| Foto: Mauro Campos

Os mais belos do universo digital

Desire Strangelove, Lanai Jarrico e Xavier Nielson são três avatares que, a princípio, não têm nada em comum. A não ser que são todos lindos, muito próximos dos padrões de beleza física da sociedade ocidental. Lábios carnudos e magras, no caso das mulheres, altos e musculosos, no caso dos homens. A Postmaster Gallery, de Nova Iorque, exibe desde a semana passada pôsteres com os "13 Avatares mais Bonitos" – uma homenagem a Andy Warhol e seus filmes "13 Most Beautiful Boys" e "13 Most Beautiful Women". Como os personagens são na vida real, ninguém sabe. É quase certo, entretanto, que as 11 mulheres ultra-sexy que compõem a mostra são, na verdade, internautas homens.

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"Buenas, gaudério! Como estás?" O cumprimento gauchesco, por incrível que pareça, pode começar a ser usado por avatares, personagens virtuais que habitam o Second Life. O primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) da comunidade online foi inaugurado no último sábado – e por um paranaense! Bem, quase... Clediney Silva, jornalista que fundou o CTG virtual, é gaúcho de Dom Feliciano, mas mora no Paraná há quase três décadas. De sua casa em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, Silva começou a acessar o Second Life no fim de 2006 e se entusiasmou com o funcionamento da comunidade. "Na época, anunciavam como um jogo, mas o SL não tem um público gamer. É um ‘jogo da vida’... E sabe que se encontra mais solidariedade ali do que no mundo real?", frisa.

Quando explicava a natureza do Second Life a um amigo, dizendo que o universo virtual tinha "de tudo", Silva foi questionado: "Mas já tem CTG lá?". Foi o bastante para que o jornalista de 49 anos tivesse a idéia de montar a Estância Celeste Brasil, um lugar virtual em que os avatares podem encontrar fogo de chão, chimarrão e vestuário característico, além de conversar usando termos tipicamente rio-grandenses. Há um mês, portanto, o avatar de Claudiney, que atende pelo nome Bloguinho Bourgoin, trabalha duro para organizar o recém-inaugurado CTG. Não faltou a já mencionada solidariedade dos habitantes da "segunda vida". "A sede do centro foi construída por minha ‘vizinha’, dona de um clube no SL, que não cobrou nada", conta.

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O prédio do CTG virtual pode não ter custado um centavo, mas o resto exigiu um investimento de 100 mil lindens (a moeda local), ou cerca de R$ 770 na cotação de sexta-feira. "As roupas, como a bombacha, o lenço, a pilcha em si, e o vestido de prenda custaram 20 mil lindens (R$ 155); a cuia de chimarrão exigiu muita customização e custou 6 mil lindens (R$ 46)". Toda essa indumentária já está sendo vendida – inclusive em uma ilha virtual holandesa – por 490 lindens (R$ 3,80).

Medo das críticas dos tradicionalistas gaúchos, famosos pelo conservadorismo extremo? Claudiney e seu alter-ego Bloguinho já tiveram essa preocupação, mas resolveram a questão ao seguir "à risca as determinações do MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho)". "Não posso ter uma bombacha colorida nem colocar um palco de luzes dentro do CTG. Isso iria contra as normas do movimento", explica. Hélio Ferreira, secretário-geral do MTG, aprova: "Olha, tchê, achamos que a internet é um caminho natural. Incentivamos a iniciativa, que é bonita, e tenho certeza que o CTG vitual será um meio de propagar nossa cultura".

A inauguração que ocorreu no último sábado foi marcada por uma cavalgada, bandeira do Rio Grande do Sul em punho, pelas principais ilhas brasileiras do Second Life. Até a governadora Yeda Crusius havia sido convidada para a ocasião. "Penso na diversão e na disseminação da cultura, mas lá no fundo vejo a tecnologia e as possibilidades da Web 2.0", conclui Silva. Um empreendedor (real) do lazer, proporcionado por um universo virtual.