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Depois do Pix, que entrou para o vocabulário do brasileiro em 2020, outra novidade encabeçada pelo Banco Central chegará em 2021: o open banking. Traduzido pela autoridade monetária como Sistema Financeiro Aberto, ele permite que os dados do cliente sejam compartilhados com instituições financeiras além daquela com a qual ele já se relaciona – ou seja, na qual tem conta.
Em tempos de crescente preocupação com informações sensíveis, o momento atual ainda é de elaboração de regramento e segurança para o funcionamento regulado no país.
Esse processo, com quatro fases, seria iniciado em 30 de novembro, mas foi adiado pelo BC a pedido dos bancos e fintechs. Pesou na decisão a atenção dedicada ao novo sistema de pagamentos instantâneos e as demandas extraordinárias surgidas na pandemia. No novo cronograma, a primeira etapa começa em fevereiro. A previsão é de que toda a regulamentação se estenda até dezembro de 2021. Antes, a data de encerramento era outubro.
Grosso modo, é possível dizer que no conceito de open banking os dados do consumidor deixam de ser acessíveis apenas através do banco e voltam para o controle do próprio correntista. Com isso, ele terá total liberdade para dar a outras instituições o acesso às suas informações bancárias. Por meio dessa flexibilidade, devem aparecer chances de destravar novas oportunidades, especialmente no mercado de crédito.
Modos de usar o open banking
Ricardo Taveira, presidente executivo da plataforma Quanto, explica que a autorização para esse tipo de acesso pode ser comparada a uma funcionalidade habitual na internet: o uso do login das redes sociais para entrada em outros sites. Na situação mencionada, o usuário opta por se valer dos dados já cadastrados junto ao Facebook, por exemplo, para se logar a outro serviço. Essa manobra, na prática, significa compartilhar suas informações com um terceiro. No open banking, o cliente fará um movimento similar.
No ambiente regulado, o que se prevê é que, ao usar a aplicação que receberá a autorização de acesso, o usuário confirme esse aval. "Você vai ser redirecionado de dentro da interface do banco recebedor para a interface do [banco] doador dos dados", detalha Taveira. Ele acrescenta que tudo depende do consentimento expresso do usuário, revogável a qualquer tempo. Além disso, apenas entidades reguladas pelo BC atuarão nesse ambiente.
Espera-se que essa facilidade seja o início das vantagens para o cliente. Ela pode ser o ponto de virada para simplificar a jornada do usuário de serviços bancários e para diversificar sua experiência de consumo. Segundo Taveira, o sistema aberto diminui a maratona em busca de opções mais vantajosas e melhora as ofertas.
"Podemos pensar em jornadas, atividades que fazemos na vida financeira. Se eu quero financiar a compra de um carro, hoje eu nem sempre tenho escolha; fico restrito ao banco onde tenho conta corrente. Se eu quiser pegar uma cotação de empréstimo em outro banco, vou ter que passar pela odisseia de abertura de conta para, então, ter a chance de ser aprovado ou negado. É muito esforço para comparar propostas", diz Taveira.
"Pós-open banking, o usuário pode compartilhar diretamente dados de cadastro e de extrato com outros bancos. Nem será necessário que abra contas, incluindo visitas à agência, a depender do banco. Ele vai poder fazer isso em poucos minutos com vários provedores de crédito diferentes", explica.
A avaliação geral é de que essa nova dinâmica promoverá mais concorrência, acesso a taxas mais justas e eventual queda nos juros, com consequente impacto no spread bancário.
Desafios para o open banking brasileiro
Apesar de esse ambiente regulado estar ainda um ano distante no horizonte, as perspectivas são boas, mas não excluem desafios. O economista-chefe da Stone e integrante do Conselho Deliberativo do Open Banking, Vinícius Carrasco, avalia que a grande batalha será de implantação.
"Você tem um grande plano de coordenação aqui. Esses entes todos têm que se comunicar e simultaneamente criar essas estruturas padronizadas. Isso não é trivial. Acho que parte do trabalho dessa autorregulação é estimular esse processo de maneira adequada", disse Carrasco em evento online realizado pelo Guiabolso.
Para o presidente da Quanto, Ricardo Taveira, outro ponto a ser considerado é conquistar a confiança e o engajamento dos clientes: "O desafio é que no longo prazo a gente precisa confiar no ecossistema e não na marca [do banco], você precisa confiar no open banking".
Como comparação, ele traça um paralelo com o trabalho realizado após o lançamento do Pix, com campanhas de comunicação para construir a "boa fama" dos pagamentos instantâneos. Adiante, a atenção deve estar voltada a desenvolver essa mesma relação com base no ambiente do sistema financeiro aberto.