O secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurria, afirmou ontem que agora é o momento certo para os credores privados da Grécia fecharem um acordo com o governo grego sobre a reestruturação da dívida do país.
Segundo Gurria, a Grécia não pode se deixar ser chantageada pelos credores privados e deve enviar um sinal de que seria pior para eles se não houver acordo. "Eu estou convencido de que agora é o momento certo para fechar um acordo. Tem de ficar claro, nesta etapa, que nós já passamos, há muito tempo, as discussões sobre risco moral e participação voluntária. Agora o acordo precisa ser fechado. É preciso ter uma participação de 100%. Mas, honestamente, eu sugiro fortemente que um sinal muito claro seja dado para aqueles que talvez estejam pensando em não participar, um sinal de que a outra alternativa seria pior do que a participação", afirmou.
A Grécia está discutindo com os credores privados um desconto (haircut) no valor dos seus bônus, o que reduziria sua dívida em 100 bilhões de euros. Um acordo com esses credores é uma precondição para a liberação do segundo pacote internacional de resgate para o país. Mas as negociações estão enfrentando dificuldades, principalmente em relação ao cupom (juro nominal) dos novos títulos, que serão oferecidos em troca dos bônus antigos.
Gurria também disse que o Banco Central Europeu (BCE) deveria ter um papel mais ativo nas conversas sobre a reestruturação da dívida grega, permitindo que sua carteira de bônus gregos seja incluída no processo. "Eu incluiria a carteira do BCE no pacote. O BCE poderia contribuir pelo menos marcando seus bônus com base no valor de mercado, porque ele os comprou com um desconto, então pode beneficiar a Grécia com um desconto", argumentou.
Mais cortes
O gabinete de governo da Grécia concordou ontem com mais 325 milhões de euros em cortes de gastos neste ano, para atender às demandas dos credores internacionais, em troca do novo pacote de ajuda, segundo uma fonte do governo grego. O gabinete se encontrou antes da reunião do grupo de ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo), que ocorre hoje na Bélgica. Na ocasião, eles devem discutir a liberação do segundo pacote para a Grécia, estimado originalmente em 130 bilhões de euros.
Mas a fonte, que participou da reunião do gabinete, disse que o governo grego ainda está esperando que a chamada troica de credores internacionais formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) aprove os novos cortes de gastos. "As economias vão vir de novos cortes no orçamento de investimentos públicos, nos gastos com defesa e saúde", comentou a autoridade. "Nós ainda não sabemos se a troica vai aceitar isso", acrescentou.
Sob os termos do novo pacote de resgate, a Grécia concordou com um corte de gastos de mais de 3 bilhões de euros neste ano, para compensar um rombo maior que o esperado no orçamento de 2011. Na semana passada, a Grécia aprovou a maior parte das medidas, mas os ministros de Finanças europeus rejeitaram os cortes propostos, dizendo que eles não eram específicos o bastante para atingir as metas definidas. "Essas novas medidas são muito mais concretas", outra fonte do governo afirmou ontem.