A decisão do governo de alterar a remuneração da caderneta de poupança provocou reações diferentes na oposição. De um lado críticas de que existiam outras alternativas, de outro discursos de cautela para avaliar o impacto das medidas diante do cenário de queda da taxa básica de juros, a Selic.
Os líderes do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), e no Senado, Alvaro Dias (PR), atacaram o governo. Araújo disse que a medida foi a saída encontrada pelo governo para não mexer no próprio bolso. "Uma das alternativas era reduzir a carga tributária sobre os demais investimentos, deixando situações melhores que a poupança, mas o governo não admite reduzir receitas, trocando pela penalização da maioria da população", disse.
A fala do tucano mostra que o assunto pode ser explorado pela oposição para desgastar o governo. "A primeira observação nossa é que mexer na poupança significa atingir a parte mais pobre da população. O governo antes de mexer no próprio bolso, resolveu mexer nos que menos tem."
Dias também reforçou o discurso de prejuízo para os mais pobres. "O porto seguro das pequenas economias pagará o pato dessa guerra santa deflagrada pela presidente, que, pelo jeito, não mostra coragem para mexer no que realmente interessa: tributos e ganhos de bancos", disse.
Segundo Dias, no "momento virtuoso" com a esperada redução dos juros no país não deveria haver mudanças na poupança. "Fundos de investimentos lastreados na Selic estão rendendo, em média, 10% ao ano. As cadernetas, como dito acima, rendem 6,4%, bem menos, portanto. Por que, então, o governo começa a mexer primeiro justamente no que rende, nominalmente, menos?", questionou.
O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), foi mais cuidadoso. Ele afirmou que o partido vai encomendar um estudo de economistas para analisar os efeitos da mudança. Ele disse que a oposição não trabalha com "o quanto pior melhor" e vai fechar posição única.
"É preciso ter cuidado. Vamos analisar para saber o resultado do que for anunciado antes de fechar questão. Mas não vamos admitir prejuízo ao pequeno poupador."
Presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (PE), também defende uma avaliação cuidadosa da alteração, mas reconhece que diante do cenário de crise internacional e possível que exista uma necessidade de mexer na poupança.
Ele lembrou que em 2009, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou mudar as regras da poupança, mas não encontrou respaldo político. Na época, o PPS fez propagandas contra a medida e, diante do desgaste, o governo recuou. "Naquela época, não tinha necessidade. O Lula queria fazer isso pressionado pelo sistema financeiro. Era para beneficiar o sistema financeiro."
Após o anúncio da alteração em reunião no Palácio do Planalto, líderes aliados saíram em defesa da medida. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que o governo sabe o que está fazendo. "O governo sabe o que quer fazer, sabe onde quer chegar. Não é nada de improviso, não é um arranjo."
O líder do PSD na Câmara, deputado Guilherme Campos (SP), classificou como "válida" a iniciativa do governo.Para Campos, a discussão é positiva principalmente por possibilitar ao Brasil tratar a questão dos juros de acordo com os países civilizados.
"A poupança como temos hoje é adequada para um Brasil de juros não compatíveis aos países civilizados", afirmou. "Ainda bem que estamos chegando em um momento que podemos discutir a mudança na poupança. É sinal que nossas reservas chegaram a um ponto confortável."