Lavoura de milho prejudicada pela seca no Oeste do Paraná: estado calcula perdas de R$ 30 bilhões na safra de grãos.| Foto: Gilson Abreu/AEN
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O otimismo em relação à economia no primeiro trimestre de 2022 está dando lugar à dúvida. Cinco fatores estão complicando um cenário que, até pouco tempo, era mais benigno.

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“As expectativas positivas persistem, mas arrefeceram”, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. E o motivo desta maior cautela não está relacionada só à política monetária mais restritiva – o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve promover, em fevereiro, um novo aumento na taxa básica de juro, a Selic, que está em 9,25% ao ano.

Outros fatores que estão pesando são a terceira onda da Covid-19, causada pela variante ômicron, que está afetando a mão de obra; a frustração de expectativas em relação à safra, causada pelos problemas climáticos no Sul e parte do Sudeste; a persistência na falta de matérias-primas e ao aumento nas tensões geopolíticas na Europa Oriental.

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“Há uma expectativa de que o primeiro trimestre do ano seja melhor do que o último de 2021”, diz Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos. Mas o cenário para o restante do ano é de um fraco desempenho da economia. O ponto médio (mediana) das projeções de crescimento da economia brasileira em 2022 está em 0,29%, segundo o relatório Focus, do Banco Central.

Confira a seguir cinco fatores que complicam a economia neste começo de 2022:

1. Política monetária cada vez mais restritiva

Os economistas do banco Inter apontam que os dados já conhecidos do 4.º trimestre de 2021 já sinalizam para uma estagnação da economia. E os impactos devem se acentuar nos próximos meses, já que estão projetados novos aumentos na taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 9,25% ao ano. O objetivo é o de tentar conter a inflação, que fechou acima dos dois dígitos em 2021. As expectativas para 2022 vem aumentando nas últimas semanas. Atualmente, o ponto médio das previsões no relatório Focus, do BC, está em 5,15%.

“O aperto monetário é o principal fator do baixo crescimento esperado para esse ano, mas alguns setores da economia ainda devem ter desempenho positivo”, diz relatório do banco. É o caso, segundo a análise, da agricultura e da indústria extrativa, ambas voltadas para a exportação.

Os dois segmentos devem ter crescimento neste ano, puxado pela demanda global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia mundial deverá crescer 4,89%.

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2. Explosão da ômicron afeta mão de obra

Uma das principais preocupações neste início de ano é com relação aos afastamentos de mão de obra causados pela variante ômicron do coronavírus.

“Acabou assustando o mercado. Estamos esperando o pico da contaminação no Brasil para as próximas semanas. O mercado tem mais clareza sobre as medidas de restrição", diz Gustavo Taborda, assessor da Phi Investimentos.

Empresas ligadas ao turismo estão entre as que mais estão sofrendo impactos. Um dos efeitos mais visíveis é o cancelamento de voos devido ao afastamento de tripulantes por causa da doença. Como alternativa, a Agência Nacional de Aviação Civil autorizou as três maiores companhias aéreas do país – Azul, Gol e Latam – a voarem com menos comissários.

“Já fomos impactados com muitas remarcações [de viagens] e até cancelamentos, uma vez que os viajantes não podem, e nem devem, embarcar pelas positivações que estão ocorrendo”, diz Rodrigo Rodrigues, diretor comercial da Schultz Operadora.

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O economista-chefe da Ativa vê uma situação diferente em relação à primeira e à segunda onda da pandemia. “Lá, o setor de serviços foi afetado pelo estabelecimento de restrições à mobilidade. Agora, o que está havendo é uma crise de credibilidade. Muitos não querem se expor ao risco.”

3. Frustração de expectativas no campo

Uma das expectativas no início do quarto trimestre do ano passado era a de alcançar o terceiro recorde consecutivo na produção de soja, um dos principais produtos de exportação brasileiros. “Os produtores vêm realizando investimentos no campo, como em material genético melhor, e expandiram a área em 2 milhões de hectares”, diz André Debastiani, da Agroconsult.

