Líderes de partidos de oposição reagiram negativamente à edição da Medida Provisória (MP) 443, que permite ao Banco do Brasil (BB) e à Caixa Econômica Federal (CEF) comprarem instituições financeiras em dificuldades. Diferentemente da reação à MP 442 - que ampliou os poderes do Banco Central (BC) no socorro a bancos com problemas e teve apoio da oposição desde o início -, desta vez os oposicionistas afirmam que o governo terá dificuldades para aprovar a medida no Congresso. Líderes da oposição já estão elaborando um requerimento, que deverá ser formalizado ainda nesta quarta-feira (22), de criação de uma comissão externa para acompanhar as operações do BB e da Caixa autorizadas pela MP 443.
Líderes de oposição afirmaram que o governo está "escondendo a verdade" e agindo com "dissimulação" e com "desrespeito" ao Congresso. Há um sentimento de terem sido enganados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que, na terça-feira (21), debateram durante seis horas e dezenove minutos a crise financeira internacional no plenário da Câmara e não mencionaram a edição da MP 443. A surpresa saiu no "Diário Oficial" desta quarta.
"A oposição quer colaborar, mas vamos fazer emendas", anunciou o líder do PPS na Câmara, deputado Fernando Coruja (SC). "A primeira MP (442) trata da questão da liquidez (do mercado), que é mais tranqüila. Essa segunda MP (a 443) coloca dinheiro público em bancos, e haverá prejuízo para o contribuinte", criticou o líder do PPS. E, referindo-se à tramitação da MP 443, previu: "Vai ter dificuldade maior." O líder do PPS está elaborando o requerimento de criação de comissão externa, que deverá ser apoiado por outros partidos de oposição. "Queremos acompanhar de perto essas negociações para saber que nível de mico o governo vai pegar", afirmou Coruja.
Outro que foi enfático na reclamação e na crítica foi o líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP): "É uma desconsideração inaceitável com o Parlamento, que tem a responsabilidade de votar a medida provisória", afirmou. "O governo não quer fazer o jogo da verdade, mas da enganação, da dissimulação. Não quer compartilhar a conversa e o debate da crise", continuou. "Omitiram o fato do Parlamento. Entraram na contramão", disse Aníbal
Confiança
Nesta quarta-feira pela manhã, o líder tucano reclamou com o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Segundo Aníbal, Chinaglia já teria conversado por telefone com Mantega e telefonado para Meirelles, mas não teria encontrado o presidente do BC. Aníbal lembrou que, por algum tempo, Meirelles deixou a sessão de terça-feira da Câmara para ir ao BC. "Ele foi finalizar essa MP e foi incapaz de nos dizer", reclamou Aníbal. "Que confiança poderemos ter agora com Mantega e com Meirelles?", questionou o líder do PSDB. Ressaltou que os dois deixaram a Câmara quando o mercado já estava fechado, ou seja, a revelação não causaria impacto no sistema financeiro. A sessão de ontem em que foi debatida a crise começou às 14h59 e terminou às 21h43. Houve uma suspensão por 25 minutos.
Fernando Coruja disse que Meirelles e Mantega omitiram a MP mesmo ante uma pergunta explícita sobre o assunto na sessão de terça. "Eles negaram às 20 horas e editaram a MP às 21 horas", disse Coruja. "É um pouco de desrespeito e um grande motivo para nos preocuparmos", continuou o líder do PPS. Coruja afirmou que esse fato mostra que o governo está tentando passar uma visão otimista que é falsa. "Fica evidente que a crise contaminou o Brasil, e esse descolamento que o governo pretende passar não é verdade", afirmou Coruja.
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