Há pouco mais de um ano, o israelense Amos Genish, presidente da Telefônica/Vivo, deu uma das declarações que viraram símbolo da guerra entre as operadoras e os aplicativos. Logo depois que o WhatsApp lançou o recurso de chamadas via internet, o executivo chamou o app de “operadora pirata”. Um ano depois, com o cenário de concorrência mais claro, o executivo adotou um tom mais moderado para falar dos aplicativos - embora não tenha parceria com o WhatsApp. “As OTTs (empresas que oferecem serviços de internet) são essenciais para a vida digital”, disse Genish. “Mas é difícil competir no mesmo jogo, com regras diferentes.”
A mudança do discurso de Genish reflete uma transformação dentro das operadoras: depois de passarem por uma fase de negação do sucesso dos aplicativos, elas estão percebendo que precisarão se reinventar para continuarem relevantes. Enquanto pressionam o governo para que o marco geral das telecomunicações mude, ganhando mais flexibilidade, as teles não estão paradas: investem na oferta de serviços digitais próprios ou em parceria com terceiros, repensam processos internos e a forma de atender os clientes e investem em novas tecnologias, como Big Data, para entender os clientes tão bem quanto gigantes da internet como Google e Facebook.
Lançamentos
A Telefônica/Vivo já oferece mais de 80 serviços digitais. Durante a Futurecom, maior evento de telecomunicações da América Latina, que aconteceu na última semana, em São Paulo, a empresa revelou mais uma aposta. Em parceria com a francesa Vivendi, lançou o Studio+, um serviço de vídeos curtos para assistir em smartphones e tablets. O serviço, que é exclusivo para os clientes da operadora, vai permitir acesso a curtas-metragens produzidos especificamente para telas pequenas. A forma de pagamento será flexível: R$ 3,99 por semana ou R$ 12,90 por mês. “Em conjunto, esses serviços já geram R$ 1 bilhão em receita para a Vivo e o valor cresce 20% ao ano”, diz Genish.
A empresa não foi a única a lançar novos serviços digitais durante o evento. Mesmo a operadora Oi, que está em recuperação judicial, anunciou no evento um novo serviço de “internet das coisas”, nome dado à tecnologia que vai conectar todos os objetos à nossa volta. O serviço Oi Smart, ainda está em fase de testes, é uma central de monitoramento para a casa: por meio do smartphone, o usuário poderá controlar câmeras de segurança, alarmes, sensores de movimento, entre outros dispositivos conectados à internet.
A operadora só oferece o serviço no Rio de Janeiro por enquanto, mas planeja expandir o alcance do Smart em 2017. Outros serviços estão nos planos, como um voltado a carros conectados e outro ao monitoramento de saúde. “Um pequeno grupo da Oi está focado na recuperação da dívida, enquanto o restante da empresa está focado na operação e na transformação digital”, disse o presidente da Oi, Marco Schroeder.
No evento, a TIM relembrou os altos investimentos na tecnologia de Big Data, que permite a análise de grandes conjuntos de dados coletados dos clientes, para identificar novas oportunidades de produtos e serviços. Durante a Olimpíada, a empresa também colaborou com a Prefeitura do Rio, que usou os dados da operadora para acompanhar o deslocamento das pessoas pela cidade. “Isso pode ser uma fonte de receita para a TIM no futuro”, disse o diretor de estratégia da operadora, Luís Minoru Shibata.
A Claro não lançou novos serviços, mas revelou acumular 11 milhões de usuários de serviços digitais no País. “Nos últimos dois anos, trabalhamos fortemente na distribuição de música e de vídeos, inclusive com a compra de duas empresas”, disse Alexandre Olivari, diretor de roaming e serviços de valor agregado (SVA) da Claro.
Cultura
Apesar dos esforços, a principal barreira que as operadoras precisam vencer é cultural. Enquanto a maioria delas tem de manter uma infraestrutura custosa e atender às regulamentações do governo, as OTTs nascem num ambiente livre de amarras, onde o foco principal é satisfazer o cliente. “O maior desafio das empresas é gerenciar um legado que, apesar de estar em declínio, ainda traz altas receitas. Ao mesmo tempo, é necessário desenvolver um negócio que tem grande potencial, mas que não dá resultados em curto prazo”, disse o diretor global da indústria de comunicação e mídia da consultoria Accenture, Francesco Venturini, durante da Futurecom.
Embora as operadoras brasileiras ainda ganhem dinheiro com voz, o futuro está nos dados. Em 2015, a receita de dados superou a de serviços de voz pela primeira vez no Brasil. De acordo com a consultoria Teleco, o serviço de banda larga móvel se tornou o mais rentável para as operadoras dentre os serviços de dados, com R$ 26 bilhões em receita, acima de TV por assinatura (R$ 22,6 bilhões) e banda larga fixa (R$ 21,8 bilhões). Com a perspectiva de queda no preço dos serviços de dados, resta às operadoras tentar arranjar formas de inovar para conseguir uma fatia do lucrativo mercado digital nos próximos anos.”O maior desafio das empresas é gerenciar um legado que, apesar de estar em declínio, ainda traz altas receitas. Ao mesmo tempo, é necessário desenvolver um negócio que tem grande potencial, mas que ainda não dá resultados.”
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