Os salários no Brasil crescem a um ritmo duas vezes maior do que a média mundial. Mas a produtividade do brasileiro não tem acompanhado o aumento da renda. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que ainda faz um alerta: o consumo tem registrado uma expansão ainda maior do que os salários, e trabalhadores estão se endividando, usando 100% de suas rendas para adquirir produtos e serviços.
Em média, os salários no mundo aumentaram em 1,2% em 2011. Mas, nos países ricos, a renda do trabalhador caiu 0,5% diante do desemprego, recessão e das políticas de austeridade. Na Grécia, a redução salarial foi de 15% em 2010 e 2011, e na Espanha de 4%. No Reino Unido, os salários recuaram 6% entre 2009 e 2011, e nos Estados Unidos há uma estagnação da renda.
Já no Brasil, a taxa cresceu 2,7% no ano passado, depois de uma expansão de mais de 3% ao ano desde 2004. A taxa de 2012, apesar de mais elevada que no resto do mundo, ficou abaixo da média dos últimos anos. Em 2006, a expansão foi de 4%, ante 3,2% em 2007, 3,4% em 2008, 3,2% em 2009 e 3,8% em 2010. O que os dados mostram, porém, é que a produtividade do trabalhador brasileiro não seguiu o mesmo ritmo. Enquanto a média de expansão anual dos salários foi de pouco mais de 3% nos oito anos, os ganhos de produtividade ficaram em 2,2%.
No resto do mundo, a OIT nota uma tendência contrária: salários crescem menos do que a produtividade. Ou seja, trabalhadores estão produzindo cada vez mais, mas sem aumento de renda proporcional. "Os trabalhadores estão se beneficiando menos dos frutos do trabalho, enquanto os donos do capital se beneficiam mais", diz o estudo.
Nos países ricos, a produtividade aumentou duas vezes mais rápido do que os salários desde 1999. Na Alemanha, cresceu 25% em 20 anos, enquanto os salários apenas acompanharam a inflação. Se no Brasil os salários registraram aumento, ele não foi o maior entre os emergentes. O destaque continua a ser a China, com um aumento de renda dos trabalhadores de 10% ao ano, mesmo na crise. Segundo a OIT, foi essa tendência que permitiu que, em pouco mais de uma década, os salários quase triplicassem. Países como Uruguai, Rússia, África do Sul, Malásia e Tailândia registraram crescimento na renda superior ao do Brasil.
Apesar da expansão, a OIT diz que a disparidade salarial média de um operário brasileiro numa fábrica e um trabalhador num país rico ainda é grande. Por hora, um funcionário de uma fábrica no Brasil ganha em média US$ 5,50, menos do que se ganha em Portugal ou na Argentina. Na Grécia, o salário é de US$ 13 por hora, ante mais de US$ 23 nos EUA e US$ 35 na Dinamarca.
Dívida
Outro alerta da OIT se refere ao destino dado a essa renda extra no País e o endividamento dos trabalhadores. Para a entidade, há sinais claros de um padrão de consumo que está levando à elevação de dívidas, acima mesmo de um aumento do consumo baseado nos salários. Na prática, a expansão do consumo não está seguindo o aumento da renda, mas dos créditos.
Na avaliação da Organização, "há uma propensão muito alta para consumir" entre os beneficiados pelo aumento de salários no Brasil. "Estudos mostram que assalariados gastam 100% de suas rendas, com poupanças privadas vindo apenas dos lucros feitos pela camada mais elevada da população", alertou a OIT. "Ainda que esse ambiente beneficie aqueles que promovem investimento de capital, está também levando a uma acumulação de dívidas que alimentam o crescimento econômico via consumo", indica a entidade.
Guy Ryder, diretor-geral da OIT, admitiu a tendência de endividamento do trabalhador brasileiro. "Sabemos que os brasileiros gostam de consumir. Isso pode ser central na economia e gerar dinamismo", apontou o britânico. Mas alerta para o fato de que, no médio prazo, o "crescimento precisa ser baseado em investimentos". Mas o que mais preocupa a OIT não é a situação no Brasil, mas a redução de salários em países afetados pela crise. "A recessão está tendo um impacto profundo nos trabalhadores", alertou Ryder. "O Brasil, por exemplo, aumentou consideravelmente seu salário mínimo e isso teve impacto significativo", aponta a entidade.
"Apesar de a estratégia de revalorização do salário mínimo ter começado há 20 anos, ela acelerou em 2005 e continuou a fazê-lo ainda durante os piores meses da crise e fez parte da estratégia anticíclica."
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