A empresária Sindy Clarice Makialka só percebeu a cobrança após ter pago o boleto: “Há uma nítida tentativa de induzir o cliente a contratar o serviço”| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Lançamento

Empresa ignorou orientação do Procon-PR

Antes de lançar o serviço SOS Unimed Emergência, a operadora Unimed Curitiba procurou o Procon-PR em busca de uma orientação jurídica para avaliar se a estratégia não estaria incorrendo em práticas lesivas aos consumidores. Mas, de acordo com a coordenadora do órgão, Claudia Silvano, a empresa ignorou as orientações que foram repassadas. "A Unimed nos procurou perguntando o que podia e o que não podia ser feito. O Procon orientou, mas eles acabaram fazendo tudo ao contrário", diz Claudia.

Segundo ela, o parecer do órgão de defesa do consumidor foi o de que o serviço poderia ser ofertado a base de clientes da Unimed, desde que de forma opcional e em um boleto separado. Para a coordenadora, ainda que conceda ao consumidor a possibilidade de retirar o valor de contratação do novo serviço da fatura, há uma inversão das regras contratuais. "Muitas vezes, por ser um valor pequeno, o consumidor acaba contratando sem ter consciência do que está fazendo. Não existe ilicitude na oferta do produto, e sim na forma como foi feita", avalia. Segundo Claudia, o Procon está estudando a melhor forma de lidar com o assunto.

Outro lado

Em nota, a Unimed Curitiba afirmou que toda a comunicação enviada aos beneficiários residentes na área de atuação do serviço expressava claramente que a adesão ao serviço é livre e voluntária. A operadora atribui os "impactos causados nesse processo" à greve dos Correios. "Alguns beneficiários recorreram à retirada da segunda via do boleto de pagamento pelo site da cooperativa, e podem não ter observado no momento do acesso a informação contida naquele, no sentido de que a adesão ao serviço seria opcional", diz a nota.

A empresa informa que os beneficiários com débito automático em conta receberam um termo de adesão de pessoa física, com o valor separado. "Acreditamos que se tratam de casos pontuais e agradecemos a habitual confiança da população de Curitiba e região, inclusive em nosso recém-lançado SOS Unimed Emergência", diz a operadora por meio de nota. A Unimed Curitiba não quis comentar porque teria ignorado as orientações jurídicas repassadas pelo Procon-PR. (ACN)

Serviço

A Unimed pede que os clientes que aderiram ao serviço equivocadamente solicitem o reembolso dos valores pela Linha Direta Unimed Curitiba, por meio do telefone (41) 3019-2000. Segundo a empresa, a devolução ocorrerá no próximo faturamento, na forma de desconto sobre o valor da mensalidade do plano.

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Teste

Atendente diz que pagamento é opcional

De posse dos dados de um usuário da Unimed Curitiba, a reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com o serviço de atendimento ao cliente do SOS Unimed Emergência, questionando a inclusão da cobrança do novo serviço na mensalidade do plano de saúde sem a prévia solicitação. A atendente informou que "todos os beneficiários da Unimed Curitiba receberam esse valor a mais".

Segundo ela, apesar de o boleto ser emitido com o valor do serviço, o pagamento é opcional, podendo ser solicitado o abatimento proporcional no momento do pagamento da fatura. "Se pagar o valor total, automaticamente o senhor estará contratando o serviço", informou. Questionada sobre a ausência de um contrato de adesão, a funcionária da Unimed informou que "não está sendo feito [contrato]". "Se quiser, o senhor deve solicitar uma cópia na Central da Unimed", orientou. (ACN)

O serviço de emergências médicas SOS Unimed Emer­gência, lançado no início de setembro pela operadora de planos de saúde, será alvo de um inquérito civil público do Ministério Público do Paraná (MP-PR) por prática abusiva e contrária ao Código de Defesa do Consumidor (CDC). Isso porque a Unimed Curitiba adicionou o valor referente ao novo serviço – R$ 8,50 por usuário – nos boletos de cobrança de toda a sua base de clientes em Curitiba, São José dos Pinhais e Araucária (áreas de cobertura do SOS Unimed) sem o consentimento ou solicitação expressa dos clientes.

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Desta forma, os clientes que pagaram suas mensalidades pela internet ou caixas eletrônicos, ou que simplesmente não perceberam a inclusão do valor adicional, acabaram "contratando" automaticamente o serviço, sem que isso tenha sido solicitado previamente ou de forma voluntária. Em apenas um mês, o SOS Unimed recebeu a adesão de 60 mil usuários em Curitiba e região. O serviço representou um acréscimo de mais de R$ 500 mil ao faturamento mensal da operadora.

A empresária Sindy Clarice Makialka diz que recebeu pelo correio, junto com a mensalidade do plano, um material publicitário sobre o lançamento do serviço. "O pacote já incluía carteirinha de usuário para mim e os meus dependentes. Acabei pagando o boleto pela internet sem perceber", conta. "Só depois que já havia pago foi que percebi algo errado. Quando liguei para a Unimed para solicitar a retirada de um dos meus dependentes, que mora fora da área de cobertura, fui informada de que isso não poderia ser feito. Ou contrataria o serviço para todos, ou não contrataria para ninguém", relata. "Há uma nítida tentativa de induzir o cliente a contratar o serviço", avalia Sindy. A consumidora calcula que a cobrança do SOS Unimed corresponde a quase 10% do valor da mensalidade de seu plano.

A beneficiária Marialda Gonçalves Pereira diz que só percebeu a inclusão do valor quando foi imprimir o boleto de sua mensalidade no site da empresa. "Liguei afirmando que não queria contratar o serviço e fui orientada a pagar a mensalidade e depois pedir o estorno dos valores", relata.

Para a promotora de Justiça do MP-PR Cristina Corso Ruaro, as situações caracterizam prática abusiva. "Há uma sucessão de erros. O principal é o desrespeito ao artigo 39, inciso 3.º, do CDC, que veda o fornecedor de oferecer, sem solicitação prévia, qualquer produto ou serviço ao consumidor", explica.

Segundo Cristina, nesses casos a legislação prevê a gratuidade do serviço – que passa a ser considerado "amostra grátis" –, a devolução em dobro dos valores cobrados indevidamente, invalidação dos contratos, além de uma eventual multa por danos morais coletivos, cujo valor é arbitrado com base nos danos causados à coletividade e o faturamento da empresa.

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"A empresa alega que o consumidor que não quisesse aderir poderia solicitar a exclusão do valor no ato do pagamento. O raciocínio é completamente o inverso. Cabe ao cliente optar em contratar o serviço. Neste caso [da Unimed], o silêncio do consumidor implica na contratação. Fica evidente a indução ao erro ou à contratação automática, o que é um flagrante desrespeito ao consumidor", avalia.

Serviço

Os clientes que se sentiram lesados pela cobrança devem procurar a Unimed Curitiba e solicitar a devolução em dobro do valor pago, além do cancelamento do contrato. O MP-PR orienta que os consumidores registrem queixas na Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodec) pelo e-mail consumidor@mp.pr.gov.br.