Porém, o cenário começou a mudar a partir de novembro, com a ação do fenômeno climático La Niña. Houve escassez de chuva no Centro-Sul. “Regiões chegaram a ficar até 50 dias sem chuva”, afirma. O cenário é mais severo no Oeste do Paraná e Santa Catarina, Rio Grande e Sul e Mato Grosso do Sul. Apenas no Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral), calcula que as perdas com a quebra de safra de grãos podem chegar a R$ 30 bilhões.

Os problemas reduziram a estimativa de produção nacional de soja para 134,2 milhões de toneladas, 7% abaixo das projeções pré-plantio, que eram de 144,3 milhões de toneladas.

Na divulgação da última expectativa de safra, no dia 11, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) promoveu um corte de quase 7 milhões de toneladas para a safra de grãos. Novos cortes devem vir, porque os dados da Conab contemplam apenas o período até 18 de dezembro.

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No Centro-Norte do país, a preocupação é com o excesso de chuvas. “Começa a prejudicar o potencial produtivo”, diz Debastiani.

Os problemas não se restringem à soja. A primeira safra de milho, responsável por 40% da produção brasileira, também foi afetada pelo clima. Segundo o especialista, há perdas consolidadas no Rio Grande do Sul.

A tendência é de que os preços da soja continuem pressionados no mercado internacional. O especialista da Agroconsult diz que os reflexos já são sentidos pela Bolsa de Chicago. Além das perdas no Brasil, há também problemas com as safras argentina e paraguaia. “Vamos ter um déficit entre a produção e o consumo.”

4. Falta de matérias-primas persiste

Sondagem realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a falta ou alto custo das matérias-primas continuam em primeiro lugar dos principais problemas enfrentados pela indústria. É o sexto trimestre seguido em que esse tópico ocupa a liderança do ranking das dificuldades setoriais.

O gerente de análise industrial da CNI, Marcelo Azevedo, diz que a falta de matéria-prima é um problema que parou de apresentar piora ao final de 2021, mas segue presente. “Ainda é um problema muito grave. A percepção dessa falta de matérias-primas ainda é muito generalizada.”

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Outro problema é que os preços das commodities voltaram a subir. Segundo economistas do banco Inter, após a contração na segunda metade de 2021, o cenário reverteu. “O que temos observado é uma retomada nos preços, em especial com maior demanda vinda da China pré-feriado do Ano Novo, enquanto a oferta segue limitada, com o período chuvoso no Brasil e a suspensão de atividade por conta da explosão de casos de Covid-19 ou greves mundo afora.”

A avaliação do banco é de que os fatores que vêm impulsionando a alta de insumos como papel e celulose, minério de ferro e petróleo devem arrefecer nos próximos meses, impactando os preços nos mercados internacionais e trazendo alívio, mas não sem antes manter alta a pressão inflacionária de curto prazo, prolongando a expectativa de redução na inflação global.

O otimismo é moderado na indústria. A expectativa de demanda, de exportação, de compra de matérias-primas e de número de empregados apresentaram pequenos aumentos em janeiro. No entanto, as expectativas positivas são menores do que no início de 2021.

5. Aumento das tensões geopolíticas

Um fator a se prestar atenção e que tem reflexos na economia neste início de 2022, segundo Morelli, da Davos Investimentos, é em relação ao aumento de tensão na Europa Oriental, na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia. Os russos não querem que a Ucrânia entre na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), nem que a aliança se expanda em direção ao Leste Europeu.

“Essa situação cria um ruído geopolítico muito grande”, diz o estrategista. Ele lembra que um eventual conflito pode ter consequências econômicas na Europa, já que a Rússia é o principal fornecedor de gás para o continente.

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A situação pode tornar mais caro o preço do combustível na região, que vive um momento de inflação elevada. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), países como a Alemanha e o Reino Unido estão com inflação próxima a 5% no acumulado dos últimos 12 meses.