O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete forte crescimento econômico aos brasileiros e não vai medir esforços para entregar um bom resultado a cada ano do segundo mandato, mas corre o risco de ser atropelado pela realidade se insistir em cravar percentuais de expansão.
As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2006 estão dispersas, oscilam de 2,5 a 3,5 por cento. O resultado é pífio, mas será o segundo melhor dos primeiros quatro anos do governo Lula, superado apenas pelo avanço de quase 5 por cento visto em 2004.
Bancos e consultorias contemplam um piso mais elevado para 2007, mas nada que sancione a crença de que o Brasil crescerá 5 por cento com direito a reprise no ano seguinte.
Economistas resistem a bancar prognósticos excessivamente otimistas. Prevalece a torcida por taxas de crescimento mais modestas, porém consistentes. Nada que reprise o "stop and go" que o país experimenta há mais duas décadas.
Nos últimos anos a vulnerabilidade do Brasil a choques externos diminuiu. A volatilidade da taxa de câmbio e da inflação também caiu, permitindo uma queda suave das taxas reais de juros e evitando as flutuações do produto real que ocorriam em resposta aos choques cambiais antes de 2003.
"Apesar desses avanços, o crescimento do PIB tem sido muito baixo e significativamente inferior à média dos demais países emergentes. Nos últimos quinze anos, o PIB potencial cresceu a uma taxa média entre 2,6 e 2,7 por cento ao ano e, embora tenham existido períodos com crescimento um pouco maior, como entre 1992 e 1997, quando chegou a 3,5 por cento ao ano, de 2003 em diante, o PIB potencial tem avançado à taxa medíocre de 2,4 por cento ano", afirma o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC).
Ele explica que este baixo crescimento deve-se em parte às baixas taxas de investimento e em parte à baixa produtividade total dos fatores --representada pelo estoque de capital e de trabalho disponível na economia.
ESTÍMULO E REFORMAS
"As políticas econômicas que levaram à maior estabilidade e permitiram melhorar a distribuição de renda, elevando o bem estar das classes de renda mais baixas, falharam totalmente em induzir o crescimento da formação bruta de capital fixo, e de elevar a produtividade."
Pastore explica que o crescimento da produtividade total dos fatores já chegou a contribuir com uma taxa de 1,2 por cento ao ano em um crescimento total de 3,5 por cento ao ano, no período de 1992 a 1997. No entanto, entre 2003 e 2006 a contribuição foi de apenas 0,2 por cento ao ano, em um crescimento do PIB potencial de 2,4 por cento.
"O fato da melhora no quadro de estabilidade macroeconômica não ter promovido a elevação nem da produtividade nem das taxas de investimento pode ser atribuído somente à falta de uma política econômica estimuladora do crescimento econômico e à paralisação do ciclo de reformas", avalia o economista.
INTENÇÃO REVELADA
Se o governo destravar as reformas rapidamente, aproveitando o elevado capital político conquistado nas urnas, o Brasil pode estrear de fato um promissor ciclo de crescimento porque as empresas estão bem intencionadas.
Boa intenção não significa, porém, uma explosão da capacidade instalada das indústrias de uma hora para outra, considerando que boa parte dos projetos industriais demanda prazos relativamente longos de maturação. No entanto, a sinalização dada pelas empresas não é desprezada por economistas.
Levantamento realizado pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, comandado pelo economista Octavio de Barros, identificou 400 empresas dispostas a fazer investimentos físicos nos próximos anos.
CAPITAL E TRABALHO
A pesquisa, feita a partir de anúncios divulgados pela imprensa entre janeiro e setembro deste ano, revela que as intenções de investimentos alcançam 420 bilhões de reais e se estendem até 2016.
O Bradesco explica que mais de 55 por cento dos projetos anunciados têm como alvo o setor de petróleo e derivados.
Os setores petróleo e derivados, mineração e siderurgia, transporte e logística e energia elétrica respondem por aproximadamente 80 por cento dos investimentos.
Esses quatro setores dependem de forte injeção de capital. Mas parcela significativa do número de projetos de investimentos formalizados vem de setores de serviços, intensivos em mão-de-obra.
"Isso nos mostra o potencial brasileiro para a expansão do emprego nos próximos anos, caso os anúncios sejam realmente confirmados pelas empresas", insiste o banco.
CONSUMO ANIMA
O mapeamento dos projetos revela objetivos setoriais que contribuem na avaliação dos rumos da economia.
Os investimentos na área petrolífera visam manter a auto-suficiência do Brasil em petróleo e diminuir a dependência externa no caso do gás, lembra o Bradesco.
O setor de mineração e siderurgia é estimulado pela forte demanda mundial por minério de ferro e aço, notadamente chinesa.
Transporte e logística --terceiro setor em anúncios de projetos totalizando 30,3 bilhões de reais por 37 empresas-- focam, principalmente, o transporte aéreo e ferroviário.
Empresas ligadas ao comércio são destaque em número de projetos anunciados, embora em valores financeiros menores.
De janeiro a setembro, 48 empresas de comércio varejista anunciaram investimentos equivalentes a 5,7 bilhões de reais em construção de novas lojas e ampliação das já existentes.
Neste caso, a animação é atribuída por economistas do Bradesco à maior oferta de crédito, aumento real da renda e expectativas favoráveis de inflação --condições que permitem a redução da taxa de juros e o aumento dos prazos dos financiamentos.
AGENDA DA SEMANA
Segunda-feira --Relatório Focus, balança comercial (1a semana novembro), IPC-Fipe (outubro), indicadores CNI;
Terça-feira --IGP-DI (outubro), Pesquisa IBGE de produção industrial brasileira (setembro);
Quarta-feira --Pesquisa IBGE sobre a safra 2007, produção e venda de veículos pela Anfavea (outubro), IPC-S (1a leitura novembro);
Quinta-feira --IPC-S capitais (1a prévia novembro);
Sexta-feira --IPCA (outubro), IGP-M (1a prévia novembro), Pesquisa IBGE de produção industrial regional (setembro).