Quanto mais demandado o carro, menor a redução
A demanda por determinados modelos influencia na variação dos preços, segundo o professor de Economia da Faculdades Santa Cruz, Hugo Meza Pinto. É o caso do Gol, carro mais vendido no país em 2012, com quase 212 mil unidades compradas até setembro deste ano. Pelo levantamento da Gazeta do Povo, o preço do Gol era exatamente o mesmo nos anúncios de janeiro e de outubro: R$ 27.990. "Os produtos com a maior demanda acabam não tendo o desconto anunciado. Se há filas em alguns modelos, com espera até o ano que vem, por que a concessionária vai repassar se pode manter o lucro?"
Transparência
Briga pelo repasse do IPI reduzido está nas mãos do consumidor
Está nas mãos dos consumidores brigar pelo desconto, já que o governo não toma medidas mais efetivas para fiscalizar se as montadoras estão, de fato, repassando o corte do IPI e o desconto acordado com as montadoras. Uma das razões para a fiscalização não ser mais eficaz, de acordo com Eduardo Cosentino, conselheiro do Corecon-PR, é o bônus dado aos consumidores antes da redução do imposto. "Por causa deste histórico de bônus, não dá para saber quanto o preço mudou entre antes e depois do corte. Acredito que o governo deveria tomar medidas mais duras, já que a medida deveria ser boa para os dois lados", lembra.
O economista e professor de Economia da Faculdades Santa Cruz, Hugo Meza Pinto, ressalta que o consumidor precisa exigir a redução na hora da compra. "O cliente precisa reclamar nas concessionárias desta situação, afinal o governo está abrindo mão de impostos que deveriam ir para os cofres públicos e hoje estão aumentando o lucro das montadoras, com benefícios apenas para as empresas e não para os consumidores. Os repasses deveriam ser feitos em cadeia", avalia.
De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a renúncia fiscal com a manutenção do IPI reduzido até o fim de dezembro chega a R$ 800 milhões.
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A redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), agora estendida até 31 de dezembro, não chegou aos consumidores na mesma proporção dos benefícios fiscais concedidos pelo governo federal às montadoras. Carros que poderiam ficar até 9,5% mais baratos não chegaram a ter essa redução na comparação com períodos sem a isenção do imposto. O desconto, segundo economistas, foi, em parte, incorporado à margem de lucro das empresas.
O carro está mais barato, é um fato. Em Curitiba, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do automóvel novo acumula, entre janeiro e setembro, uma queda de 4,67%, enquanto o índice geral de preços da capital paranaense, no ano, está em 3,31% positivos.
A redução geral do valor dos veículos mostra que havia espaço para o preço cair ainda mais. E um levantamento informal realizado pela reportagem mostra que, de dez modelos analisados, seis não chegaram a ter seus valores reduzidos nem no mesmo ritmo da inflação, apesar de estarem incluídos em programas de benefícios fiscais.
Para a comparação, foram avaliados anúncios veiculados na Gazeta do Povo, de carros novos em janeiro, quando a redução do IPI não estava em vigor, e em outubro, quando, além do IPI reduzido, montadoras deveriam dar descontos na compra do carro novo: a soma dos dois poderia chegar a 9,5%. A comparação mostra que nenhum modelo 1.0 teve essa queda e, no caso dos carros 2.0, dois tiveram desconto maior que os 6% previstos. Em um dos casos, o carro ficou até mais caro no período.
Economistas consultados pela reportagem explicam que isso acontece porque as montadoras acabam retendo parte da redução para a sua margem de lucro e pouco repassam para os consumidores. Para Lucas Dezordi, professor de Economia da Universidade Positivo, como o setor automotivo brasileiro ainda é muito concentrado em poucas empresas, elas conseguem, por falta de uma concorrência mais forte, manter os preços. "Por isso, o corte não é repassado ao consumidor e é transformado em lucratividade para as empresas", ressalta.
O conselheiro do Corecon-PR Eduardo Cosentino avalia que o corte do IPI trouxe um apelo psicológico forte, que levou os consumidores às concessionárias em busca do desconto. "São quase 10% que o consumidor poderia estar sentindo no bolso, mas não está", diz.
Montadoras dizem que preços não podem ser comparados
A Volkswagen, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que cumpre rigorosamente a redução de preços estabelecida pelo governo federal e garante que há uma redução adicional por parte da montadora. "As listas de preço emitidas pela companhia são a comprovação deste fato". A reportagem solicitou a lista de preços, mas a assessoria não deu retorno ao pedido.
A Volkswagen informou ainda que "os anúncios de varejo realizados pela montadora referem-se a promoções pontuais, e não podem ser utilizados para a comparação em questão".
A Nissan disse que repassou ao consumidor a redução do IPI e em alguns casos deu um desconto extra. Afirma também que a base de comparação usada na reportagem não pode ser utilizada, já que em janeiro as vendas tendem a cair e as montadoras oferecem descontos. "No caso do Sentra, citado com um aumento de preço, o modelo custava na tabela R$ 52.990, mas com o desconto mencionado, era encontrado por R$ 49.990."
Outro fator que influencia o preço, segundo a Nissan, é a mudança de ano-modelo, quando "geralmente há inclusão de novos equipamentos na linha do carro, e o preço tende a subir". "Não há como comparar os dois períodos e dizer que não há repasse do IPI reduzido ao consumidor. As bases e condições são distintas", ressalta a empresa.
A Chevrolet, também citada na reportagem, não respondeu às questões até o fechamento da edição.
Procuradas, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) não se manifestaram.
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