Depois de passarem a bloquear a internet móvel nos celulares após o fim da franquia, as operadoras de telefonia investem agora em novas parcerias e promoções para tentar alavancar o consumo de dados dos usuários. A estratégia, somada ao fim da velocidade reduzida, já começa a surtir efeitos nos caixas das empresas que apostam na febre dos usuários pelas redes sociais e aplicativos de mensagens para driblar as perdas com a receita de voz e SMS.
Semana passada, a TIM anunciou um aumento de 46% na receita de dados no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, com crescimento de 27% dos usuários internet móvel, chegando a 34 milhões. A Oi, por sua vez, registrou em seu balanço um crescimento de 56% na receita com consumo de dados pelos celulares, também no primeiro trimestre. A Claro não fez menção ao recorte em seu balanço, enquanto a Vivo ainda não divulgou os números do período.
As empresas não revelam o porcentual de usuários que têm recontratado os planos para continuar navegando após o fim das franquias diárias mas, entre os executivos das operadoras, o discurso é de que o consumidor “abraçou” a nova realidade e tem optado por pagar mais e ter uma melhor experiência de uso. “Os consumidores entendem que está valendo a pena e estão dispostos a investir. Houve (após o fim da velocidade reduzida) um ganho de percepção do serviço muito grande”, afirma o diretor comercial da TIM Sul, Carlos Eduardo Spezin Lopes.
Hoje, a TIM oferece acesso ao WhatsApp ilimitado a todos os planos, estratégia que já foi adotada recentemente pela concorrência –ano passado, a Claro ofereceu acesso gratuito (sem desconto da franquia de dados) ao Facebook e Twitter. As parcerias são por tempo limitado –a promoção da TIM deve seguir até o início do segundo semestre –, mas servem como ponto de partida para tentar angariar usuários e fomentar o uso de outros aplicativos. Estudo da Ericsson mostra que, no Brasil, mais da metade do tráfego de dados móveis circula em apenas cinco apps: Facebook, YouTube, Chrome, WhatsApp e Instagram.
Wi-fi
Entre as quatro grandes operadoras, a Oi é a única que tem apostado maciçamente nos últimos anos em uma alternativa à banda larga móvel, por meio de redes wi-fi. A empresa tem mais de um milhão de hotspots de wi-fi instalados no país – no Paraná, são cerca de 70 mil. Ao se conectar via wi-fi, o cliente não gasta a franquia de dados. “O wi-fi tem a capacidade de oferecer uma melhor experiência principalmente por ter uma boa cobertura dentro dos ambientes. Fazer o mesmo com antenas leva muito mais tempo”, diz o diretor de Produtos de Mobilidade, Roberto Guenzburger.
Quarta geração
Outra ação, adotada pela Claro e Oi, é aumentar temporariamente a franquia de dados sem cobrar mais do usuário. Paralelo a isso, as operadoras, de maneira geral, têm liberado o acesso ao 4G sem cobrança adicional para clientes que já têm aparelhos e chips habilitados para a nova tecnologia. “O nosso foco de fato é melhorar a experiência de uso do consumidor ao navegar na internet, e o 4G oferece essa possibilidade”, diz o diretor de Produtos de Mobilidade da Oi, Roberto Guenzburger.
A ânsia pelo consumo de dados também tem fomentado parcerias com fabricantes de celulares. Dados compilados pela consultoria Teleco mostram que, ano passado, as operadoras, juntas, faturaram quase R$ 7 milhões só com a venda de smartphones – em 2010, a receita foi de R$ 3,3 milhões. “As operadoras tinham tirado o pé desse mercado (a venda de aparelhos) mas voltaram a atuar nele justamente para incentivar o uso da internet móvel. Afinal, se o usuário optar por um celular tradicional em vez de um smartphone, não vai conseguir consumir dados”, destaca o presidente da Teleco, Eduardo Tude.
Quase 40% dos usuários de 3G já miram o 4G
A busca cada vez maior das operadoras de telefonia pela receita do tráfego de dados móveis é vista como um caminho sem volta por analistas do setor. Segundo os dados mais recentes da Anatel, 56,2% das linhas de celulares do país possuem acesso à banda larga móvel. Este mercado segue concorrido, com a Claro à frente no 3G e a Vivo no 4G (veja infográfico).
Na mira das empresas estão tanto os usuários que ainda não são adeptos da internet móvel – em geral, os que usam os chamados feature phones, os aparelhos tradicionais – quanto os que estão em busca por pacotes maiores de dados. Estudo elaborado pelo ConsumerLab, área da Ericsson que analisa o comportamento de consumidores, mostra que 37% dos usuários de 3G no país têm interesse em migrar para o 4G, porcentual que desce pela metade para os usuários de 2G.
“O usuário do 2G geralmente não possui um smartphone e não teve ainda a experiência de acessar redes sociais ou mandar mensagens pela internet móvel, por isso não sente essa necessidade de migrar. Por outro lado, quem tem 3G está acostumado a isso e já sente a necessidade algo melhor, mais rápido”, explica o especialista do ConsumerLab na América Latina, André Gualda.
O mesmo estudo da Ericsson mostra também que os donos de smartphones já usam com mais frequência o 3G e o 4G do que as redes wi-fi para se conectar à internet – em se tratando de tablets e PCs, por outro lado, o uso de wi-fi é predominante.
Sem dúvidas
Mês passado, as operadoras se comprometeram com o governo a tomar três ações para melhorar as informações aos usuários de dados móveis:
Publicidade
Será criado uma espécie de “código de conduta” autorregulado pelo setor para tornar mais claro os anúncios publicitários sobre os planos de internet móvel e facilitar o entendimento do consumidor.
Campanha
Será lançada uma campanha educativa em redes sociais e nos meios de comunicação, em até 60 dias, para trazer aos usuários informações sobre a internet móvel, explicando conceitos como bytes consumidos e divulgando quais apps consomem mais rapidamente os pacotes de dados.
Ferramentas
As operadoras devem desenvolver e lançar, também em até 60 dias, aplicativos e ferramentas que possam ser usados pelos consumidores para controlar em tempo real o consumo de dados e saber a qualquer momento quanto ainda resta da franquia do plano contratado.
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