O pacto fiscal alinhavado na última sexta-feira pelos países da União Europeia, na reunião de cúpula de Bruxelas, é a alternativa que os países europeus têm a oferecer ao desafio de sustentação de seu projeto integracionista. Com seu viés recessionista, é difícil acreditar que o plano possa efetivamente ajudar a mitigar a crise que se espalha pelo continente.
A Europa está, definitivamente, no centro da crise econômica global que vem se desenvolvendo de maneira particularmente dramática nos últimos cinco anos. Não se trata de uma crise especificamente europeia, mas global. Uma crise de proporções tão consideráveis que não poupa sequer a economia mais importante do planeta, a dos Estados Unidos, de seus efeitos nefastos. Mas é na Europa do euro que se situa, atualmente, o epicentro da crise, o que coloca em risco o mais ambicioso projeto político de integração socioeconômica do planeta.
O projeto de integração europeu, iniciado na década de 1950 com o Tratado de Roma, conheceu um salto qualitativo decisivo com a assinatura do Tratado de Maastricht (1992). Por esse novo Tratado, a Europa superou a ideia tradicional de integração meramente comercial, lançando as bases para a construção de uma verdadeira unidade político-social e econômica entre os países do continente. Mas todo processo integracionista é complicado, pois exige uma série de consensos muitas vezes difíceis de ser alcançados. Em tempos de crise, tais consensos se tornam quase impossíveis: os governos nacionais tornam-se insensíveis aos dilemas dos vizinhos.
É essa a situação em que a Europa se encontra desde 2009, com o desencadeamento do colapso econômico da Grécia. Com as finanças públicas em frangalhos, o governo grego perdeu a capacidade de sustentar a expansão econômica do país. Falido, buscou auxílio junto aos demais membros da União Europeia. O problema é que o descontrole das contas públicas não era exclusividade da Grécia. A bem dizer, esse é um mal endêmico na atual economia mundial, que afeta outros países europeus e também no resto do mundo. O socorro prestado à Grécia fatalmente serviria de referência para as crises financeiras que logo se manifestariam em outras economias da região.
O pacto fiscal alinhavado na última sexta-feira pelos países da União Europeia, na reunião de cúpula de Bruxelas, é a alternativa que os países europeus têm a oferecer ao desafio de sustentação de seu projeto integracionista. Esse pacto deverá servir de base para o enfrentamento de novos desdobramentos da crise econômica e financeira em outros países da região. Contudo, o modelo de ajustamento financeiro previsto no pacto fiscal é no mínimo controverso. Com seu viés recessionista (amplamente apoiado pelo FMI), é difícil acreditar que o plano possa efetivamente ajudar a mitigar a crise que se espalha pelo continente.
Carlos-Magno Esteves Vasconcellos é professor de Economia Política Internacional do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.
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