Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
análise

Os dois lados da retomada americana

Saguão da Bolsa de Nova York: avanço dos EUA afeta economia brasileira de diferentes maneiras | Brendan McDermid/Reuters
Saguão da Bolsa de Nova York: avanço dos EUA afeta economia brasileira de diferentes maneiras (Foto: Brendan McDermid/Reuters)

A recuperação da economia americana ganhou fôlego. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu mais forte do que se imaginava entre abril e junho, a taxa de desemprego está em queda e o combalido setor imobiliário, epicentro da crise de 2008, voltou a crescer, com novo ritmo de construção de residências. Os dados são positivos, mas terão impacto ambíguo na economia brasileira. A retomada favorece as exportações, mas também deve fortalecer o dólar, com reflexo o que pode gerar mais inflação e queda no ritmo de investimento estrangeiro por aqui.

"A retomada dos Estados Unidos muda o cenário para o país e não necessariamente terá impacto positivo", acredita João Basilio Pereima Neto, economista da Universidade Federal do Paraná. Segundo ele, o principal efeito da recuperação da atividade norte-americana deve ser o fortalecimento do dólar no mercado brasileiro – com a forte alta de sexta-feira, a moeda chegou a quase R$ 2,40, com alta de 17% desde o início do ano.

A provável alta da taxa de juros no mercado americano também deve voltar a atrair capital para os EUA, que antes vinha sendo absorvido pelos emergentes, como o Brasil. Com a procura maior por ativos em dólar, a moeda americana deve ganhar mais impulso. "Teremos, nos próximos dois anos, impacto no investimento estrangeiro direto, o que não é bom em um cenário de déficit nas transações correntes do país", afirma.

Segundo Lucas Dezordi, chefe do departamento de Economia da Universidade Positivo, a economia americana se recupera de maneira consistente. "Acredito em um crescimento anualizado de 2,5% a 3% para os EUA, o que deve manter o dólar entre R$ 2,30 e R$ 2,40, mais próximo desse último valor. O câmbio tem agora uma nova tendência", diz. Na avaliação dele, a retomada americana vai exigir um esforço maior da economia brasileira, especialmente em aumentar o superávit primário.

Do lado das exportações, porém, a recuperação dos EUA ainda não provocou reação positiva das vendas. De janeiro a julho de 2013, as vendas do Brasil para aquele país recuaram 15%, para US$ 13,7 bilhão, principalmente pela queda das vendas de petróleo. Óleo bruto, aviões, ferro, motores geradores, álcool e café são os principais produtos exportados para esse mercado.

Para o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fabio Martins Faria, a projeção é de uma melhora a partir de 2014. Os EUA já foram o principal importador de manufaturados do Brasil, mas a crise americana, o dólar mais baixo e a perda de produtividade da indústria brasileira acabaram por tirar o produto brasileiro do mercado americano.

A queda dos EUA foi acompanhada da ascensão da China, grande compradora das commodities brasileiras. No ano passado, os EUA responderam por 11% das exportações do Brasil, enquanto os chineses compraram 17% do total.

Fed terá novo comando

O presidente americano, Barack Obama, deve anunciar até o fim do mês quem substituirá Ben Bernanke no comando do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, cujas decisões tem o poder de chacoalhar a economia mundial. A troca ocorre em meio à recuperação da economia americana e à expectativa de que o governo comece a retirar os estímulos fiscais concedidos nos últimos anos para livrar a economia da crise.

A disputa, ao que tudo indica, está entre o ex-conselheiro econômico Larry Summers, 58 anos, aparentemente o preferido de Obama, e a atual vice-presidente do FED, Janet Yellen, 66. O escolhido toma posse em 31 de janeiro de 2014.

No cargo desde 2006, Bernanke foi o responsável pela emissão de bilhões de dólares para estimular a economia americana nos últimos anos, e é reconhecido por conduzir os EUA de volta ao rumo de crescimento, com uma política que favoreceu o aumento de produtividade das companhias locais. "Ele foi vital para economia americana nos últimos anos", diz Lucas Dezordi, da Universidade Positivo.

A emissão de moeda – estima-se que o Fed coloque US$ 1 trilhão no mercado por ano – contribuiu para desvalorizar o dólar e estimular a competitividade da economia americana e gerou valorização de diversas moedas, como o real.

Ao sinalizar que deve suspender o estímulo monetário (o que tende a elevar a taxa de juros americana), Bernanke levou diversos investidores a retornar aos EUA. Os economistas do Fed dizem que vão manter a atual política monetária até que determinados critérios sejam alcançados, entre eles a queda da taxa de desemprego para 6,5% e inflação anual de 2%.

Clique aqui e confira o infográfico em tamanho maior

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.