona do euro hoje é não depositar todas as fichas na política monetária”, disse Laurence Boone. “É preciso investir nas reformas estruturais necessárias para um crescimento sustentável, e isso tem de ser feito agora”.