BRASIL
Medida agrava crise cambial, diz governo
O anúncio nos EUA teve impacto negativo entre integrantes da equipe econômica brasileira, preocupados com o câmbio. O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, criticou duramente o Fed, argumentando que a injeção de recursos na economia americana irá agravar a crise cambial e prejudicar seus parceiros comerciais. "É uma política de empobrecimento do vizinho. A consequência sempre é retaliação. Aí você tem esse câncer que é o protecionismo", disse Barral. Uma das consequências que as medidas do Fed devem ter é a desvalorização do dólar, o que reduz ainda mais a competitividade do Brasil no comércio exterior. Barral defendeu que a solução para o problema cambial seja discutida entre vários países com isso, admitiu que as recentes medidas do governo brasileiro não resolverão sozinhas o problema.
Com analistas reticentes sobre a eficácia do plano, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) anunciou que vai comprar US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro americano para tentar reestimular a maior economia mundial e deixou aberta a possibilidade de ampliar o programa.
Divulgado num dia de indicadores positivos para a economia norte-americana, o pacote veio num tamanho próximo ao que indicavam as expectativas do mercado. A bolsa de Nova York, que nas últimas semanas vinha subindo na expectativa do anúncio, fechou os negócios de ontem praticamente estável, com leve alta de 0,24%.
O alvo da medida é reduzir os juros de longo prazo os de curto prazo já estão próximos de zero e ajudar consumidores e empresas a conseguirem taxas menores, movimentando a economia. O problema, apontam economistas, é que as grandes empresas já têm acesso a crédito barato e isso não se refletiu na aceleração da economia nem na queda do desemprego, que dobrou após a recessão e beira os 10%. Os preços são outra preocupação do Fed porque, com o ritmo fraco da economia, existe o risco de deflação, fazendo surgir o temor de que os EUA repitam o cenário vivido pelo Japão nos últimos anos.
A compra de US$ 600 bilhões o equivalente a 4% do PIB dos EUA em 2009 estará centrada em títulos com mais de quatro anos e vai durar até junho de 2011. Além disso, o Fed continuará investindo na compra de títulos do Tesouro usando papéis lastreados em hipotecas que estão vencendo, como anunciou em agosto. Juntos, os dois programas representam de US$ 850 bilhões a US$ 900 bilhões aplicados em títulos do Tesouro. Esta é a segunda rodada de compra de papéis pelo Fed. A primeira, de dezembro de 2008 a março de 2010, totalizou US$ 1,7 trilhão e serviu para estabilizar a economia.
Bolha emergente
Alguns economistas dizem que o novo estímulo para a economia será modesto, com os exportadores sendo beneficiados pela provável queda do dólar. Para Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, os EUA precisam de cortes de impostos e alta de gastos do governo. Outros alertam para a possibilidade de disparada da inflação e da criação de bolhas de ativos, especialmente nos mercados emergentes.
Essa também é a avaliação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para a entidade, que reúne os países mais ricos, as medidas do Fed podem ser o elemento que faltava para o risco da formação de tal bolha, além de empurrar ainda mais para cima o valor das moedas dos emergentes. Segundo a OCDE, as injeções de recursos anteriores já estavam sendo escoados para economias emergentes (e não investidos nos EUA), num movimento que deve ganhar ainda mais força agora.
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