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Olhar de quem investe no Brasil se divide entre eleição presidencial e riscos externos

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Saguão da B3: investidores estão atento às eleições presidenciais e aos temores de recessão global. (Foto: Divulgação/B3)

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O olhar dos investidores no Brasil está dividido. No horizonte mais próximo, a atenção está nos movimentos eleitorais e no resultado que as urnas vão apontar no dia 30. No mais distante, o desempenho da economia mundial, que está perdendo força, principalmente por causa da elevada inflação em vários países e da consequente alta nos juros para combatê-la.

“É como se das três turbinas que movem a economia mundial – EUA, China e Europa –, duas estivessem operando a meia força e a outra, parada”, compara o diretor de investimentos da Portofino Multifamily Office, Eduardo Castro.

Primeiro turno deixou cenário interno mais animado

No front interno, o mercado ficou mais animado depois do primeiro turno, graças ao bom desempenho de candidatos mais conservadores nos estados e no Legislativo e à margem relativamente apertada entre os candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Outro fator que dá ânimo é a inflação mais comportada. Após passar de 12% em abril, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 7,17% em setembro, e as expectativas para o fim do ano estão em baixa há 16 semanas – o ponto médio das projeções agora é de 5,62%. Mas o Banco Central permanece atento a eventuais oscilações mais bruscas, mesmo depois de três deflações seguidas, algo que não se via desde 1998.

“O BC deixou as portas abertas para uma eventual alta na taxa de juro”, afirma Arthur Mello, da Vita Investimentos. As expectativas do mercado, entretanto, são de que a Selic permaneça nos atuais 13,75% ao ano pelo menos durante o primeiro semestre de 2023.

Para Carlos Macedo, especialista em alocação de recursos da Warren, os ativos já estão "descontando", de alguma forma, esse cenário mais desafiador para a questão fiscal e de taxas de juro ainda elevadas. Por isso, ele avalia que notícias positivas tendem a ter mais impacto que as negativas.

Um fator crucial a ser observado é a composição da equipe econômica do futuro governo. Segundo ele, com Bolsonaro, pode se projetar mais previsibilidade, pois tende a manter Paulo Guedes no comando da economia.

Com Lula, vai depender da composição da equipe. O encontro dele com o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, em 19 de setembro, foi bem recebido pelo mercado.

Para investidores, parte da lição de casa já foi feita

O especialista da Vita diz que ainda há, no mercado, um apetite muito grande por juros reais. O Brasil é um dos países que tem as maiores taxas no mundo. Ele aponta que um movimento mais agressivo em direção a títulos com juros pré-fixados só deve ocorrer quando houver uma sinalização de que o Copom irá começar o ciclo de queda nos juros.

Mello acredita que, independentemente do resultado do segundo turno das eleições presidenciais, o Brasil continuará atraente para os investidores. “O país se antecipou ao movimento de alta nos juros, subiu as taxas mais cedo, conta com ativos baratos e vem performando bem.”

A B3, a bolsa brasileira, continua recebendo recursos de investidores estrangeiros. Em setembro, à espera do primeiro turno das eleições, o saldo foi positivo, com uma entrada líquida de aproximadamente R$ 600 milhões – menor, no entanto, que os ingressos líquidos de R$ 1,85 bilhão em julho e R$ 13 bilhões em junho.

“O mês foi marcado por decisões de políticas monetárias de bancos centrais mundiais para tentar conter uma inflação persistente”, diz a equipe de analistas da XP Investimentos.

O movimento melhorou em outubro. Até o dia 13, tinha uma entrada líquida de R$ 2,17 bilhões, o que leva o total acumulado de 2022 para R$ 92,1 bilhões.

A XP ressalta que o Brasil segue em destaque, tendo um dos poucos bancos centrais do mundo que – neste momento – adotam um caminho mais brando. “O fato de o ciclo de aperto monetário pela maioria dos bancos centrais no mundo desenvolvido ainda não estar claro, enquanto no Brasil parece estar se encaminhando para o fim, alimentou um otimismo mais forte para o mercado por aqui.”

País não é a ilha da magia: desafios mundiais persistem

Apesar de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter dado uma pausa na elevação da taxa Selic, mantendo-a em 13,75% ao ano na última reunião, realizada em setembro, o CEO da Arton Advisors, Bernardo Assumpção, aponta que o Brasil não é a “ilha da magia” no cenário mundial.

“Estamos em um contexto extremamente delicado. Algumas das principais economias globais estão com problemas de inflação e estão promovendo um aperto monetário. A economia vai esfriar”, diz ele.

As últimas expectativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas no dia 10, sinalizam para essa perda de força. Depois de crescer 6% em 2021, as projeções para o PIB global sinalizam para uma expansão do PIB global de 3,2% neste ano e 2,7% no ano que vem.

A desaceleração deve ser maior nas economias avançadas. O crescimento foi de 5,2% em 2021, devendo cair para 2,4% em 2022 e 1,1% para 2023. Segundo o FMI, o PIB alemão poderá encolher 0,3%; o italiano, 0,2% e o inglês ter uma ligeira alta de 0,3%. “A economia vai esfriar. O inverno vai ser longo e rigoroso”, comenta Assumpção.

Outro revés veio no dia 13, com a divulgação da inflação americana, que foi maior do que a esperada. Isto aumenta a pressão por mais altas de juros e acentua a possibilidade de a maior economia global entrar em recessão.

“O Fed [o BC americano] está com uma missão complicada. Tem de combater uma inflação de serviços, em meio a um cenário de desemprego baixo e um cenário externo desafiador”, diz Castro, da Portofino.

Cenário ainda mais complicado vive a Europa. Além do problema de inflação elevada, a região enfrenta uma crise energética. “Lá também há problemas com alta nos preços dos serviços. O mercado de trabalho se mostra apertado e ainda há incentivos para o consumo sendo mantidos”, prossegue.

A China, outro dos motores da economia mundial, também enfrenta seus problemas, mas de natureza diferente. “Lá, os problemas com a inflação são menores. A questão é a dificuldade para crescer”, afirma Castro. Três fatores estariam dificultando uma expansão com maior vigor:

  • Os problemas no setor imobiliário, que ganharam destaque no ano passado com a crise da megaincorporadora Evergrande, uma das maiores do país;
  • As intervenções governamentais no setor de tecnologia da informação, que contribuíram para repelir investidores; e
  • A política rígida de combate à Covid-19. Atualmente testagens em massa estão sendo feitas nas regiões de Xangai e Shenzhen, dois importantes polos econômicos, e novos lockdowns não são descartados.

Questão fiscal: outra parte da lição de casa a ser feita

Embora o país tenha se adiantado no combate à inflação, outra parte da lição de casa resta a ser feita no Brasil, apontam analistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Trata-se do reposicionamento do arcabouço fiscal, além das reformas estruturais, como a tributária e a administrativa.

“Sem regras fiscais claras, os investidores acabam cobrando prêmios maiores pelo risco”, diz Paloma Brum, analista da Toro Investimentos. Ou seja, seria necessário conviver com taxas de juros mais elevadas por mais tempo, inibindo a atividade econômica e o crescimento.

Um cenário mais claro, em sua avaliação, somente será possível após as eleições e com a definição da equipe econômica. Até agora, segundo ela, o cenário está embaçado. “É preciso saber quais serão as diretrizes, o que vai ser sinalizado e a receptividade do Congresso”, cita.

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