Uma força-tarefa de vários órgãos do governo, realizada em alojamentos da empreiteira Jinjiang, prestadora de serviços para a montadora de carros Build Your Dreams (BYD), resgatou 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão na região metropolitana de Salvador, em Camaçari (BA). A fabricante chinesa de automóveis afirmou que encerrou o contrato com a empresa terceirizada após o caso e estuda outras medidas cabíveis. A Jinjiang, por sua vez, negou as acusações.
A operação foi informada pelo Ministério do Trabalho nesta segunda-feira (23) e contou com a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Defensoria Pública da União (DPU), do Ministério Público Federal (MPF), da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Segundo as autoridades, os quatro alojamentos vistoriados estavam "em condições extremamente degradantes": não havia colchões nas camas, nem armários, os banheiros eram insuficientes e precários, sendo que, em um dos casos havia apenas um banheiro para 31 trabalhadores. As áreas de alimentação também estavam em péssimas condições, segundo o Ministério do Trabalho. Em um dos locais, os alimentos estavam armazenados no chão, com panelas abertas contendo comida preparada para o dia seguinte, o que traria risco de contaminação para os trabalhadores.
A pasta disse ainda que foram encontrados indícios de trabalho forçado. "Os trabalhadores pagavam caução, tinham 60% de seus salários retidos e recebiam apenas 40% em moeda chinesa. Além disso, enfrentavam encargos excessivos para rescisão contratual e tinham seus passaportes retidos, o que impedia a saída ou o retorno ao país de origem, configurando confisco de valores", afirma o Ministério do Trabalho, que concluiu ter encontrado "violações sistemáticas dos direitos trabalhistas".
Além de ter encerrado o contrato com a empreiteira Jinjiang, a BYD disse que transferiu os 163 trabalhadores resgatados para hotéis da região.
“A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, em especial no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores. Por isso, está colaborando com os órgãos competentes desde o primeiro momento e decidiu romper o contrato com a construtora Jinjiang”, afirmou Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD Brasil.
A Jinjiang negou as acusações do Ministério do Trabalho. Segundo a Reuters, a empresa disse, em uma rede social chinesa, que rotular "injustamente" seus funcionários como "escravizados" fere a dignidade do povo chinês.
"Ser injustamente rotulado como 'escravizado' fez com que nossos funcionários sentissem que sua dignidade foi insultada e seus direitos humanos violados, ferindo seriamente a dignidade do povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos", disse Jinjiang em sua conta oficial na rede social Weibo.
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