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Há uma crença de que o mundo das startups é incrível, por acelerar a economia de qualquer país e propiciar um ambiente de trabalho genial, divertido e inovador. Isso leva muitos jovens e mesmo experientes profissionais a sonharem em trabalhar em uma delas para atingir uma rápida e fácil ascensão na carreira.

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Mas isso não pode ocultar a outra dura face vivida pelas startups e o árduo trabalho de fundadores para escalar o negócio e criar relevância para seus produtos. De acordo com as estatísticas da CB Insights, plataforma inteligente de análise de dados, nove de cada 10 startups em geral desaparecem e 70% dessas, que empreendem na área de tecnologia, morrem em até 20 meses após a primeira rodada de investimento.

O exacerbado romantismo criado em torno das startups tem criado alguns mitos a seu respeito. A seguir abordaremos cinco dessas crenças:

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1. Startups são sempre inovadoras e disruptivas

Nem sempre. No hall da fama das revolucionárias estão nomes como a Bluezup, primeira empresa a possibilitar que usuários testem produtos eletrônicos em suas casas antes de comprá-los, o que rapidamente pode transformar o tradicional mercado de varejo. A Contabilizei é outro fenômeno que tem reescrito a história do ultra regulado serviço de contabilidade.

No entanto, muitas startups nascem na sombra de outras com missão similar e comumente são denominadas “copycats”, uma versão “tropicalizada” do que muitas empresas, como Expedia, E-bay e Craigslist, são no mercado norte americano. Se você está buscando trabalhar ou investir em uma startup para ser parte de algo totalmente novo e revolucionário mundialmente, atente-se a este modelo nada inovador.

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2. Startups são a Disneylandia de adultos

Vídeo games, comida de graça, diversão, festas e pirotecnia. A maioria dos artigos relatando a vida em uma startup retrata um ambiente onde pelo menos um ou todos os “benefícios” são mostrados, muitas vezes ofuscando o árduo e espartano esforço de fundadores e funcionários na busca incessante de Product Market Fit (PMF), escala do negócio, captação de investimento, atração e retenção de talentos.

Isso leva à criação do mito de que a vida em uma startup é sempre um oba-oba, quando na verdade não é. O trabalho é pesado e aqueles que se encantam pela ideia de uma cultura do tipo Alice no país das maravilhas, quando passam pelo crivo das entrevistas, acabam tendo uma vida curta por ali. Trabalhar em startup não é como estagiar na Disney ou jogar golf. Assemelha-se mais com a fisionomia do seu vizinho ou amigo após experimentar um bootcamp pela primeira vez. Agora, para muitos, carregar um pneu de trator é pura adrenalina e prazer. Resta a você, caro leitor, escolher sua vocação.

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3. Você terá um salário menor

Depende muito da situação. Na maioria dos casos, as pessoas confundem salário base com pacote total de compensação. Muitas vezes o salário base em startups pode ser menor, no entanto o pacote total, que inclui bônus e participação acionária, as coloca em posição muito competitiva no mercado. Caso a empresa seja adquirida, esta pequena fatia na participação poderá representar mais dinheiro do que todos os seus amigos ganharam juntos em um ano trabalhando para uma grande empresa.

Escolher uma startup não significa apostar no salário base dos primeiros anos, mas uma aposta de risco tal qual a de investir no mercado financeiro por exemplo. Quanto maior o risco, maior a oportunidade de altos lucros ou maior a dor no caso de um eventual tombo.

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4. Startups são exemplos de cultura

A ideia de que “cultura é a personalidade coletiva de um time” por si só já indica que startups mais jovens ainda estão em processo de formação e, portanto ainda nem sequer apresentam uma cultura definida. O foco deve estar 100% centrado na obtenção de um PMF e garantir que produtos e serviços tenham ótima aceitação no mercado. A missão principal é sobreviver à guerra existencial que a maioria delas enfrenta.

Por outro lado, as “grandes startups” exigem cuidado. Algumas como Elo7, Contabilizei, dentre outras, são realmente fascinantes e com uma cultura muito potente, capaz de atrair os melhores talentos em suas áreas. Entretanto, nomes consagrados como Uber quase acabaram quando vieram a público os fatos que evidenciaram o quão tóxico era, na verdade, o ambiente de trabalho ali.

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5. Startup de sucesso são fundadas por jovens abaixo do 30 anos

O mais popular estereótipo de fundador de sucesso é aquele personificado por Mark Zuckberg, estudante em Harvard, business 100% focado em internet e bilionário antes dos 30 anos. A generalização daquele rótulo infelizmente leva muitas pessoas a crer que startup não é lugar de gente mais experiente e acima dos 40. Muitos acabam se achando velhos demais para começar seus negócios e fundar um novo business.

Uma recente pesquisa, conduzida por professores de duas renomadas instituições de ensino dos EUA ( MIT e Kellogg ), mostra que uma pessoa de 40 anos tem oito vezes mais chance de fundar uma startup de sucesso do que uma pessoa de 23 anos. Além disso, um fundador de 50 anos tem quase duas vezes mais chance de obter sucesso do que um de 30. Se você acha que seu tempo já passou para fazer algo novo, pelo que se prega por aí a respeito de o sucesso estar atrelado somente aos jovens empreendedores, chegou a hora de sair do lugar, chutar o balde e correr atrás de seus sonhos. Ainda dá tempo, muito tempo.

Precisamos desmistificar as ideias e convenções de que startups não pagam salários competitivos, de que são modelos quanto à formação de cultura e exemplos para grandes empresas que buscam inovar. A maioria das startups de sucesso são fundadas e geridas por experientes pessoas acima dos 40, que podem ser considerados os “novos trintões” quando a palavra é resultado.

Startups, assim como qualquer outra empresa de sucesso, são lugares onde autonomia, qualidade do ambiente e crescimento rápido não podem ser confundidos com um parque de diversão sem regras. Devemos nos espelhar não somente em startups, mas em qualquer outra empresa que acredite que a chave da perenidade está diretamente associada a um DNA central de reinvenção diária, promovido por pessoas exponenciais que não se conformam com o status quo.

O sucesso de uma empresa não está centrado em seu tamanho, pois todas as grandes um dia foram startups ao nascer. A vida em uma startup pode até ser um romance de final feliz, mas se parece mais com a biografia de gênios indomáveis como Steve Jobs e Leonardo da Vinci, cujas vidas foram marcadas por genialidade, engenho e arte, mas que também foram marcadas por rejeição e grandes fracassos, superados pela determinação e busca incessante da perfeição.

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O caminho para o sucesso é árduo e difícil. Trabalhando em uma startup, você pode percorrer esse caminho com propósito claro e, no final, conseguir ver o impacto de sua obra tangibilizado no mercado. Mas, a partir de hoje, sem ingênuas expectativas.

*Vinicius David é um executivo de tecnologia, um apaixonado por desenvolvimento de talentos e fanático por impulsionar inovação. Conheça mais sobre o autor no LinkedIn, no Facebook e no Instagram.