A redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), agora estendida até 31 de dezembro, não chegou aos consumidores na mesma proporção dos benefícios fiscais concedidos pelo governo federal às montadoras. Carros que poderiam ficar até 9,5% mais baratos não chegaram a ter essa redução na comparação com períodos sem a isenção do imposto. O desconto, segundo economistas, foi, em parte, incorporado à margem de lucro das empresas.
O carro está mais barato, é um fato. Em Curitiba, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do automóvel novo acumula, entre janeiro e setembro, uma queda de 4,67%, enquanto o índice geral de preços da capital paranaense, no ano, está em 3,31% positivos.
A redução geral do valor dos veículos mostra que havia espaço para o preço cair ainda mais. E um levantamento informal realizado pela reportagem mostra que, de dez modelos analisados, seis não chegaram a ter seus valores reduzidos nem no mesmo ritmo da inflação, apesar de estarem incluídos em programas de benefícios fiscais.
Para a comparação, foram avaliados anúncios veiculados na Gazeta do Povo, de carros novos em janeiro, quando a redução do IPI não estava em vigor, e em outubro, quando, além do IPI reduzido, montadoras deveriam dar descontos na compra do carro novo: a soma dos dois poderia chegar a 9,5%. A comparação mostra que nenhum modelo 1.0 teve essa queda e, no caso dos carros 2.0, dois tiveram desconto maior que os 6% previstos. Em um dos casos, o carro ficou até mais caro no período.
Economistas consultados pela reportagem explicam que isso acontece porque as montadoras acabam retendo parte da redução para a sua margem de lucro e pouco repassam para os consumidores. Para Lucas Dezordi, professor de Economia da Universidade Positivo, como o setor automotivo brasileiro ainda é muito concentrado em poucas empresas, elas conseguem, por falta de uma concorrência mais forte, manter os preços. "Por isso, o corte não é repassado ao consumidor e é transformado em lucratividade para as empresas", ressalta.
O conselheiro do Corecon-PR Eduardo Cosentino avalia que o corte do IPI trouxe um apelo psicológico forte, que levou os consumidores às concessionárias em busca do desconto. "São quase 10% que o consumidor poderia estar sentindo no bolso, mas não está", diz.
Montadoras dizem que preços não podem ser comparados
A Volkswagen, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que cumpre rigorosamente a redução de preços estabelecida pelo governo federal e garante que há uma redução adicional por parte da montadora. "As listas de preço emitidas pela companhia são a comprovação deste fato". A reportagem solicitou a lista de preços, mas a assessoria não deu retorno ao pedido.
A Volkswagen informou ainda que "os anúncios de varejo realizados pela montadora referem-se a promoções pontuais, e não podem ser utilizados para a comparação em questão".
A Nissan disse que repassou ao consumidor a redução do IPI e em alguns casos deu um desconto extra. Afirma também que a base de comparação usada na reportagem não pode ser utilizada, já que em janeiro as vendas tendem a cair e as montadoras oferecem descontos. "No caso do Sentra, citado com um aumento de preço, o modelo custava na tabela R$ 52.990, mas com o desconto mencionado, era encontrado por R$ 49.990."
Outro fator que influencia o preço, segundo a Nissan, é a mudança de ano-modelo, quando "geralmente há inclusão de novos equipamentos na linha do carro, e o preço tende a subir". "Não há como comparar os dois períodos e dizer que não há repasse do IPI reduzido ao consumidor. As bases e condições são distintas", ressalta a empresa.
A Chevrolet, também citada na reportagem, não respondeu às questões até o fechamento da edição.
Procuradas, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) não se manifestaram.