A operadora de telefonia Oi e o BNDES firmaram acordo para suspensão do pagamento da dívida (stand still, no jargão econômico) por 180 dias. A medida é uma das muitas ações que a companhia vem tomando para buscar uma saída junto aos credores diante do risco de entrar em recuperação judicial.
A Oi tem cerca de R$ 50 bilhões em dívidas, das quais R$ 9,9 bilhões com bancos de desenvolvimento, como o BNDES, e agências de fomento à exportação, segundo dados relativos a março (os últimos disponíveis). Empresas em dificuldade financeira costumam firmar um stand still para renegociar com mais calma novas condições de pagamento junto aos credores.
O BNDES confirmou a assinatura deste acordo, mas não deu detalhes sobre valores. A Oi não comentou. A negociação com os bancos, que inclui também Caixa, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, está sendo conduzida diretamente pela Oi, com o objetivo de adiar o vencimento da dívida.
De acordo com documentos publicados na internet pela companhia na sexta-feira passada, a proposta da Oi era postergar por seis anos o prazo para quitar um total de R$ 3,2 bilhões junto ao BNDES, considerando dívidas com garantia.
Os documentos mostram que o total de dívidas da Oi com bancos públicos e privados em negociação chega a R$ 16,8 bilhões. Com o Banco do Brasil, por exemplo, as conversas visam a postergar o pagamento de R$ 4 bilhões. Com a Caixa Econômica Federal, R$ 1,8 bilhão está em jogo. Já com o Itaú, R$ 1,3 bilhão.
Os documentos foram postados no site da Oi depois que a empresa reconheceu, sexta-feira passada, que não havia chegado a um consenso com os detentores de bônus. Esse grupo de credores é peça fundamental para que a reestruturação da dívida da tele seja bem-sucedida, dado seu peso na estrutura de capital da empresa. Juntos, eles representam quase 70% do valor que a Oi deve na praça.
Mês crucial
O ex-presidente da Oi Bayard Gontijo esteve em Nova York em 6 e 7 de junho para negociar com os donos de bônus. Estes teriam aceitado as linhas gerais da proposta e, em seguida, elaboraram um curto documento com os principais pontos negociados. O mais polêmico deles foi a conversão de aproximadamente R$ 25 bilhões da dívida em ações da companhia, o que lhes daria ao menos 95% da operadora de telefonia. Os atuais acionistas seriam diluídos.
Bayard apresentou o desfecho da negociação com os investidores ao Conselho de Administração semana passada, mas os representantes da Pharol (ex-Portugal Telecom e maior acionista individual da Oi, com 22%) criticaram a proposta, o que culminou com a renúncia de Bayard em 10 de junho e o reconhecimento, uma semana depois, pela Oi de que um consenso não havia sido obtido junto aos detentores de bônus.
A renúncia de Bayard surpreendeu o mercado e os credores. O mês de junho é crucial na renegociação porque em 26 de julho vencem 231 milhões de euros referentes a uma emissão de títulos no exterior. O vencimento seria de 400 milhões de euros, mas a Oi recomprou parte dos títulos no ano passado, restando 231 milhões no mercado. Avalia-se que, sem a certeza de que terá sua dívida alongada, a tele poderia não honrar esse compromisso, aproximando-se de uma recuperação judicial.