As projeções para a economia pioram tão rápido que alguns analistas já se consideram otimistas por prever o fim da recessão em 2017. É o caso de Vagner Alves, economista-chefe da gestora de recursos Franklin Templeton, para quem o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 0,1% no ano que vem, um tanto abaixo da cadente expectativa média do mercado financeiro. “Para mim, 2017 é apenas um ano de transição, com um risco, longe de ser desprezível, de ainda termos uma leve recessão”, diz.
Alves trabalha com um cenário-base em que o ajuste fiscal vai avançar – com a reforma da Previdência sendo aprovada até meados do ano pela Câmara dos Deputados – e o Banco Central terá espaço para reduzir mais rapidamente a taxa básica de juros (Selic), levando-a a 9,75% ao ano até o fim de 2017. Hoje ela está em 13,75%.
Dentre os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central, Alves é um dos que mais acertam – desde agosto, lidera o ranking de projeções de curto prazo do IPCA. E, segundo ele, um dos fatores que devem ajudar o BC em sua tarefa de cortar os juros é justamente uma inflação mais comportada, próxima de 4,9% no acumulado de 2017, ainda acima do centro da meta (4,5%).
A queda da Selic, avalia o economista, é o único fator capaz de sustentar algum crescimento econômico em 2017. “Caso a gente tenha uma surpresa ruim no ajuste fiscal ou um evento político que afete esse ajuste, como o fim antecipado do governo Temer ou coisa do tipo, teremos aversão ao risco e desvalorização cambial. Nesse caso, o Banco Central não conseguirá reduzir a taxa de juros de maneira mais rápida, e caminharíamos para uma recessão em 2017.”
Confira trechos da entrevista que ele concedeu à Gazeta do Povo:
Ajuste fiscal
“O principal problema da economia é fiscal. O ajuste é fundamental para elevar o crescimento potencial do país, reduzir o prêmio de risco, trazer a inflação para o centro da meta, resgatar o poder de compra da população. O teto de gastos [promulgado na semana passada] é importante, mas não é suficiente. Porque o déficit da Previdência é crescente e, se ela não for reformada, ao longo dos anos esse déficit cobrirá todo o espaço das outras despesas até chegar ao ponto absurdo de o governo ter investimento zero.”
Reforma da Previdência
“Se a reforma não for feita agora, as gerações futuras serão penalizadas, porque infelizmente a conta não fecha. Reformar a Previdência não é fácil em nenhum país, e não será diferente aqui. Mas trabalho com um cenário em que até o meio do ano que vem o governo consiga aprová-la pelo menos na Câmara dos Deputados.”
Taxa de juros
“A taxa de juros ex-ante, ou seja, a taxa de um ano, descontada da inflação esperada para os próximos 12 meses, está em torno de 7%. A maioria dos estudos, simulações e regressões sugere uma taxa de juros de equilíbrio [que permite crescimento econômico e inflação estável] de 4,5% ou 5% ao ano. Acho que há espaço para nossa taxa rodar no campo expansionista [que estimula o crescimento econômico], ou seja, abaixo de 4,5%. Se chegarmos no fim do ano que vem com uma Selic de 10% e uma inflação de 4,5%, a taxa de juros real estará próxima do equilíbrio. Por isso vejo um espaço para uma queda maior. Acho que já em janeiro o Banco Central acelera a queda para 0,5 ponto por reunião.”
Crescimento
“Por muito tempo, projetei um crescimento de 0,5% para 2017. Depois, quando os indicadores de confiança começaram a mostrar uma recuperação forte, subi a projeção para 1%. Mas reduzi para 0,1% no começo de setembro, porque a alta da confiança ficou restrita às expectativas, sem melhora da situação atual, o que mais recentemente começou a comprometer as próprias expectativas. Vejo a política monetária [com redução dos juros] como único vetor de crescimento, principalmente para o segundo semestre de 2017 e para 2018.”
Limitações
“Do lado do consumo, as famílias e empresas estão muito endividadas. O desemprego deve continuar subindo até o terceiro trimestre do ano que vem, passando de 13%. As condições de crédito também não ajudam. Com o ajuste fiscal, os gastos do governo vão adicionar praticamente zero ao crescimento da economia. A contribuição do setor externo será marginalmente positiva, mas não o suficiente para alavancar algum crescimento, porque o Brasil continua sendo uma economia fechada e muito dependente do mercado doméstico. Quanto aos investimentos, não vejo espaço para crescimento. As concessões de infraestrutura podem contribuir um pouco. Mas quando você olha o nível de utilização da capacidade instalada da indústria, vê que está perto da mínima histórica. Quer dizer, com tanta ociosidade, por que a indústria vai investir, num momento em que a incerteza continua elevada?”
O QUE ESPERA O MERCADO
A expectativa média de bancos e consultorias para o crescimento do PIB de 2017 está caindo desde outubro, quando atingiu o pico de 1,3%. No início da semana passada, após oito quedas semanais seguidas, ela chegou a 0,7%. A projeção para a inflação tem se aproximado lentamente do centro da meta – a mais recente sugere um IPCA de 4,9% no acumulado do ano que vem. Quanto à taxa Selic, o mercado espera que ela recue para 10,5% até o fim de 2017.
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