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Há um mês acampados dentro das fábricas da Mabe em Campinas e Hortolândia, no interior de São Paulo, cerca de 2 mil ex-funcionários aguardam uma ordem de desocupação que deve ocorrer a qualquer momento. “Nossa intenção é não desistir, mas a decisão de sair ou ficar será coletiva”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, Sidalino Orsi Júnior. “Nosso receio é em relação à violência policial.”

As duas unidades produziam fogões e geladeiras das marcas Dako e Continental e foram ocupadas em 15 de fevereiro, após o grupo mexicano Mabe decretar falência. Os trabalhadores foram demitidos sem receber salários atrasados desde dezembro e rescisões.

Grupos de 50 a 100 funcionários se revezam para manter a ocupação. Dormem nas instalações dos restaurantes e as refeições são preparadas com alimentos doados pela comunidade. Também cuidam da limpeza, segurança e ronda. As linhas de montagem foram lacradas por eles, para evitar danos ao maquinário. “Queremos que as fábricas estejam prontas para retomar a produção”, diz Orsi.

Segundo Orsi, a Justiça já concedeu liminar em favor da desocupação, mas o sindicato ainda não foi notificado. A Capital Administradora Judicial, que cuida da massa falida, confirma ter entrado com pedido de reintegração, mas não comenta se já foi acatado.

A empresa e o sindicato não chegaram a um acordo sobre a retomada da produção. A Capital informa que isso só será possível após a desocupação e avisa que a demora coloca em risco o plano de continuidade. A administradora pretende recontratar cerca de 550 trabalhadores para uma primeira etapa de produção. O sindicato quer o retorno de todos, além do pagamento das rescisões.

Natal e ano-novo

No caso da unidade de Campinas, os funcionários já estavam acampados em frente ao prédio desde 22 de dezembro, após a empresa dar férias coletivas sem pagar os salários. Com a falência, houve ocupação simultânea das duas instalações.

“Passei Natal, ano-novo, carnaval e meu aniversário longe da família. Em casa só vou para lavar as roupas. Queremos nossos direitos. Não podemos desistir dessa luta”, diz o ex-funcionário e dirigente sindical Adriano Soares dos Santos.

Funcionário da empresa há 20 anos, Sandro José Jorge divide seu tempo entre a fábrica e bicos que consegue fazer para tentar pagar as contas de casa. “Só via meus filhos nos fins de semana. A gente deixou parte da vida aqui. Agora, me sinto enganado e fico chateado com essa situação. A empresa nos deu um tapa na cara com esse tal pedido de falência”, afirma Jorge. Em 2009, ele foi diagnosticado com bursite e tendinite em razão de esforços repetitivos e intensos na linha de produção. “Não é fácil chegar aos 43 anos sem emprego, com doenças e ter de pagar contas como água e luz.” Parentes ajudam com alimentos para ele, a esposa e o filho.

No terreno da empresa há um lago onde os funcionários pescam para garantir parte das refeições diárias. “O clima é de tranquilidade. Mas esse silêncio assusta. Não sabemos se daqui a cinco minutos vem alguém com um monte de policiais para tentar nos tirar daqui à força”, afirma Santos.

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